Vencer a COVID-19, vencer a AIDS e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pode parecer especialmente desafiador agora. Mas a resposta não é mudar as datas ou mover os objetivos. Também não podemos voltar à normalidade porque o normal era o problema. Devemos reiniciar. Quarenta anos de luta contra a AIDS nos ensinaram algo vital sobre como vencer pandemias. Essa luta nos ensinou que o que impulsiona as inovações é o poder das pessoas.
Acompanhe o discurso de Winnie Byanyima, diretora-executiva do UNAIDS, ou confira abaixo seu discurso na íntegra.
“Olá! Eu sou Winnie Byanyima e lidero o trabalho da ONU para acabar com a AIDS.
A COVID-19 deixou muitas pessoas desoladas e com medo. Não é apenas uma questão de saúde; é uma profunda crise econômica e social que está agravando as desigualdades existentes e afetando mais fortemente as pessoas vulneráveis. Isso atrapalhou nosso trabalho com a AIDS.
No entanto, estou otimista.
Temos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os objetivos globais, que incluem acabar com a epidemia de AIDS até 2030 e garantir vidas saudáveis a todas as pessoas.
Atingir esses objetivos pode parecer bem desafiador agora. Mas, sabe de uma coisa? 40 anos na luta contra a AIDS nos ensinou algo vital sobre combater pandemias. Nos ensinou que o que impulsiona avanços é o poder das pessoas.
Pessoas vivendo com HIV se levantaram e exigiram tratamento gratuito, igualdade e direitos para todas as pessoas, sem discriminação. Elas lutaram para que as pessoas mais afetadas construíssem e prestassem serviços às suas comunidades.
Em todo o mundo, as pessoas se organizaram e desafiaram líderes políticos e desafiaram desafiaram líderes empresariais a mudar suas políticas. Então, a mudança começou a ocorrer. Hoje, 25,4 milhões de pessoas estão recebendo tratamentos para o HIV que salvam vidas. Mais 12 milhões precisam de tratamento. A luta continua!
Mas mesmo agora, na crise de COVID-19, vimos grupos de base, incluindo grupos de pessoas vivendo com HIV, mobilizarem-se para apoiar suas respostas nacionais à COVID-19.
Vimos comunidades documentarem e desafiarem os abusos dos direitos humanos e, como resultado, vimos vários governos mudarem suas abordagens. As comunidades estão exigindo saúde gratuita e de qualidade para todas as pessoas, e vários governos estão caminhando nesta direção.
Também vimos uma reunião inspiradora e poderosa de grupos de todo o mundo na campanha da People’s Vaccine (Vacina Popular), insistindo que todas as vacinas e tratamentos de COVID-19 descobertos sejamão bens públicos globais.
A campanha se baseia nas dolorosas lições da AIDS, onde novos tratamentos demoraram muito para chegar às pessoas necessitadas. As pessoas de países ricos viviam e as de países mais pobres eram deixadas para a morte.
Os atrasos mortais e embaraçosos em garantir o acesso ao tratamento do HIV jamais devem acontecer novamente.
Quando uma vacina contra o coronavírus for descoberta, ela deve estar disponível gratuitamente para todas as pessoas, em todos os lugares, ao mesmo tempo. Isso só será possível se o conhecimento for compartilhado para que o maior número possível de fabricantes ao redor do mundo possa produzir uma vacina em grandes quantidades.
Deve ser uma Vacina Popular!
Por isso o UNAIDS e juntamente com os nossos parceiros que têm lutado contra a AIDS, apelamos a todas as pessoas para que tornem isto realidade, unindo-se e contribuindo para soluções multilaterais: o C-TAP, o COVAX e o ACT-Accelerator.
Fazemos essa convocação porque a saúde é um direito humano – não um privilégio. Nunca deve depender do dinheiro que uma pessoa tem no bolso ou do passaporte que carrega.
Devemos garantir que as pessoas estejam antes do lucro, que os direitos humanos estejam acima dos direitos de propriedade e que o bem público global esteja acima do interesse nacional.
Vencer a COVID-19, vencer a AIDS e alcançar todos os outros Objetivos Globais pode parecer especialmente desafiador agora. Mas Aa resposta não é alterar datas ou mover metas. Também não podemos voltar ao normal, porque a normalidade era o problema. Devemos reiniciar. Devemos renovar o nosso iniciar. Precisamos renovar nosso sistema multilateral e torná-lo mais legítimo, inclusivo e eficaz.
Precisamos de Uum novo multilateralismo com um novo conceito de solidariedade global onde todos os governos abordem as desigualdades em seus próprios países e entre países, para que todas as pessoas vivam com dignidade.
Devemos defender os direitos humanos contra qualquer tipo de discriminação, especialmente o racismo, e devemos garantir a igualdade de gênero. Esses são pré-requisitos para alcançar saúde para todas as pessoas e para um mundo seguro e justo.
Em um multilateralismo renovado, a saúde e a educação devem ser bens públicos globais, fornecidos a todas as pessoas em todos os lugares, gratuitamente no ponto de uso e financiados por meio do apoio à capacidade dos governos de aumentar a receita interna.
Isso exigirá uma ampla reforma tributária corporativa e colaboração.
No coração da visão fundadora das Nações Unidas está “Nós, os povos”. O UNAIDS trabalha para tornar essa visão uma realidade por meio de uma parceria conjunta que conecta 11 agências das Nações Unidas que trabalham juntas, e na qual a sociedade civil não é apenas uma parceira com a qual nos engajamos, mas faz parte da governança, não só tem voz, mas tem poder nesta parceria.
Estou otimista com o que as pessoas já conquistaram juntas na luta contra a AIDS e porque o movimento coletivo que as pessoas vêm construindo nos permitirá vencer a AIDS, vencer a COVID-19 e vencer a desigualdade, .e alcançar todos os objetivos.
Estou otimista por causa do poder das pessoas.”