UNAIDS e ONG Nação Basquete de Rua lançam campanha para celebrar Dia da Mulher Afrolatinoamericana e Caribenha

Para marcar a data do Dia da Mulher Afrolatinoamericana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, a organização não governamental Nação Basquete de Rua (NBR) em parceria com o UNAIDS, no Brasil, e o escritório regional do UNAIDS para América Latina e Caribe lançam hoje uma campanha de redes sociais composta por uma série de cards que destacam a vida de jovens mulheres negras que participaram do Projeto Carolinas, liderado pela NBR.

O Projeto Carolinas, iniciado em 2020 durante a pandemia de COVID-19, tem como objetivo o fortalecimento, a autonomia e a visibilidade de novas lideranças na promoção da saúde e prevenção contra o HIV entre jovens mulheres, moradoras de comunidades, favelas e periferias. O projeto foi um dos que receberam recursos de um edital do escritório regional do UNAIDS para ações relacionadas à COVID-19.

Rafaela Siqueira , uma das participantes do projeto, tem 18 anos e vive na Favela Margem da Linha, em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro – ela ficou grávida aos 16 anos e precisou parar de estudar para cuidar da filha.

A história de Rafaela guarda similaridade com a vivida pela escritora Carolina Maria de Jesus há 100 anos. Carolina perdeu a mãe, caminhou do interior de Minas Gerais até São Paulo para buscar uma vida melhor e aos 33 anos, sem emprego e grávida, tornou-se catadora de papel. A partir dessas vivências, passou a registrar em diários as desigualdades e cotidiano da favela. Seus escritos transformaram-se no livro “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”.

A obra foi publicada em 1960 e foi traduzida para mais de 16 idiomas. Carolina foi reconhecida com título póstumo de Doutora Honoris Causa pela UFRJ após completar 60 anos da obra e com os temas de fome, racismo, machismo e falta de acesso à saúde, relatados no livro, sendo exacerbados em função da pandemia de COVID-19. Segundo estudo do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da FEA-USP, em 2020,38% das mulheres negras estavam abaixo da linha da pobreza e 12,3% dessa população está em situação de extrema pobreza – os dados foram observados em 2020 e dados de 2021 baseados em simulação.

Foi por inspiração de Carolina Maria de Jesus e para celebrar a sua vida e trajetória que a ONG Nação Basquete de Rua iniciou o Projeto Carolinas. A NBR selecionou 24 participantes, que também receberam formações online sobre direitos sexuais e reprodutivos, prevenção combinada ao HIV, cuidados relacionados à pandemia de COVID-19 e educação financeira. Ao longo do projeto, que aconteceu entre dezembro de 2020 e março de 2021, a ONG entregou kits de prevenção à COVID-19 com máscaras e álcool gel, além de preservativos internos, externos e lubrificantes, insumos necessários na prevenção das ISTs a todas as participantes.

“Foi necessário atuar de forma emergencial com doações de alimentos e materiais de limpeza, mas não podíamos deixar de pensar em fortalecer as mulheres que já tecem a rede de apoio e cuidado em saúde nas favelas e periferias, mulheres negras em expressiva maioria. Carolina Maria foi a primeira escritora autodeclarada negra e favelada, seus textos de 1960 são dolorosos e extremamente atuais e o Projeto, que homenageou o legado de suas obras e vida, comprova que existem muitas outras Carolinas ansiando por oportunidades de verbalizar suas experiências”, explica Tamillys Lírio, da ONG Nação Basquete de Rua e Coordenadora do Projeto Carolinas.

O último boletim epidemiológico HIV/AIDS do Ministério da Saúde, publicado em 2020, mostra que 61,7% de óbitos por doenças relacionadas à AIDS estavam entre pessoas negras, 37,7% entre pessoas brancas, 0,3% entre pessoas amarelas e 0,3% entre indígenas. Comparando os anos de 2009 e 2019, também há uma queda de 21% na proporção de óbitos de pessoas brancas e crescimento de 19,3% na proporção de óbitos de pessoas negras. Já entre os casos de gestantes infectadas por HIV, 39,6% eram brancas, enquanto 14,2% pretas e 37,8% eram pardas.

“A Nova Estratégia do UNAIDS destaca a necessidade de acabar com as desigualdades para acabar com a AIDS. As desigualdades afetam de forma desproporcional as mulheres e principalmente as mulheres negras, mães e de periferia, que acumulam um serviço não remunerado e as empurra às margens cada vez mais. Precisamos diminuir as desigualdades levando a essas mulheres informações que possibilitarão escolhas e autonomia, derrubando as barreiras e construindo pontes entre os abismos de desigualdade”, diz Ariadne Ribeiro, Assessora para Apoio Comunitário do UNAIDS no Brasil.

Quem são as Carolinas?

As vinte e quatro mulheres que participaram do Projeto Carolinas são negras, têm entre 18 e 30 anos de idade e moram em quatro diferentes comunidades de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro: Comunidade Margem da Linha do Rio, Tapera 1, Tapera 2 e Tapera 3.

Das 24 participantes, vinte são mães e 4 não têm filhos. Vinte delas estão em busca de emprego e/ou desempregadas e quatro trabalham. 22 já se sentiram discriminadas pela cor, ou por morarem em comunidades/favelas; 10 relataram que já passaram por constrangimento durante o período menstrual, seja por falta de acesso aos absorventes ou por falta de informações sobre o tema. Todas relataram que gostariam de uma maior proximidade com a UBS, maiores oportunidades de cultura, esporte e aprendizado.

Dia da Mulher Afrolatinoamericana e caribenha

Para marcar o final do projeto, a ONG NBR liderou uma ação de fotografia com algumas participantes do Projeto Carolinas. A responsável pela atividade, Raisa Moraes, é uma jovem campista também moradora de periferia e foi a fotógrafa que liderou o ensaio. Para ampliar as vozes das jovens do projeto, o UNAIDS Brasil, a ONG NBR e o escritório regional do UNAIDS para América Latina e Caribe lançam uma campanha de redes sociais a partir do dia 25 de julho, quando celebra-se o dia da Mulher Afrolatinoamericana e Caribenha.


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