UNAIDS lança webdocumentário ‘Luz, Câmera, Zero Discriminação’ sobre formação audiovisual de pessoas trans e travestis

Como parte das celebrações do Dia da Visibilidade Trans, o UNAIDS lança o webdocumentário Luz, Câmera, Zero Discriminação, financiado pelo M·A·C AIDS Fund, com apoio da Coordenação de Políticas para LGBTI+ da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e produção da Brodagem Filmes. O webdoc retrata as quatro semanas do curso em audiovisual realizado com 16 pessoas trans e travestis entre 27 de fevereiro e 28 de março de 2018 em São Paulo. 

A formação foi composta por dez encontros, que aconteceram no Centro de Cidadania LGBTI+ Luiz Carlos Ruas. Ao longo do curso, os participantes aprenderam fotografia, sonorização e produção, além de roteiro, pré-produção, direção, fotografia, filmagem, edição e pós-produção. Ao final de cada parte teórica, os participantes colocaram em prática o conteúdo aprendido. A produtora Brodagem Filmes foi selecionada para montar e conduzir o treinamento. 

O objetivo do projeto foi contribuir para a redução do estigma e da discriminação em relação às pessoas trans e travestis e abrir espaços para que elas possam se apropriar das mídias sociais e de outras plataformas audiovisuais, fomentando também o acesso a esse mercado.  

“Esta é uma população que ainda tem muito pouca representatividade nas mídias, até mesmo na internet, onde esperamos encontrar um espaço mais democrático e inclusivo. Infelizmente a realidade não é esta para as pessoas trans e travestis”, explica Georgiana Braga-Orillard, Diretora do UNAIDS no Brasil. “O curso foi um projeto inovador que trouxe elementos práticos para que os alunos se apropriassem das mídias, tanto diante quanto por trás das câmeras, e pudessem mostrar sua realidade através do seu próprio olhar.” 

A discriminação em relação a pessoas trans e travestis ainda causa muitas vítimas no Brasil, seja pela violência física e psicológica, ou mesmo pela marginalização que esta população sofre, algo que também pode resultar em mortes. Nos serviços de saúde, por exemplo, estudos apontam que o estigma e a discriminação são capazes de afastar as pessoas dos cuidados necessários para uma boa saúde. Relatórios recentes do UNAIDS apontam que travestis e mulheres trans têm até 49 vezes mais chances de se infectar pelo HIV ao longo da vida quando comparadas com a média das pessoas com vida sexualmente ativa. Globalmente, estima-se que 19% das mulheres trans e travestis vivam com HIV. Dados mais recentes do Ministério da Saúde estimam que entre 18% e 31% das travestis e pessoas trans no Brasil estejam vivendo com HIV. Na população em geral, prevalência do HIV é de 0,4%.  

“Dar voz e espaço para as pessoas trans e travestis é contribuir para o fim desta marginalização, que as leva para longe dos serviços de saúde”, conclui Georgiana. “Esperamos que elas inspirem outras pessoas e que também encontrem oportunidades para viver uma vida digna e produtiva.”  

Assim como mais de 200 cidades em todo o mundo, São Paulo é uma das signatárias da Declaração de Paris, que prevê um compromisso de Aceleração da Resposta ao HIV para alcançar, entre outros objetivos, as metas 90-90-90, propostas pelo UNAIDS: até 2020, 90% das pessoas estimadas com HIV diagnosticadas; ter 90% destas em tratamento antirretroviral; e ter 90% deste grupo com carga viral indetectável—quando a quantidade de vírus circulando no organismo é tão baixa que a chance de transmissão do HIV para outra pessoa é praticamente zero 

“Só o fato da gente sair de casa, ocupar a rua com uma câmera de filmagem, com um boom (microfone), e as pessoas pararem e verem que quem está atrás de uma câmara é uma trans, quem está segurando o boom é uma trans, quem está fazendo um claquete é uma trans, quem está atuando é uma trans, isso já é uma grande realização, uma grande conquista”, diz Samara Sosthenes, uma das participantes do projeto.   

Outro participante, Gael Morais, destaca a importância de ouvir o que a população trans e travesti tem a dizer. “O importante é o que a gente quer dizer, o que a gente gostaria de falar. Isso é importante, não o que perguntam pra gente, porque as perguntas são sempre as mesmas. E a gente não quer mais responder as mesmas perguntas”, diz ele no filme. 

Para Camila Biau, uma das facilitadoras do curso e sócia da Brodagem Filmes, selecionada para a condução dos treinamentos e produção do webdocumentário, o projeto reuniu “talentos incríveis, pessoas com ideias maravilhosas que só precisam de oportunidade para poder executar.”  

Produções dos participantes 

Para a realização dos projetos de conclusão do curso, a turma foi dividida em três grupos, que produziram dois curtas ficcionais—(R)Existir (vídeo-poesia que aborda com delicadeza e força a marginalidade imposta às travestis) e Somos Todxs Humanxs (vídeo repleto de ironia que mostra uma realidade hipotética na qual as pessoas trans e travestis são a maioria dominante). Também foi produzido um vídeo documental —TransMasculinidades (que questiona o que é masculinidade na percepção da sociedade e de alguns participantes do curso, fazendo um paralelo entre homens cis e homens trans). Veja os quatro vídeos produzidos na playlist abaixo:

Teaser Bandeira 

Além do webdocumentário, os participantes do curso se uniram para a produção de uma campanha para redes sociais—chamada Bandeira—alertando as pessoas sobre a importância da representatividade trans no audiovisual. Este último vídeo foi inspirado no filme Trans 102, produzido em inglês pela Refinery29, uma empresa de entretenimento e mídia digital focada em mulheres jovens, em parceria com a MAC Cosmetics.

Confira o webdocumentário completo aqui:

Galeria de fotos

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