No sol típico de Fortaleza, quinta maior cidade do Brasil, um grupo de ativistas juntou-se em 1988, para criar a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS no Ceará (RNP+ CE), a fim de garantir que pessoas vivendo com HIV na capital cearense pudessem ter garantidos o direito ao acolhimento, à adesão ao tratamento e ao atendimento jurídico.
Atualmente, a ONG oferece, também, encontros sobre cidadania posithiva, oficinas educativas, apoio à prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (IST) e outras atividades para mais de 1.000 pessoas cadastradas. Entre elas, está Carlos Salmão, ativista atuando em Fortaleza, que se sentiu acolhido individual e coletivamente pela organização. “Este acolhimento é muito importante para as pessoas vivendo com HIV daqui do Ceará, porque é uma referência de luta que ajuda muitas pessoas, inclusive a mim, e, por isso, sinto prazer em contribuir”, explica.
A RNP+ CE foi uma das cinco ONGs contempladas com recursos do edital Fast-track Cities, lançado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS). O projeto “Pessoas Vivendo com HIV/AIDS e Gestores: Diálogos PositHIVos Para Melhorar os Indicadores” desenvolveu ações ao redor de dois objetivos: aumentar a vinculação e a adesão ao tratamento do HIV por meio da disseminação e compartilhamento de informação com profissionais de saúde e sociedade em geral e aumentar o conhecimento da estratégia Indetectável igual a Intransmissível (I = I) na cidade de Fortaleza pela realização de duas campanhas de comunicação.
No âmbito do projeto apoiado pelo edital Fast-track Cities foram realizadas oficinas para a criação de uma campanha de comunicação implementada por 10 ativistas vivendo com HIV e um seminário que contou com a participação de 120 pessoas da sociedade civil. O seminário “Diálogos Posithivos sobre Adesão e Tratamento” pode, a partir da visão de pessoas usuárias dos serviços de saúde de Fortaleza, apresentar à gestão municipal possíveis melhorias no atendimento para pessoas que vivem com HIV, além de debater sobre a importância e desafios locais para uma boa adesão ao tratamento para evitar o abandono.
Também foi feita a atualização da cartilha “E Agora, o que eu faço? HIV, autoestima e saúde”, que traz informações práticas para pessoas que recebem o diagnóstico positivo para o HIV. Além disso, em articulação com a gestão municipal, a RNP+ CE imprimiu e distribuiu mais de três mil exemplares de cartazes sobre adesão ao tratamento HIV e sobre o I = I. Este material foi exposto em locais de grande concentração de público, como os terminais de ônibus de Fortaleza, por onde passam, diariamente, 1,1 milhão de pessoas.
A participação da gestão pública foi fundamental para o êxito do projeto, na medida em que o poder público municipal, por estar mais próximo da população, entende de forma mais direta a realidade local e os desafios existentes. “Ainda estamos longe de atingir um nível ideal em que haja menor necessidade de reforçar estas ações [sobre HIV], mas estamos avançando nesta direção por meio de ações constantes e bem estruturadas”, diz Carlos Paiva, coordenador de IST/AIDS da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza.
Ariadne Ribeiro, oficial do UNAIDS de Igualdade e Direitos para Todas as Pessoas, esteve em Fortaleza e participou do seminário “Diálogos PositHIVos sobre Adesão e Tratamento”. “Foi super gratificante ver como o diálogo com a gestão municipal caminha na busca de um objetivo comum, que é o aprimoramento das políticas públicas em Fortaleza para pessoas vivendo com HIV e para acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública”, finaliza.
Segundo dados do Ministério da Saúde, Fortaleza atingiu em 2022, o índice de 91,7% de supressão viral, resultado abaixo da meta 95-95-95 estipulada pelo UNAIDS como a ideal para que a resposta ao HIV seja acelerada e que seja possível acabar com a AIDS até 2030. Os dados públicos mostram resultados preocupantes, pois em 2022 o número de diagnósticos tardios e de doenças avançadas com CD4 menor que 200 chegou a 54,1%.
Vando Oliveira, coordenador da RNP+ CE, reforça a importância de um trabalho integrado para as pessoas que vivem com HIV na cidade. “Ações como a garantia de acesso ao tratamento, concessão de transporte público gratuito às pessoas vivendo com HIV, articulação e garantia da segurança alimentar, proteção social e expansão de serviços de saúde para reduzir o tempo de consulta evitam o abandono do tratamento e asseguram uma maior adesão para essas pessoas”, ressalta.
O lançamento do Edital Fast-Track Cities teve o objetivo de apoiar financeiramente cinco projetos desenvolvidos por Organizações da Sociedade Civil (OSC) que atuam na resposta ao HIV em algumas das 15 cidades brasileiras participantes da iniciativa Fast-Track Cities, selecionadas pelo UNAIDS como prioritárias, com base nos dados do Boletim Epidemiológico HIV/AIDS 2021, do Ministério da Saúde.
A iniciativa Fast-Track Cities é uma parceria global entre municípios e quatro parcerias principais – a Associação Internacional de Provedores de Cuidados com a AIDS (IAPAC), o UNAIDS, o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) e a Cidade de Paris.
Abaixo, o UNAIDS apresenta o vídeo desenvolvido sobre o projeto “Pessoas Vivendo com HIV/AIDS e Gestores: Diálogos PositHIVos Para Melhorar os Indicadores”, em Fortaleza.