Mais de 25% da população mundial tem entre 10 e 24 anos— e em algumas partes do hemisfério sul a proporção é de 66% ou mais. Esta é uma geração que se encontra entre curiosidade, perguntas e preocupações sobre seus “eus” sexuais e reprodutivos emergentes e os controles, restrições e condições impostas por leis, políticas e práticas comunitárias.
Paralelamente à Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre AIDS, um grupo de jovens ativistas, representantes governamentais e especialistas se reuniu em um evento virtual no dia 10 de junho para discutir os Fatos da Vida: Juventude, Sexualidade e HIV.
A reunião, coorganizada pelo UNAIDS e a Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF), trouxe à tona a urgência da ação. Cerca da metade de todas as novas infecções pelo HIV no mundo inteiro ocorre entre jovens de 15 a 24 anos, sendo que mulheres jovens têm o dobro da probabilidade de serem infectadas. Mundialmente, as doenças relacionadas à AIDS são a segunda principal causa de morte entre jovens (de 10 a 24 anos de idade) e a causa mais comum de mortalidade de jovens na África.
A nova Estratégia Global para AIDS 2021-2026 destaca a necessidade urgente de capacitar a juventude para construir a resposta de hoje e liderar a resposta de amanhã ao HIV para esse público e suas comunidades. Nipun Srivastava, jovem ativista indiano contra o HIV, apontou os desafios futuros. “Temos uma meta ambiciosa para acabar com a AIDS até 2030, mas isso não é possível com estas políticas retrógradas sobre sexo e sexualidade”. Perdemos muitas pessoas nos anos 80 e 90 porque não falávamos sobre sexo.”
Os esforços para ajudar a juventude a atingir seu potencial na vida pública precisam ser espelhados em sua vida privada e íntima. Alvaro Bermejo, diretor geral da IPPF, enfatizou a conexão entre o bem-estar físico e emocional de adolescentes (incluindo quem vive com HIV)— e suas sociedades— e o acesso a informações e serviços sexuais e reprodutivos precisos e adequados à idade, permitindo-lhes evitar gravidez indesejada, aborto inseguro, infecções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV, e todas as formas de violência e coerção sexual.
E, ainda assim, a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos da juventude continuam sendo altamente controversos. “Case-in-point é a própria Reunião de Alto Nível sobre AIDS”, disse Shereen El Feki, diretora da equipe de apoio regional do UNAIDS para o Oriente Médio e Norte da África. “Algumas das negociações mais controversas, e o recuo dos Estados-membros, sobre a Declaração Política das Nações Unidas sobre a AIDS foi sobre saúde sexual e reprodutiva e direitos e educação sexual abrangente.”
As pessoas ouviram que os mesmos governos elogiaram as iniciativas sobre emprego ou engajamento cívico da juventude, muitas vezes declinaram quando tentam trazer o mesmo espírito de empoderamento da juventude para o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e de direitos da juventude ou educação sexual. Amery Browne, ministro das Relações Exteriores e da CARICOM para Trinidad e Tobago, falou sobre o delicado ato que governos enfrentam ao equilibrar as forças conservadoras e as vozes juvenis, e estimulou todas as pessoas que trabalham por uma maior abertura a continuar sua luta.
Entre as pessoas participantes está Nadia Abdalla, secretária administrativa chefe do Ministério das TIC, Inovação e Juventude do Quênia. Nadia falou sobre os esforços de seu país para ajudar a juventude a se organizar e se mobilizar por seus direitos, incluindo a capacidade de prevenir ou viver com o HIV. Já nos Estados Unidos, a ativista Ponny White descreveu seu trabalho com Advocates for Youth (Advogando pela Juventude, na tradução livre para o português), uma organização não-governamental que faz lobby junto aos governos estaduais para uma reforma legal que permita que a juventude tenha acesso a seus direitos sexuais e reprodutivos plenos. “Jovens estão vivenciando encontros sexuais que não compreendem porque alguém está lhes apresentando”, advertiu, “Queremos equipar a juventude com ferramentas e educação para que possam ter autonomia e ter uma vida plena”, finaliza.
A internet é uma dessas ferramentas de empoderamento. Abir Sarras, cofundadora da Love Matters Arabic (O Amor Importa – Arábico, na tradução livre para o português), uma plataforma pioneira de mídia social que atinge milhões de jovens em todo o Oriente Médio e no Norte da África, apontou a importância do sexo— mensagens positivas— enfatizando os prazeres, em vez de apenas os problemas, associados ao sexo — como um meio fundamental de comunicação com a juventude. Mas o acesso online não chega a várias pessoas dessa população—Stefania Gianinni, diretora geral de educação da UNESCO, descreveu os sucessos e retrocessos enfrentados na implementação da orientação das Nações Unidas sobre educação sexual abrangente nos currículos escolares. “Não há pílula do conhecimento que possamos dar para a juventude”, disse ela. “Mas a educação, de mãos dadas com o acesso a serviços favoráveis é a ferramenta mais poderosa para acabar com a AIDS como uma ameaça à saúde pública e dar direitos às novas gerações.”