Ativistas alertam que atrasos no acesso a medicamentos injetáveis de longa duração para o HIV podem custar vidas

Na Conferência Internacional sobre AIDS em Montreal (AIDS 2022), que ocorreu entre 29 de julho e 2 de agosto, a empresa farmacêutica que produz o cabotegravir (CAB-LA), ViiV Healthcare, comprometeu-se a compartilhar sua tecnologia e garantir um preço acessível para o cabotegravir injetável de ação prolongada. O anúncio gerou expectativa internacional, na medida em que o CAB-LA demonstrou ser uma ferramenta segura e eficaz de prevenção do HIV. Após 100 dias do anúncio, lideranças globais de saúde dizem que há uma necessidade urgente de que a ViiV dê os próximos passos fundamentais.

A ViiV comprometeu-se durante a Conferência em Montreal em reduzir o preço do CAB-LA para um grupo de países de baixa e média renda. No entanto, a farmacêutica ainda não informou qual será este novo preço. Ativistas que atuam no campo do HIV/AIDS defendem que o preço anual por pessoa precisa ser equivalente ao da PrEP oral, na faixa das dezenas de dólares, e não de centenas de dólares. Vários governos e agências financeiras indicaram interesse em comprar o CAB-LA para a PrEP se o medicamento for oferecido por um preço acessível. Ativistas demandam à ViiV que compartilhe de forma rápida e transparente os detalhes dos preços planejados.  

“A ViiV Healthcare precisa anunciar publicamente um plano de preços provisório, que priorize a acessibilidade a fim de que os países e os órgãos responsáveis pelas aquisições possam se planejar e comprar em larga escala”, disse Yogan Pillay, diretor nacional da The Clinton Health Access Initiative na África do Sul. “Os governos e outras entidades compradoras só vão adquirir medicamentos injetáveis  de longa duração para o HIV em escala se estes forem acessíveis e se existir um cronograma claro sobre quando estarão disponíveis.”  

Embora o compromisso da ViiV de facilitar a produção genérica de CAB-LA por meio de um acordo com o Medicines Patent Pool (MPP) para uso em 90 países seja importante, especialistas sobre HIV estão pedindo à ViiV uma expansão de países habilitados a produzir o medicamento genérico a fim de acelerar o progresso no fornecimento do produto às pessoas que mais precisam. Pelo compromisso atual, 90 países de média e baixa renda estão habilitados, o que exclui dezenas de outros países de média renda, entre os quais alguns com altas taxas de infecção pelo HIV. Expandir a lista de países ajudaria a incentivar a produção genérica, ampliando o tamanho potencial do mercado.

“A ViiV Healthcare deveria permitir a produção e fornecimento de medicamentos genéricos em todos os países de média e baixa renda”, disse Lilian Mworeko, diretora-executiva da International Community of Women Living with HIV East Africa (Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV na África Oriental, em tradução livre para o português). “Qualquer coisa menos do que isso poderia significar que milhões de pessoas que precisam desses produtos não terão acesso a eles nos próximos anos. Cada dia de atraso representaria um fracasso na prevenção do HIV e nos afastaria ainda mais da meta de acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública até 2030”, completa.

Matthew Kavanagh, diretor-executivo adjunto do UNAIDS, chama a atenção para o fato de que na Conferência sobre AIDS em Montreal, a ViiV deu os primeiros passos importantes para permitir que esta nova e poderosa ferramenta de prevenção chegasse a muitas pessoas. Mas ele defende que agora é hora de a ViiV tomar medidas corajosas e adicionais. “Estas medidas incluem assegurar o registro junto às agências de medicamentos em todos os países com altas taxas de HIV, anunciar o menor preço e expandir o número de países permitidos no mercado de medicamentos genéricos. Ações corajosas da ViiV neste momento podem ajudar a salvar milhões de vidas”, finaliza.

O texto original, em inglês, pode ser conferido aqui.

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