Mais de 50% das pessoas que vivem com HIV em Manaus informam que sofreram preconceito por seu estado sorológico

A divulgação da análise em profundidade do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids da cidade de Manaus/AM na última semana mostrou como o preconceito ainda é um grande empecilho para as pessoas vivendo com HIV e Aids, impedindo que tenham uma vida plena de direitos. Entre os dados divulgados pela pesquisa, os que mais chamam a atenção mostram a falta de privacidade e respeito ao sigilo da sorologia das pessoas – provocando situações de constrangimento e insegurança.

A forma de discriminação mais experienciada pelos participantes da pesquisa em Manaus foi saber de outras pessoas que não são membros da família fazendo comentários discriminatórios ou fofocando porque se é soropositiva(o) para o HIV (55,1%). Mesmo entre membros da família, essa forma de discriminação foi bastante relatada (42,5%), não ficando restrita a fofocas ou comentários discriminatórios, pois também foram relatados assédios verbais (23,9%), agressões físicas (5,6%) e até mesmo perda de fonte de renda ou emprego por ser soropositivo para o HIV (22,6%).

O estigma em relação ao HIV e AIDS pode levar as pessoas que vivem com o vírus à redução do contato social. O Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids perguntou aos entrevistados se eles já tinham tomado alguma atitude de isolamento nos últimos 12 meses em virtude de serem soropositivos para o HIV.

As respostas apontam para um isolamento não apenas de eventos sociais. Nada menos que 35% dos participantes da pesquisa na cidade de Manaus relataram que se isolaram da própria família ou amigos e optaram por não fazer sexo por serem soropositivos. Das pessoas entrevistadas, 20,9% decidiram não participar de eventos sociais; 22,1% disseram que pararam de se candidatar a vagas de emprego; 20,7% deixaram de procurar apoio social; e 18% decidiram não procurar atendimento de saúde.

Esta última resposta é ainda mais alarmante, quando se analisa o percentual de pessoas vivendo com HIV e AIDS entrevistadas que evitam, demoram, ou são até mesmo impedidas de receberem cuidados ou tratamentos relativos ao HIV e à Aids. 59,1% relataram que não estavam preparados para lidar com o fato de serem positivos para o HIV e 41,4% tinham medo que os profissionais de saúde tratassem mal ou revelassem a sorologia sem o consentimento das pessoas. A interrupção no tratamento dificulta a supressão da carga viral, que tornaria o HIV intransmissível e garantiria segurança na vida da pessoa que vive com HIV, bem como em seus parceiros sexuais.

O estigma permeia também o atendimento de saúde para as pessoas que vivem com HIV e Aids. Dos participantes da pesquisa em Manaus, 10,9% tiveram atendimento de saúde recusado por profissionais da área, após revelarem a sorologia positiva para o HIV; 5,4% relataram recusa no atendimento por parte de profissionais de odontologia, após a revelação da condição sorológica; e 7% ouviram comentários negativos ou fofocas no atendimento de saúde.

Dos entrevistados, 19,5% relataram terem sido forçados a fazer sexo quando não queriam e 16,2% foram forçados a divulgar a sorologia publicamente ou ela foi revelada sem consentimento. Apesar de terem seus direitos violados, o Índice de Estigma mostrou que 41,4% das pessoas vivendo com HIV e Aids em Manaus pesquisadas não sabiam onde recorrer, ou como fazer para garantir seus direitos, enquanto 20,7% declararam-se intimidados ou assustados para fazer uma denúncia.

“Que com esses dados possamos fazer um movimento para mudar a forma de acolher as pessoas que vivem com HIV e vivem com AIDS e que a gente possa, juntos, buscar caminhos para combater de uma forma mais efetiva todo o estigma e a discriminação que vem se perpetuando nesses 40 anos de AIDS no Brasil”, Vanessa Campos da Rede Nacional de pessoas vivendo com HIV e vivendo com AIDS.

“Este projeto, que começou em 2018, é mais uma prova que nosso esforço conjunto e que a parceria com a sociedade civil trouxe esse resultado que esperamos que guie políticas públicas, projetos e leis que visam eliminar qualquer forma de discriminação”, destacou Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS no Brasil.

Para Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, os seminários são importantes por levarem as informações sobre estigma e preconceito para as cidades onde a pesquisa foi realizada. “Os seminários possibilitam um diálogo sobre os dados do Índice de Estigma e podem dar visibilidade a essas informações com um recorte local. O mais importante é que estão sendo pensadas formas para enfrentar o estigma e o preconceito em cada contexto e em cada território onde a pesquisa foi realizada.”

O Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil é promovida pelas Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP); Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV e AIDS (RNAJVHA); Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo e convivendo com HIV/AIDS (RNTTHP). A pesquisa foi apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (UNAIDS), pela Gestos — Soropositividade, Comunicação e Gênero, e pela PUC do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foi realizada em sete capitais: Manaus-AM; São Paulo-SP; Recife-PE; Rio de Janeiro-RJ; Brasília-DF; Salvador-BA; e Porto Alegre-RS.

Os dados completos da análise em profundidade de Manaus encontram-se neste link.

Confira outras informações sobre os seminários locais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.

Acesse o Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.


Divulgação dos resultados regionais acontecerá até dezembro em seminários online

A divulgação dos dados regionais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids está sendo realizada através de seminários online para as sete capitais brasileiras onde a pesquisa foi realizada. O levantamento, feito pela primeira vez no Brasil, é um espelho do que acontece na vida das pessoas vivendo com HIV e Aids mesmo depois de 40 anos do início da epidemia e mostra como essa população ainda é discriminada e sofre com o preconceito e a desinformação.

Os seminários são direcionados para movimentos sociais e pessoas que atuam em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids; para profissionais de saúde; para parlamentares e profissionais que trabalham nos Poderes Legislativo e Judiciário. A série de eventos começou em Manaus, em 03 de novembro, e segue até dezembro nas demais seis capitais onde a pesquisa foi realizada: São Paulo-SP (06/11), Recife-PE (01/12), Rio de Janeiro-RJ (04/12), Brasília (07/12), Salvador-BA (08/12); Porto Alegre-RS (11/12).

Os eventos acontecerão sempre das 14h às 17h (horário local), através da Plataforma Zoom. Para participar é preciso fazer a inscrição através do link. São 50 vagas por seminário.

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