Para celebrar o Dia Mundial da AIDS 2021, o UNAIDS associou-se à Through Positive Eyes (Através de olhos positivos, na tradução livre para o português) e lançou a exposição virtual Survivors (Sobreviventes, em tradução livre para o português) para celebrar a vida das pessoas que vivem com o HIV há muitos anos. Através de uma série de fotografias e depoimentos pessoais, pessoas que vivem com HIV descrevem como é viver em um momento em que há soluções biomédicas para prevenção, diagnóstico e tratamento, mas que ainda hoje apresenta níveis devastadores de estigma e discriminação ligados ao HIV.
Ao longo do tempo, histórias são contadas para registrar momentos, descrever situações e fomentar mudanças. Quando histórias são contadas, medos, angústias e lutas são compartilhadas e servem como inspiração pra que outras pessoas se sintam encorajadas a compartilhar suas vivências que, se não fossem as histórias, seria impossível.
Uma das pessoas retratadas no projeto é Aninha, uma mãe carioca, sobrevivente de duas pandemias: da AIDS e da COVID-19
Aninha, uma sobrevivente de longa data do HIV, é do Rio de Janeiro, vive com HIV há mais de 20 anos. Sente falta dos amigos que perdeu com a epidemia de AIDS, mas encontra grande alegria e esperança no seu filho.
Sou uma pessoa feliz, mas nem sempre fui sido assim. Eu era rebelde. Não queria tomar a medicação. Estava doente por doenças relacionadas à AIDS, acamada, numa cadeira de rodas. Só não morri graças à minha vontade de viver, ao Sistema Único de Saúde Brasileiro (SUS) e aos medicamentos.
O momento mais difícil da minha vida foi descobrir que eu estava grávida e que tinha HIV. Sofri durante meses. Até tentei fazer um aborto, mas o médico disse que não havia necessidade de um, já que eu estava muito doente, e que o bebê não iria sobreviver.
Para minha surpresa e para surpresa de todas as pessoas, o bebê nasceu. Ele estava doente, mas com o tempo descobri que ele não vivia com HIV. A minha maior alegria foi quando abri o resultado do exame do meu filho e lá estava “negativo”.
Eu chorei, ri, corri e contei aos meus amigos. E depois, todos choraram e riram comigo. Foi a maior emoção que senti em toda a minha vida. A minha mensagem ao meu filho é que não quero que a AIDS cause tal desconforto nas pessoas.
Quero que o meu filho viva num mundo melhor. As pessoas que conheço não foram à procura de AIDS, a AIDS apareceu em suas vidas. Já ouvi falar de pessoas que foram mortas por viverem com AIDS, por serem homossexuais. Não podemos continuar em um mundo como este.
Sou viúva há quatro meses. O meu marido e eu tivemos COVID-19. Ele morreu. Eu estava assintomática.
Esta é a segunda vez que fico viúva por um vírus. Primeiro, pelo HIV, e o segundo, pela COVID. É uma experiência muito triste. Passar por duas pandemias, adquirir estes dois vírus mortais, e ainda estar viva me faz parecer que tenho alguma missão aqui.
O fim da epidemia de AIDS é possível com investimento em ações simples: informação e acesso aos cuidados de saúde. Os antirretrovirais funcionam. Todas as pessoas devem ter direito a acessá-los. A prevenção é perfeitamente possível através do fornecimento de medicamentos adequados. Sem tratamento, a AIDS mata. O preconceito mata. Falta de interesse por parte das lideranças, mata.
O projeto Survivors é original do UNAIDS, e conta a história de 28 pessoas, duas delas brasileiras. Conheça a história de Cazu, outro brasileiro que participou do projeto, e leia as outras 26 histórias de sobreviventes aqui (em inglês).