O Dia Mundial da AIDS é um momento para homenagear mais de 40 milhões de vidas perdidas por doenças relacionadas à AIDS, fazer um balanço da resposta à AIDS e comprometer-se a acabar com de AIDS.
Esta semana, lançamos o relatório Desigualdades Perigosas. Nele, chamamos a atenção do mundo para uma realidade alarmante: não estamos no caminho certo para acabar com a AIDS até 2030, e a causa são as desigualdades.
Mas há uma boa notícia: garantindo equidade já, podemos acabar com a AIDS.
Para isso, existem três passos importantes.
Na África subsaariana, meninas adolescentes e mulheres jovens têm três vezes mais probabilidade de serem infectadas pelo HIV do que meninos e homens da mesma idade. O fator determinante é a desigualdade.
Permitir que meninas permaneçam na escola até completarem o ensino médio reduz sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV em até 50%. Quando incluímos uma educação sexual abrangente e outras medidas para o empoderamento das meninas, este risco é reduzido ainda mais. É por isso que 12 países do continente africano se uniram na Iniciativa Mais Educação, apoiada pelas Nações Unidas para tornar esta intenção uma realidade
Além disto, devemos combinar serviços de saúde sexual e reprodutiva com serviços de prevenção e resposta à violência sexual e de gênero e ao HIV. Estes serviços devem ser projetados para servir a todas as mulheres e meninas, em toda a sua diversidade.
A discriminação contra as pessoas marginalizadas está prejudicando a resposta ao HIV. Globalmente, homens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) têm 28 vezes mais probabilidade de serem infectados pelo HIV. O risco é de 35 vezes para pessoas usuárias de drogas injetáveis; 30 vezes para profissionais do sexo e 14 vezes para mulheres trans.
Não vamos acabar com a AIDS a menos que possamos acabar com ela para todas as pessoas.
A evidência é nítida: quando se descriminaliza, as pessoas se apresentam para os serviços. A descriminalização salva vidas.
Aqui estão dois exemplos:
Na África do Sul, onde as relações entre pessoas do mesmo sexo são permitidas por lei, homens gays têm 60% mais probabilidade de viver com o HIV. Em Uganda, entretanto, onde as relações entre homens gays são criminalizadas, a probabilidade para eles sobre a 240%.
Na Tailândia, onde as relações entre pessoas do mesmo sexo são permitidas por lei, homens gays têm 11 vezes mais probabilidade de viver com o HIV do que outros homens. Na Malásia, por outro lado, as relações entre homens gays são criminalizadas, e isto aumenta sua probabilidade de infecção pelo HIV em 72 vezes.
Existem boas notícias, entretanto.
Há um impulso crescente da Ásia à África e ao Caribe para descriminalizar as relações entre pessoas do mesmo sexo. Nos últimos anos, isso aconteceu na Angola, Butão e Botsuana. Mais recentemente, em São Cristóvão e Névis, Singapura, Antígua e Barbuda.
Em 68 países, estas leis ainda existem. Temos de mandar estas leis prejudiciais e coloniais para a história.
Não precisamos apenas descriminalizar, precisamos combater o estigma, que é um julgamento da sociedade sobre as pessoas pelo que elas são. E o estigma mata.
É fundamental acabar com o estigma das pessoas que vivem com o HIV e das comunidades marginalizadas. Precisamos do envolvimento de todas as lideranças políticas, religiosas, tradicionais e culturais.
Levantem-se. Busquem equidade.
Uma desigualdade que me parte o coração é aquela contra as crianças que vivem com o HIV. Com a ciência que temos hoje, nenhum bebê deveria nascer com HIV e nenhuma criança que tenha HIV deveria ficar sem tratamento. Mas, hoje, enquanto três quartos de pessoas adultas que vivem com o HIV estão em tratamento, apenas metade das crianças estão. Isto é intolerável.
Não permitiremos que esta vergonhosa e evitável injustiça continue. É por isso que as Nações Unidas, parcerias internacionais, a sociedade civil e os governos dos 12 países com os maiores encargos se uniram e formaram a Aliança Global para acabar com a AIDS em crianças. Estamos nos movendo. A Tanzânia será a sede do lançamento oficial da Aliança no início do próximo ano.
Por fim, mas igualmente crucial: para acabar com a AIDS, devemos enfrentar as desigualdades em termos de recursos.
A crise da COVID-19 e a guerra na Ucrânia aumentaram as desigualdades em todo o mundo. Todos os dias, os países do G20 recebem 136 milhões de dólares em reembolsos de dívidas de países pobres do hemisfério sul. Enquanto isso, nestes países, o pagamento da dívida é quatro vezes maior do que o investimento em saúde e o dobro do que é investido em educação.
Em meio a uma crise de dívida, austeridade e desigualdade que atinge os países em desenvolvimento, alguns países ricos reduziram a ajuda para a saúde global e estão considerando cortes ainda mais robustos.
Isto não é correto. Agora não é o momento de dar passos para trás, mas, sim, de seguirmos adiante.
Temos de lembrar: é por meio da solidariedade internacional que reduzimos as desigualdades no financiamento e obtivemos ganhos surpreendentes contra a AIDS, incluindo trazer mais de 28 milhões de pessoas para tratamentos que salvam vidas. E devemos completar o trabalho.
No Dia Mundial da AIDS, o UNAIDS se une às pessoas vivendo com HIV e comunidades ao redor do mundo em um chamado compartilhado à ação: Equidade Já!
Vamos garantir a equidade de acesso aos direitos, aos serviços, aos recursos e à melhor ciência e medicina.
É dessa forma que vamos acabar com a AIDS.
O texto original, em inglês, pode ser conferido aqui.