A pandemia de AIDS tem sido devastadora, tirando uma vida a cada minuto em todo o mundo. No entanto, à medida que os líderes mundiais se preparam para se reunir na Assembleia Geral da ONU, que acontece em Nova York entre 19 e 25 de setembro em um momento de múltiplas crises, quando a esperança pode parecer escassa, a resposta ao HIV oferece aos líderes mundiais a oportunidade de um extraordinário avanço global.
Embora a esperança pareça escassa, a resposta ao HIV oferece às lideranças mundiais a oportunidade de alcançar uma conquista global extraordinária. Existe um caminho que pode pôr fim à AIDS como uma ameaça à saúde pública até 2030, e as decisões das lideranças neste ano podem colocar o mundo nesse caminho.
Conhecemos bem esse caminho, que já está sendo trilhado, com sucesso, por alguns países. Por exemplo, Botsuana, Essuatíni, Ruanda, Tanzânia e Zimbábue alcançaram as metas “95-95-95”. Isso significa que nesses países, 95% das pessoas vivendo com HIV conhecem seu status sorológico, 95% das pessoas que sabem que vivem com HIV estão em tratamento antirretroviral, e 95% das pessoas em tratamento têm carga viral suprimida.
Além disso, mais 16 países estão próximos de atingir essas metas. Quando a carga viral de uma pessoa está suprimida, o HIV torna-se indetectável no corpo e, além de não evoluir para a AIDS, fica intransmissível para outras pessoas, o que nos aproxima do fim da AIDS.
Globalmente, os dados do UNAIDS mostram que 29,8 milhões das 39 milhões de pessoas vivendo com HIV estão recebendo tratamento, algo que era apenas um sonho duas décadas atrás.
Por trás de cada estatística estão vidas de pessoas aptas para viver plenamente e sem medo.
Um exemplo é Hanni Dlamini, de 50 anos, que recebeu o diagnóstico de HIV aos 20 anos em Essuatíni. Ele não teria ultrapassado 30 anos se não estivesse em tratamento antirretroviral.
Outro exemplo são as mães que conheci recentemente na Tanzânia, vivendo com HIV, que me apresentaram suas crianças nascidas sem o vírus. Isso representa a promessa e o progresso da resposta ao HIV.
No entanto, apesar desse progresso, nosso trabalho ainda não está concluído. Milhões de pessoas não estão recebendo tratamento, incluindo 43% das crianças vivendo com HIV.
Centenas de milhares de pessoas ainda se infectam com o HIV anualmente, embora seja prevenível.
Em uma pandemia, enfrentando um vírus mortal, não há espaço para o “quase” sucesso – ou para o sucesso apenas de algumas pessoas. A realidade é que permitir que as desigualdades persistam acaba enfraquecendo a resposta para todas as pessoas.
É por isso que em todo o mundo ecoa o pedido às lideranças globais, que se reunirão na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, para que tomem as medidas necessárias para colocar o mundo no caminho para pôr fim à AIDS. Seguir esse caminho não apenas permitirá que as lideranças acabem com a AIDS, mas também nos ajudará a evitar que novos surtos se tornem pandemias.
O sucesso da resposta global à AIDS está fortalecendo a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a saúde (ODS 3), ao mesmo tempo que contribui para o progresso em outros objetivos, como qualidade na educação (ODS 4), igualdade de gênero (ODS 5) e redução das desigualdades (ODS 10).
Investimentos em agentes comunitários de saúde e apoio a reformas políticas que protegem os direitos humanos e reduzem as desigualdades estão ajudando a promover a saúde, o bem-estar e a segurança de todas as pessoas.
Abordagens multissetoriais pioneiras desenvolvidas e implementadas na resposta à AIDS, que permitem que as comunidades liderem e aproveitem todo o governo, estão fortalecendo ainda mais programas e políticas em saúde e desenvolvimento.
O movimento de resposta à AIDS é um dos maiores ativos para o progresso global. Garantir o fim da AIDS não é uma alternativa ao investimento em outros problemas, mas sim, a chave para superar esses desafios.
Está evidente o que as lideranças precisam fazer para que o mundo fique no caminho para acabar com a AIDS e sustentar seus ganhos no futuro. Os esforços para acabar com a AIDS têm sucesso quando são ancorados em uma forte liderança política, seguem as evidências, enfrentam as desigualdades que impedem o progresso, capacitam as comunidades e organizações da sociedade civil em seus papéis vitais na resposta, e são apoiados por financiamento suficiente e sustentável.
O caminho que põe fim à AIDS requer colaboração entre países do sul e do norte, governos e comunidades, o sistema das Nações Unidas e os Estados-membros.
As crises dos últimos anos, desde a pandemia de Covid-19 até guerras e outros desafios, trouxeram choques que tornaram mais difícil alcançar o fim da AIDS e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mas não impossível. O sucesso está ao nosso alcance.
O fim da AIDS como ameaça à saúde pública é um legado excepcionalmente poderoso para as lideranças de hoje.
Elas podem agir para salvar milhões de vidas enquanto protegem a saúde de todas e todos nós. Podem, também, ser lembradas pelas gerações futuras como aquelas que garantiram as políticas, programas e investimentos que puseram fim à pandemia mais mortal do mundo, ajudaram a preparar o mundo para pandemias futuras e possibilitaram a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O caminho que põe fim à AIDS não é um mistério. É uma escolha política e financeira. Vamos seguir esse caminho juntos.
Winnie Byanyima
Diretora executiva do UNAIDS e subsecretária-geral das Nações Unidas
Este texto foi publicado originalmente no Mail & Guardian.