Esse texto faz parte de uma série de publicações preparada pelo UNAIDS para o lançamento do Relatório Global para AIDS 2022. A série completa está disponível aqui.
“A PrEP é realmente fundamental para mim, pois meu parceiro vive com HIV e não podemos manter sempre o uso do preservativo”, reconhece Hay Seiha, uma das mais de três mil pessoas que começaram a tomar Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) no Camboja.
Ele recebe o medicamento nos fins de semana, para que não interfira com seu trabalho em uma empresa de marketing. “Para mim, a PrEP é fácil de tomar e não tive nenhum efeito colateral. Posso fazer meu trabalho diário como de costume enquanto tenho alguma proteção extra contra o HIV”, acrescenta ele.
Já se passou mais de uma década desde que o medicamento de ação preventiva do HIV que salva vidas, a PrEP, mostrou sua eficácia, mas a implantação global tem sido lenta. O Camboja é uma das poucas nações que recentemente expandiram o acesso à PrEP para todo o país.
Kret Setha, que trabalha na Clínica de Saúde da Família Tuol Kork Health Center, em Phnom Penh, capital do Camboja, explicou como muitas pessoas novas aderiram à PrEP depois de terem visto campanhas nas mídias sociais ou porque foram encaminhadas por alguma organização de base comunitária.
“Nossa clínica não exige que as pessoas passem por um guichê de registro para que possam entrar e procurar os conselheiros diretamente para os serviços de triagem e PrEP”, explica.
Confidencialidade, horários flexíveis e serviços adaptados para as populações-chave têm sido fundamentais para atrair novas pessoas interessadas na PrEP.
Thearo (sobrenome não informado) tinha ouvido falar da clínica por meio dos seus colegas de trabalho em uma casa de massagem masculina. Ele veio à clínica para fazer um check-up de HIV e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Após uma sessão de aconselhamento, decidiu experimentar o novo medicamento.
“Tenho muitos clientes sexuais devido à natureza do meu trabalho, portanto a PrEP ajuda a prevenir a infecção pelo HIV quando a tomo regularmente”, diz. Ele aguarda com expectativa a PrEP de longa ação, seja por via oral ou por injeção, pois tem medo de esquecer de tomar suas pílulas.
Segundo Ouk Vichea, diretor do Centro Nacional de HIV/AIDS, Dermatologia e ISTs, 70% das pessoas inscritas para receber a PrEP são homens que fazem sexo com homens, seguidos por mulheres trans e mulheres profissionais do sexo. O centro tem liderado a implantação da PrEP junto com o UNAIDS, Organização Mundial da Saúde (OMS), FHI 360/ Projeto EpiC, ONGs e várias organizações de base comunitária. “A meta da PrEP no Camboja é ter 10 mil pessoas com adesão até 2023”, diz o Dr. Vichea.
Entretanto, apesar dos esforços do país, a COVID-19 atrasou a distribuição da PrEP e impediu o governo e parceiros de organizar eventos de lançamento, treinamentos e workshops para prestadores de serviços e pessoas potencialmente interessadas.
Dois desafios principais permanecem: atrair novos pessoas interessadas e mantê-las na PrEP.
Para o Dr. Setha, o aconselhamento de qualidade é um elemento importante para que mais pessoas se inscrevam e se mantenham fiéis na adesão à PrEP.
“Dar seguimento com um telefonema e fornecer um feedback amigável e imediato a perguntas e consultas faz toda a diferença”, diz.
Até agora, a maioria das pessoas fazendo uso da PrEP vive em Phnom Penh. Por isso, o UNAIDS e seus parceiros têm trabalhado lado a lado na implantação do projeto, na atenção às necessidades em termos de capacidade e implementação em outras províncias.
“Para gerar demanda pela PrEP, ajudamos organizações lideradas pela comunidade a aumentar a conscientização entre as populações-chave por meio das mídias sociais, eventos especiais e de alcance pessoal”, explica Polin Ung, consultor de intervenção estratégica do UNAIDS no Camboja.
“Não tem sido fácil. Os prestadores de serviços nem sempre se mostram interessados em distribuir a PrEP e nem sempre as pessoas aderem, mas as mentalidades estão mudando.”
Ele acredita que a intervenção baseada em evidências ajudou o Camboja a adotar a implantação da PrEP muito rapidamente. Agora é uma questão de aceitação local e de criação de demanda.
“O envolvimento da comunidade no projeto, incluindo a entrega e expansão dos serviços PrEP, é a chave para seu sucesso a longo prazo.”
Em 2021, mais de 1,6 milhão de pessoas em todo o mundo estavam recebendo PrEP oral. O número de pessoas que usaram a PrEP pelo menos uma vez durante o período coberto pelo relatório aumentou aproximadamente duas vezes, de 820 mil, em 2020, para 1,6 milhão, em 2021. O aumento do uso da PrEP em 2021 ocorreu apesar da pandemia da COVID-19 e representa uma continuação do aumento no uso da PrEP desde 2016, embora esta adesão permaneça bem abaixo da meta de 2025, que é de 10 milhões de pessoas.
Até recentemente, o uso da PrEP estava concentrado em países de alta renda. Nos últimos dois anos, no entanto, houve uma aceitação acentuada da PrEP na África Oriental e Austral. Em 2021, a África do Sul, Quênia e Zâmbia impulsionaram a rápida adoção da PrEP na África Oriental e Austral, com um progresso mais modesto em outros países da região. Em outras regiões com países de média e baixa renda, em contraste, foram realizados progressos mínimos na expansão do acesso e uso da PrEP.