A Organização Mundial da Saúde divulgou recentemente seu Relatório Global sobre Tuberculose de 2018 (disponível em inglês aqui). Embora mostre casos encorajadores de progresso na resposta à tuberculose (TB) e ao HIV em algumas áreas, o relatório apresenta um quadro desfavorável para acabar com a epidemia dupla até 2030.
A epidemia de HIV é relativamente recente, foi identificada pela primeira vez no início dos anos 1980, mas a tuberculose existe há milhares de anos. Arqueólogos acreditam que a tuberculose afetou os antigos egípcios, podendo ter afetado o próprio Rei Tutankhamon.
Muitas pessoas famosas adoeceram ou morreram devido à tuberculose ao longo dos anos, como John Keats, Frédéric Chopin, Charlotte e Emily Brontë, Nelson Mandela e Franz Kafka. No início do século XX, supostas curas para a tuberculose incluíam descansos ao ar livre em sanatórios durante um dia inteiro, banhos gelados e dietas de até 12 refeições por dia com leite e vinho, além da permanência em estábulos, onde o calor e a amônia emitidos pela urina dos animais eram supostamente um bálsamo para os pulmões infectados.
O tratamento médico efetivo para TB tornou-se disponível em meados de 1940 e mudou pouco desde então. A medicação atual, embora tóxica e antiquada, é incrivelmente eficaz e relativamente barata. No entanto, encontrar pessoas com TB para tratar e garantir que elas permaneçam no tratamento é particularmente urgente para as pessoas vivendo com HIV.
A Organização Mundial da Saúde estima que em 2017 havia cerca de 10 milhões de pessoas com tuberculose ativa, das quais 9% vivendo com HIV. Entre as 10 milhões de pessoas, aproximadamente 3,6 milhões (o que corresponde a 36%), estão ‘ausentes’, o que significa que podem não ter sido diagnosticadas ou tratadas adequadamente. Entre as pessoas vivendo com HIV, a diferença é maior, chegando a 49%.
As pessoas vivendo com HIV com tuberculose latente têm cerca de 20 vezes mais chance de desenvolver tuberculose ativa. A tuberculose, quando não tratada, é rapidamente fatal entre as pessoas vivendo com HIV.
Menos de 60% das pessoas vivendo com TB são examinados para TB, impedindo o tratamento e resultando em mortes evitáveis. A tuberculose é a infecção que mais mata em todo o mundo e a principal causa de mortes de pessoas vivendo com HIV, sendo responsável por uma em cada três mortes relacionadas à AIDS. Em 2017, cerca de 1,6 milhão de pessoas devido à tuberculose, incluindo 300 mil pessoas vivendo com HIV.
É possível alcançar muitos avanços melhorando a colaboração entre os programas de HIV e TB, incluindo investimentos em diagnósticos, vacinas e medicamentos, medicina preventiva e remédios para tratar a tuberculose, incluindo TB multirresistente.
No entanto, são necessários mais compromisso, investimento e ação.
Estima-se que, em 2018, são necessários US$ 10,4 bilhões para uma resposta efetiva à TB nos 118 países de baixa e média renda, que correspondem a 97% dos casos registrados mundialmente. O montante real disponível em 2018 foi de US$ 6,9 bilhões—um déficit de US$ 3,5 bilhões.
Para uma resposta ao HIV efetiva, o UNAIDS estima que serão necessários US$ 26,2 bilhões para a resposta à AIDS em 2020. Em 2017, estavam disponíveis US$ 21,3 bilhões em países de baixa e média renda—um déficit de cerca de US$ 5 bilhões. Somente preenchendo as lacunas de financiamento, o fim da epidemia começa a se tornar uma realidade.
Com cerca de 1,7 bilhão de pessoas, ou 23% da população mundial, infectada com tuberculose latente, das quais 5-10% têm chance de desenvolver tuberculose ativa, o mundo precisa tomar medidas urgentes.
No dia 26 de setembro, líderes mundiais se reunirão nas Nações Unidas em Nova York, nos Estados Unidos, para a primeira Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre Tuberculose. Como a tuberculose ocupa uma posição de destaque neste dia importante, o mundo tem a oportunidade de definir algumas metas ousadas para acabar com dois dos principais causadores de doenças infecciosas no mundo: a TB e o HIV.
Aproveitar essa oportunidade não só pode impedir que mais de 6 mil pessoas morram todos os dias devido à TB e ao HIV, mas pode evitar novas infecções e melhorar a saúde global, ajudando a reduzir a pobreza e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.