O UNAIDS anunciou hoje o apoio a duas ONGs de Porto Alegre que acolhem pessoas vivendo com HIV/AIDS e que foram fortemente afetadas pelo desastre climático no Rio Grande do Sul.
As ONGs “Somos – Comunicação, Saúde e Sexualidade” e “Casa Fonte Colombo” têm uma longa e reconhecida trajetória de atenção e atendimento a esta população, cuja vulnerabilidade foi ampliada em consequência do desastre ambiental. Ambas as organizações sofreram com a inundação de suas instalações, mas se adaptaram rapidamente, com o apoio de pessoas voluntárias, para continuar operando.
Muitas das pessoas e famílias atendidas pelas ONGs perderam seus locais de moradia e, dada a situação de extrema vulnerabilidade que se encontram, têm limitada sua capacidade de acessar os medicamentos de uso contínuo, como os antirretrovirais, para controle do HIV.
Também precisam lidar com dificuldades logísticas para fazer o acompanhamento médico ou acessar recursos de prevenção do HIV, como a Profilaxia pré-exposição (PrEP) e Profilaxia pós-exposição (PEP).
Neste contexto, além do apoio humanitário de emergência, as organizações apoiadas pelo UNAIDS identificaram a urgência de trabalhar o tema da saúde mental com as pessoas e famílias afetadas, diante do enorme desafio de reconstrução que terão pela frente.
O projeto da ONG Somos busca dar apoio emergencial em atendimento psicossocial para pessoas LGBTQIA+ e vivendo com HIV/AIDS, por meio de grupos fixos de pessoas voluntárias que circularão por 15 abrigos na região metropolitana de Porto Alegre.
Nessas visitas, será feita busca ativa de pessoas LGBTQIA+ (com foco em travestis e pessoas trans) e pessoas vivendo com HIV/AIDS, proporcionando atendimento especializado. Também haverá um diálogo com as equipes atuando nos abrigos, voluntárias ou não, para responder a dúvidas e melhorar o atendimento nos temas de gênero, sexualidade e HIV/AIDS.
“Como parte do projeto apoiado pelo UNAIDS, vamos produzir um guia emergencial com informações necessárias para o bom atendimento dessas duas populações em situações de emergência humanitária, para ser distribuído no maior número de abrigos possível”, diz Caio Klein. “Também vamos disponibilizar vales-transporte de ida e volta, para viabilizar o acesso de pessoas LGBTI+ e vivendo com HIV/AIDS em maior vulnerabilidade a serviços de saúde, assistência e justiça que estejam distantes dos abrigos”, completa.
A ONG Casa Fonte Colombo, por sua vez, vai oferecer espaço de atenção terapêutica, individual e em grupo, para as 140 famílias de pessoas vivendo com HIV/AIDS atendidas pela organização. Segundo levantamento interno, 15 dessas famílias foram fortemente afetadas, com suas casas tomadas pela enchente. Elas uma ajuda humanitária de emergência composta por um “kit casa”, com roupas de cama e banho, utensílios de cozinha e material de limpeza, além de cestas de alimentos.
“Junto com a participação nos grupos terapêuticos, vamos acompanhar a adesão ao tratamento do HIV, conferindo a situação dos exames de carga viral, o atendimento às datas de consultas agendadas e a retirada dos medicamentos nas unidades de saúde. A continuidade do tratamento do HIV é uma condição para o recebimento do kit casa e cesta de alimentos”, explica Frei José Bernardi, coordenador da Casa Fonte Colombo. “A questão não é puramente prestar ajuda humanitária, mas realmente garantir que estas pessoas e famílias vivendo com HIV mantenham sua saúde, mesmo em uma situação tão difícil como a que vivemos no Rio Grande do Sul”, finaliza.
Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS no Brasil, destaca que o trauma e o estresse provocados pelo desastre ambiental impactam fortemente a saúde mental de todas as pessoas afetadas e é amplificado para quem vive com HIV/AIDS, aumentando o impacto da depressão e ansiedade. A insegurança alimentar e a desnutrição resultantes da interrupção das cadeias de suprimentos alimentares são ameaças adicionais ao bem-estar e à saúde imunológica, intensificando os desafios enfrentados por quem está vivendo com HIV/AIDS e outras IST.
“As enchentes no Rio Grande do Sul destacam a importância crítica de garantir a continuidade do
tratamento do HIV/AIDS de todas as pessoas, mesmo em meio a situações emergenciais”, diz Claudia
Velasquez. “A ação coordenada de todos os níveis de governo, junto com ONGs, empresas e a
comunidade internacional, e especialmente com as organizações e voluntariado local, é fundamental
para certificar o apoio imediato às comunidades e populações afetadas, garantindo que ninguém fique
para trás”, conclui.