Performances e narrativas culturais utilizadas como ferramentas contra o ódio e o preconceito: este é o foco do Festival Bixanagô, um encontro de música, política e artes que promove a diversidade, a criatividade e a potência da comunidade negra, periférica e LGBT+, que aconteceu em São Paulo, entre os dias 21 e 23 de março.
Dança, música, performance e tantas outras estéticas da cultura Hip Hop e da cultura Ballroom, protagonizados por jovens, negros e periféricos compuseram o festival. A organização do evento definiu o Bixanagô como um festival de artes e música integradas. “Com linguagens diversas, influenciadas pelo rap, reggae, funk, twerk e outros gêneros musicais, jovens do país inteiro têm produzido músicas, performances e estéticas que abrem—e por vezes forçam—portas para a discussão sobre gênero, sexualidade e desejos em becos, vielas e salões”, explica a organização do evento.
O UNAIDS foi um dos apoiadores do Festival. O diretor interino do escritório no Brasil, Cleiton Euzébio de Lima, participou do bate-papo ‘HIV e LGBTI+: o que eu tenho a ver?’, um momento de diálogos sobre HIV, infecções sexualmente transmissíveis e comunidades negra e LGBTI+, com presença de Elida Miranda (Fundo Posithivo), Micaela Cyrino (Coletivo Amem) e mediação de Bixanagô.
“É fundamental termos espaços como esse para discutir como as intersecções do racismo e a LGBTIfobia vulnerabilizam a comunidade negra LGBTI+ frente a epidemia do HIV, e também quais estratégias devem ser construídas para que os avanços obtidos na resposta à epidemia no campo da prevenção e do tratamento possam beneficiar de maneira equitativa essa população”, destaca Lima. “O desafio para garantir que ninguém seja deixado para trás na resposta ao HIV e na questão dos direitos humanos é grande, mas acreditamos que ouvir a voz e as expressões dessa comunidade, apoiando espaços como esse do Bixanagô, são caminhos muito importantes para a construção de soluções, ideias e iniciativas inclusivas e eficazes.”
População negra e HIV
A população negra é considerada como uma das populações prioritárias para a resposta ao HIV por apresentar vulnerabilidades aumentadas devido à situação de vida ou contextos históricos, sociais e estruturais, como define o Ministério da Saúde na Agenda estratégica para ampliação do acesso e cuidado integral das populações-chaves em HIV, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis, lançada em dezembro de 2018 pelo Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (DIAHV).
Segundo o Boletim Epidemiológico de HIV 2018, também do Ministério da Saúde, 51,5% dos casos de infecção pelo HIV no Brasil entre 2007 e junho de 2017 ocorreram em pessoas pretas e pardas e 47,6% em brancas. Quando distribuídos proporcionalmente os óbitos relacionados à AIDS notificados em 2017 por raça/cor, observam-se 60,3% das mortes entre negros (46,6% pardos e 14,1% pretos) e 39,2% entre brancos. A proporção de óbitos entre mulheres negras foi superior à observada em homens negros: 63,3% e 58,8%, respectivamente.