Os Estados-Membros das Nações Unidas se comprometeram a implementar uma agenda ousada para acabar com a epidemia de AIDS em 2030, durante a Reunião de Alto Nível da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre o Fim da AIDS, realizada em Nova York (EUA), de 8 a 10 de junho.
A nova Declaração Política, classificada como progressista e implementável, inclui um conjunto de metas e ações específicas, com prazo definido, que devem ser alcançadas até 2020 se o mundo se comprometer com a Aceleração da Resposta e acabar com a epidemia de AIDS até 2030 no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
A Reunião de Alto Nível sobre o Fim da AIDS foi convocada pelo Presidente da Assembleia Geral e co-facilitada por Suíça e Zâmbia. Na abertura, o Presidente da Assembleia Geral, Mogens Lykketoft, incitou os Estados-Membros a se comprometerem com a ação.
“A partir de agora, todas as partes interessadas devem assumir as suas responsabilidades. Hoje é o dia que nós, coletivamente, dizemos que vamos acabar com a epidemia de AIDS até 2030” disse Lykketoft em seu discurso de abertura. “Temos de prestar mais atenção à igualdade e à inclusão, defender os direitos humanos e falar contra o estigma e a discriminação.”
Durante a plenária de abertura, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, lembrou como a resposta à AIDS tem sido uma “fonte de inovação e inspiração”, e o Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, delineou os progressos realizados nos últimos anos, destacando que 17 milhões pessoas têm acesso atualmente ao tratamento antirretroviral e que o mundo tem registrado quedas significativas tanto no número de mortes relacionadas à AIDS quanto no de infecções por HIV em crianças.
“Pela primeira vez na história, podemos dizer que, na África, há mais pessoas iniciando o tratamento do HIV do que novas infecções pelo vírus”, disse o Sidibé. Ele também destacou a importância da inclusão, dizendo que
“As portas do Organização das Nações Unidas devem ser aberta a todos. “
Entre muitos dos representantes da sociedade civil que participaram e falaram na reunião, Loyce Maturu, uma jovem que vive com o HIV do Zimbabwe, compartilhou, durante a plenária de abertura, sua história inspiradora a sobre como foi crescer vivendo com HIV. “Quero que as pessoas jovens que vivem com HIV sejam capazes de realizar os seus sonhos e esperanças para o futuro”, disse ela.
Ndaba Mandela, neto de Nelson Mandela, falou apaixonadamente sobre a experiência de sua própria família com o HIV e incitou todos os presentes a se unirem para acabar com a AIDS em 2030. “Eu estou aqui para pedir-lhes que continuem o legado do meu avô, Nelson Mandela: um legado de unidade e de liderança.”
Além das sessões plenárias em torno de 600 participantes, incluindo 10 chefes de Estado e de Governo e mais de 60 ministros, pessoas que vivem com HIV, representantes da sociedade civil, representantes de organizações internacionais e do setor privado, cientistas e pesquisadores participaram de cinco painéis oficiais e mais de 30 eventos paralelos para traduzir a nova Declaração Política 2016 sobre o Fim da AIDS em ações e resultados.
Os cinco painéis oficiais abordaram os seguintes temas:
Os participantes pediram por acesso a serviços abrangentes de educação sexual e de redução de danos, bem como pelo fortalecimento de atividades para as mulheres jovens, garotas adolescentes e populações-chave, incluindo homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis, pessoas trans e pessoas privadas de liberdade, assim como migrantes.
Durante a Reunião de Alto Nível sobre o Fim da AIDS, anúncios importantes foram feitos em apoio ao fim da epidemia até 2030.
Os Estados Unidos anunciaram o lançamento de um novo fundo de 100 milhões de dólares (Fundo de Investimento em Populações-Chave) para aumentar o acesso aos serviços de HIV entre profissionais do sexo, homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis, pessoas trans e pessoas privadas de liberdade. O novo fundo vai se concentrar na redução do estigma e da discriminação, na capacitação de liderança comunitária para concepção e prestação de serviços e, também, na melhora de qualidade dos dados sobre as populações-chave.
Yusuf K. Hamied, presidente da empresa farmacêutica indiana Cipla, anunciou um pacote de ajuda aos países africanos para facilitar a produção local de medicamentos na África.
O UNAIDS e o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Combate à AIDS (PEPFAR) divulgaram um relatório final sobre os progressos realizados desde o lançamento do Plano Global para a eliminação de novas infecções pelo HIV entre crianças até 2015, mantendo suas mães vivas, durante a última Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unida sobre o HIV e AIDS, em 2011.
Houve uma queda de 60% em novas infecções pelo HIV entre as crianças desde 2009 nos 21 países da África Sub-Saariana que foram mais afetados pela epidemia. Para somar ao enorme progresso feito em parar as novas infecções pelo HIV entre as crianças, UNAIDS, PEPFAR e parceiros lançaram um marco para acabar com a AIDS entre crianças, adolescentes e mulheres — Comece livre, Fique Livre, Livre da AIDS.
A iniciativa define objetivos ambiciosos para eliminar novas infecções entre crianças, garantir o acesso ao tratamento a todas as crianças vivendo com HIV e prevenir novas infecções pelo vírus entre adolescentes e mulheres jovens, a fim de colocar o mundo em no caminho para acabar com a epidemia de AIDS entre estas populações.
Também durante a Reunião de Alto Nível, Armênia, Bielorrússia e Tailândia se juntaram à Cuba ao receber certificados oficiais de validação da Organização Mundial da Saúde pela eliminação de novas infecções por HIV entre as crianças. A Tailândia é o primeiro país com uma grande epidemia de HIV (450 000 pessoas vivendo com HIV em 2014) a receber essa validação.
Foram realizados igualmente eventos dentro de uma agenda mais ampla de saúde, incluindo o debate sobre lições aprendidas da resposta a epidemias emergentes, como AIDS, ebola e zika, a capacitação de meninas adolescentes e mulheres jovens para o acesso a serviços de cuidados de saúde integrados – esse último liderado pela Organização das Primeiras Damas Africanas contra o HIV/AIDS (Organisation of African First Ladies against HIV/AIDS).
Durante a semana do encontro, vários eventos de apoio aconteceram em toda Nova York. O prefeito de Nova York, Bill De Blasio, e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, reuniram cerca de 30 prefeitos na Biblioteca Pública de Nova York para discutir como eles estão acelerando a resposta para acabar com a AIDS nas cidades. Eles também compartilharam como as cidades inteligentes estão implementando inovações urbanas para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Em parceria com a agência de notícias Xinhua, um painel luminoso mostrando as ações do UNAIDS na Aceleração da Resposta para acabar com a AIDS ganhou destaque na icônica Times Square. Houve também um serviço inter-religioso e uma série de eventos que incidiram sobre a importância da participação das mulheres em cargos de liderança na resposta à AIDS.
Na véspera da Reunião de Alto Nível sobre o Fim da AIDS, o designer de moda e presidente do conselho amfAR, Kenneth Cole, foi nomeado Embaixador Internacional da Boa Vontade do UNAIDS. A Embaixadora Internacional do UNAIDS, Annie Lennox, também participou de diversos eventos ao longo da semana.