Ingrid Bretón soube que estava vivendo com HIV quando tinha 19 anos. Era 1994 e o tratamento para HIV ainda não estava disponível na República Dominicana.
“Eu sobrevivi quase cinco anos viva, mas morta por dentro”, lembra ela. “Passei por todos os processos de negação pelos quais uma pessoa recém-diagnosticada passa. Os centros de saúde não quiseram me atender. Vivi todo tipo de estigma e discriminação.”
Em sua cidade, La Romana, ela era conhecida como “a garota da AIDS”. Era impossível encontrar trabalho.
O tratamento para HIV ajudou a mudar a trajetória de sua vida. Com a orientação de seu médico, José Román, ela se tornou a primeira mulher vivendo com HIV em La Romana que se sabe ter dado à luz um bebê sem HIV. Ao continuar o tratamento, Ingrid entendeu que estava perfeitamente saudável e que poderia viver uma vida mais significativa.
“Pensei comigo mesma: ‘não estou adoecendo, meu cabelo não está caindo, não tenho feridas, não tenho AIDS. Eu quero fazer coisas’”, lembra Ingrid.
Em 2002, ela formou a Fundación Grupo Paloma (Fundação Grupo Paloma, na tradução livre para o português), que oferece apoio psicossocial, assistência jurídica e oportunidades de trabalho para pessoas que vivem e são afetadas pelo HIV na região leste da República Dominicana. A organização também desempenha um papel fundamental de advocacy, dando visibilidade a questões como adesão ao tratamento, prevenção e estigma e discriminação.
Uma das inovações da fundação é um projeto de agricultura que emprega pessoas que vivem com HIV.
“É um processo lindo”, diz a Ingrid, enquanto caminha pelos campos ensolarados de terra vermelha, passando por tomates, mamões e bananas. “A ideia é que as pessoas que vivem com HIV possam seguir em frente, trabalhando e sustentando suas famílias.”
As famílias com as quais o Grupo Paloma trabalha foram diretamente afetadas pela pandemia da COVID-19. O trabalho da fundação foi fundamental durante esse período. As pessoas voluntárias fazem entregas em domicílio de alimentos, remédios e roupas. A fundação é uma fonte de conexão e apoio emocional em um momento em que as comunidades que vivem com HIV estão mais isoladas do que nunca devido às medidas de distanciamento social.
A primeira Pesquisa Rápida sobre as Necessidades das Pessoas que Vivem com HIV na República Dominicana, no contexto de COVID-19, constatou que, embora 92% das pessoas entrevistadas recebam a terapia antirretroviral, cerca de uma em cada seis tinha medicamento para menos de um mês. Graças ao advocacy do escritório do UNAIDS na República Dominicana, os protocolos foram alterados para que as pessoas que vivem com HIV e têm acesso a tratamento por meio do sistema público de saúde possam receber um medicamentos para três a seis meses de uma só vez.
O escritório da República Dominicana impulsionou o governo a fortalecer os programas de atenção integral, inclusive por meio de alianças com a sociedade civil. Por exemplo, a Fundação Grupo Paloma prestou assistência a pessoas que vivem com HIV no Hospital Provincial Francisco Gonzalvo durante um período de cinco meses em 2020, quando o profissionais médicos não estavam disponíveis nas instalações de La Romana.
O UNAIDS na República Dominicana também pediu atenção especial às necessidades de proteção social e segurança alimentar das pessoas que vivem com HIV e se encontram em situação de fragilidade econômica. O escritório respondeu rapidamente às consequências da COVID-19, oferecendo apoio à Fundação Grupo Paloma e outras organizações comunitárias que contribuem para a resposta nacional ao HIV. A resposta geral do UNAIDS incluiu o fornecimento de equipamento de proteção individual e informação especificamente para a comunidade de pessoas que vivem com o HIV. A segunda fase da resposta incluiu a mobilização de apoio nutricional.
“Isso foi de grande valor para as famílias, dada a crise econômica causada pela COVID-19”, diz Ingrid.
A sociedade civil desempenha o papel principal de conscientizar as comunidades e advogar em seu nome”, disse a diretora do UNAIDS para a República Dominicana, Bethania Betances. “À medida que respondemos a duas pandemias, de- HIV e COVID-19, é vital que as comunidades estejam na mesa de tomada de decisão para ajudar a moldar uma resposta eficaz e humana.”
Assista: A extraordinária história de uma mulher vivendo com HIV na República Dominicana