Violência de gênero e COVID-19: “Quando nos calamos, permitimos que esses crimes se multipliquem”

A ONU Mulheres estima que, nos últimos 12 meses, 243 milhões de mulheres e adolescentes de 15 a 49 anos foram submetidas a violência sexual e/ou física por algum parceiro íntimo. Como resultado do isolamento imposto para impedir a disseminação da COVID-19, dados emergentes mostram que esse tipo de violência se intensificou. Na França, por exemplo, os relatos de violência doméstica aumentaram 30% desde o início do isolamento no dia 17 de março. Na Argentina, as ligações de emergência com relatos de violência doméstica aumentaram 25% desde o início do confinamento, no dia 20 de março. Outros países também relataram aumentos nos números.

Recentemente, a rede social russa Odnoklassniki, também conhecida como OK, organizou uma transmissão para que especialistas e interessados no tema pudessem discutir como sobreviver ao isolamento e evitar conflitos familiares e violência de gênero. A transmissão foi vista por 1,7 milhão de usuários da rede OK no leste da Europa e na Ásia central.

“Eu moro no Quirguistão”, disse Ulzisuren Jamstran, representante da ONU Mulheres na Ásia Central. “Aqui, segundo o governo, o nível de violência doméstica aumentou em 65%. Vemos um aumento na agressão contra mulheres e crianças no Quirguistão e um aumento no número de suicídios entre criança, até mesmo em crianças pequenas.”

Lyudmila Petranovskaya, psicóloga russa, explicou como o isolamento fez com que os bons relacionamentos se tornassem ainda melhores e os relacionamentos problemáticos se tornassem mais problemáticos. Ela enfatizou que as pessoas precisam estar cientes das opções caso sejam mantidas em isolamento com um agressor. “As pessoas precisam procurar contatos, uma linha direta, ligar para amigos, tentar encontrar outro lugar para sobreviver ao isolamento. Ficar com o agressor é perigoso. Essa ameaça é mais grave que o coronavírus”, disse a psicóloga.

Julia Godunova, chefe adjunta do conselho da Rede Eurasiana de Mulheres sobre AIDS, falou sobre estudos no leste Europeu e na Ásia central que mostram que mais de 70% das mulheres que sobrevivem à violência não procuram ajuda por causa da vergonha.

Dina Smailova, fundadora da organização não governamental #DontBeSilent (#NãoFiqueCalada, em tradução livre ao português), falou sobre as mulheres sobreviventes de violência. “Quando nos calamos, permitimos que esses crimes se multipliquem. Incentivo as mulheres a não ficarem caladas. Nosso movimento está se expandindo, estamos ativas não apenas no Cazaquistão, mas também em outros países da Ásia central e além”.

A transmissão destacou experiências bem-sucedidas em todo o mundo na resposta à violência baseada em gênero. Foi elogiado o exemplo da Espanha, onde mulheres em perigo podem visitar farmácias e usar uma palavra-código para alertar aos funcionários de que precisam de ajuda. O papel do setor privado também se mostrou importante—como muitos abrigos não estão abertos no momento, os hotéis estão entrando e fornecendo abrigo, gratuitamente ou a um custo mínimo.

A transmissão foi parte de uma iniciativa conjunta do escritório regional do UNAIDS para a Europa Oriental e Ásia Central, o Instituto de Tecnologias de Informação para a Educação da UNESCO e a rede social OK, em parceria com a ONU Mulheres.

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