No Dia Mundial da Juventude, o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) lança a publicação “Viver em Positivo: Guia rápido para jovens vivendo com HIV e seus direitos”. O objetivo é oferecer um material com informações e sugestões essenciais sobre o acesso a direitos sociais, zero discriminação e participação social a jovens vivendo com HIV/AIDS.
A publicação nasce a partir da experiência do “Programa de Estágio Profissional Afirmativo”, uma ação inédita do UNAIDS voltada para garantir que pessoas pertencentes às populações-chave para o HIV pudessem ter a oportunidade de trabalhar com o tema, adquirir novas competências e habilidades nas áreas de atuação do UNAIDS e, dessa forma, potencializar o alcance de seus objetivos profissionais.
As duas primeiras pessoas que fizeram parte do Programa lideraram a iniciativa e coescreveram o Guia: Carolina Parisotto, mulher trans, advogada, e Leonardo Moura, jovem ativista, gay, vivendo com HIV, estudante de serviço social.
A publicação “Viver em Positivo: Guia rápido para jovens vivendo com HIV e seus direitos” foi escrita usando uma linguagem acessível ao público a que se destina. Claudia Velasquez, Diretora e Representante do UNAIDS no Brasil, explica que o documento aborda temas como direitos sociais e políticas públicas voltadas para jovens vivendo com HIV/AIDS, com indicações importantes relacionadas ao que fazer após receber o diagnóstico positivo para o HIV e como ter acesso aos serviços de saúde e previdência social e de apoio psicológico, entre outros.
“A participação social e o trabalho por um mundo com zero discriminação são outros temas abordados pelo Guia, o que está relacionado com a estratégia do UNAIDS de colocar as pessoas no centro a fim de acabar com a AIDS até 2030. Nesse sentido, foi muito importante trazer a sociedade civil, por meio de lideranças jovens, para coliderar este processo.”
Segundo o mais recente Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2020, no período entre 2009 e 2019 houve um aumento de 74,8% na detecção de AIDS entre jovens na faixa etária entre 20 e 24 anos. Isto vem na contramão na queda observada de 17,2% de detecção de AIDS na população em geral no mesmo período.
Leonardo Moura, coautor do Guia, ex-estagiário de comunicação do UNAIDS Brasil e membro da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, destaca que muitas coisas mudam na vida de uma pessoa, especialmente jovem, quando descobre que está vivendo com HIV. “Uma mudança importante é a falsa percepção de que não devemos mais fazer parte da sociedade e como consequência acabamos nos isolando. Então, acredito que o Guia vai auxiliar as juventudes a construir os diversos caminhos possíveis para uma vida digna e que nossos direitos possam ser respeitados.”
Para Carolina Parisotto, coautora do Guia, ex-estagiária de operações e advogada, “ter participado do processo de construção dessa cartilha foi importante por causa de todo o aprendizado, principalmente relacionado aos direitos de pessoas vivendo com HIV/AIDS. O momento da tomada de conhecimento do diagnóstico é bastante delicado em muitos sentidos. Por isso, a existência de materiais informativos com uma linguagem direcionada ao público jovem tem um potencial enorme de esclarecer dúvidas e facilitar o acesso a serviços públicos e outros direitos”
A redação final do Guia contou com a colaboração de lideranças jovens da sociedade civil e o apoio de influenciadores. Em grupo focal, Leonardo Moura e Carolina Parisotto lideraram um espaço de escuta para que as pessoas convidadas validassem o conteúdo, colaborassem com sugestões sobre formato e conteúdo, além do compartilhamento sobre como o Guia “Viver em Positivo” dialoga com as realidades de cada pessoa e de seus pares.
Participaram do grupo focal Denise Santos Soares, Coordenadora Nacional da Articulação Brasileira de Jovens LGBT (ART JOVEM LGBT), Moises Maciel, da Rede Global de Jovens Vivendo com HIV (Y+ Global), San Diego Oliveira Souza, da Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/Aids, Sophie Nouveau Guerreiro, ativista trans, pesquisadora, membro do Comitê Técnico Estadual de Saúde LGBT do Rio Grande do Sul, integrante do Coletivo Transfeminista e do ambulatórioT de Porto Alegre, e Thais Albuquerque, advogada e representante da International Youth Alliance for Family Planning Brazil (IYAFP).
Para Moisés Moises Maciel, da Y+ Global, a importância do Guia é ajuda jovens vivendo com HIV a reconhecer direitos, além de responder a muitas das suas dúvidas quando recebem o resultado positivo. “É muito importante ter um material específico sobre direitos e juventude com informações sobre HIV e saúde sexual para poder esclarecer dúvidas e abrir diálogo”. San Diego acrescenta que a iniciativa surge como “um farol de informação num mundo cheio de embaraços.”
“A conscientização é um meio de combater o estigma sobre o HIV+ e, consequentemente. É um incentivo à participação da juventude como agente transformadora na sociedade”, afirma Thais Albuquerque, advogada, pós-graduanda em Direito Internacional, representante da International Youth Alliance for Family Planning Brazil (IYAFP).
Sophie Nouveau Guerreiro ainda reforça a necessidade não só de promover o tratamento, mas a informação de qualidade. “O compromisso de profissionais de saúde não se resume a ofertar um tratamento, mas também nutrir de informações as pessoas que vivem com HIV, lutando junto contra a discriminação e o preconceito”, reforça a ativista.