Às vésperas do Dia Mundial de Luta contra a AIDS (1º de dezembro), o UNAIDS chama os governos de todo o mundo a liberar o poder das comunidades locais para liderar a luta pelo fim da AIDS.
Em seu novo relatório, chamado “Comunidades Liderando“, o UNAIDS chama a atenção para o papel crucial desempenhado pelas comunidades na resposta ao HIV e como a falta de financiamento e a existência de barreiras prejudiciais estão impedindo seu trabalho salvador de vidas e, com isso, criando obstáculos para acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública até 2030.
“As comunidades em todo o mundo mostraram que estão prontas, dispostas e capazes de liderar o caminho para acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública. Mas é necessário que as barreiras que obstruem seu trabalho sejam derrubadas que elas sejam devidamente financiadas”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva da UNAIDS. “Com frequência, as comunidades são tratadas por quem tem poder de decisão como problemas a serem gerenciados, em vez de serem reconhecidas e apoiadas no seu papel de liderança. As comunidades não são um entrave: elas iluminam o caminho para o fim da AIDS.”
O relatório, lançado em Londres em evento organizado pela organização da sociedade civil STOPAIDS, mostra como as comunidades têm sido a força motriz do progresso.
O documento mostra como a atuação das comunidades, desde o trabalho nas ruas até ação em tribunais e parlamentos, garantiu mudanças inovadoras nas políticas relacionadas à AIDS. A mobilização das comunidades ajudou a abrir e garantir o acesso a medicamentos genéricos para o HIV. Isto resultou em reduções acentuadas e sustentadas no custo do tratamento, de US$ 25.000 por pessoa, por ano, em 1995, para menos de US$ 70, em muitos países mais afetados pelo HIV, hoje.
“Somos o veículo para mudanças que podem acabar com injustiças sistemáticas que continuam a alimentar a transmissão do HIV. Vimos desenvolvimentos inovadores como o I=I (Indetectável igual a Intransmissível), melhoria no acesso a medicamentos e avanços significativos contra a descriminalização”, ressalta Robbie Lawlor, cofundador da ONG Access to Medicines Ireland.
Ele continua: “Ainda assim, quem tem poder de decisão espera que sejamos capazes de mover montanhas sem apoio financeiro. Espera que lutemos por um mundo mais equitativo e que acabemos com o estigma. Apesar disso, somos marginalizados em discussões cruciais. Estamos em um ponto de virada. As comunidades não podem mais ser relegadas à periferia. O tempo para a liderança é agora.”
Em seu relatório, o UNAIDS faz uma chamada às lideranças globais para:
O documento traz, ainda, nove ensaios de lideranças comunitárias, nos quais compartilham suas experiências sobre as conquistas que alcançaram, as barreiras que enfrentam e o que o mundo precisa para acabar com a AIDS como uma ameaça à saúde pública.
Apesar da nítida evidência do impacto liderado pela comunidade, elas não recebem o devido reconhecimento, são subfinanciadas e, em alguns lugares, até mesmo tornam-se alvo de ataques. Repressões à sociedade civil e aos direitos humanos de comunidades marginalizadas estão obstruindo suas capacidades de fornecer serviços de prevenção e tratamento do HIV.
A falta de financiamento para iniciativas lideradas pela comunidade as deixa lutando para continuar operando e as impede de expandir. Se esses obstáculos forem removidos, as organizações lideradas pela comunidade podem adicionar ainda mais ímpeto para acabar com a AIDS.
Na Declaração Política de 2021 sobre o fim da AIDS, os Estados-membros das Nações Unidas reconheceram o papel crucial das comunidades na prestação de serviços de HIV, especialmente para pessoas mais expostas ao vírus. No entanto, enquanto em 2012 mais de 31% do financiamento do HIV era canalizado por meio de organizações da sociedade civil, 10 anos depois, em 2021, apenas 20% do financiamento para o HIV estava disponível — um retrocesso sem precedentes em compromissos que custou e continua a custar vidas.
“A cada minuto, uma vida é perdida para a AIDS. A cada semana, 4.000 meninas e jovens mulheres são infectadas pelo HIV. Dos 39 milhões de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo, 9,2 milhões não têm acesso ao tratamento que salva vidas”, reforça Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS no Brasil. “O relatório do UNAIDS mostra que existe um caminho que põe fim à AIDS, que pode acontecer até 2030, mas apenas com as comunidades liderando” finaliza.