O poder da televisão na educação e diversão de milhões de pessoas na África Ocidental

Um bebê abandonado em uma clínica de saúde, um namorado abusivo, namoros e remédios falsos são reviravoltas do enredo de C’est la Vie (A Vida é Assim, na tradução para o português), uma série de televisão baseada e produzida na África. Filmada no Senegal, a série acontece em uma clínica de saúde fictícia de Ratanga, na qual as parteiras interagem com os pacientes e trabalham em diversos casos. Suas histórias de vida e de trabalho entram em jogo, mas o objetivo geral é aumentar a conscientização sobre saúde através do entretenimento.

A série, a primeira na África Ocidental, foi inspirada pelo pioneiro mexicano Miguel Sabido—que usou telenovelas para promover alfabetização e planejamento familiar—e pela série educacional de televisão Shuga. A série Shuga, da MTV em língua inglesa, está agora em sua sexta temporada e tem feito tanto sucesso que mudou seu local de filmagem do Quênia para capturar novas histórias na Nigéria e na África do Sul.

A Rede Africana de Educação para a Saúde (RAES, na sigla em francês), uma organização não-governamental apoiada por várias agências das Nações Unidas e pelo governo francês, fundou a produtora Keewu para promover a série.

O membro fundador da RAES e produtor da Keewu, Alexandre Rideau, disse que a motivação para o lançamento de C’est la Vie foi alcançar milhões de pessoas através da televisão. “As estatísticas falam por si mesmas na África Ocidental”, disse Rideau. “Os jovens não têm conhecimento sobre sexualidade, prevenção do HIV e questões simples, como a menstruação”. Ele também acrescentou que ficou claro, devido às várias questões recebidas, que as pessoas têm dificuldade no acesso à informações.

A série destaca várias realidades da região, desde os altos níveis de mortalidade materna até a infecção pelo HIV. Quatro em cada cinco crianças que vivem com HIV na África Ocidental e Central ainda não têm acesso aos medicamentos que salvam vidas e o número de mortes relacionadas à AIDS entre adolescentes de 15 a 19 anos está aumentando na região, de acordo com o relatório Step up the pace, feito pelo UNAIDS e pelo UNICEF.

Em sua segunda temporada, a série C’est la Vie ganhou tanta popularidade que seus atores estão sendo reconhecidos na rua. Rideau relatou o caso de um cobrador de pedágio em Dakar que não queria permitir que uma atriz que interpreta uma personagem desagradável na série atravessasse o pedágio.

Transmitido em países da África Ocidental e Central nos canais A+, TV5 Monde Afrique e em outros canais locais, a série alcança cerca de 100 milhões de telespectadores. Rideau explicou que a série pode não conseguir mudar o comportamento das pessoas, mas dá início a conversas cruciais sobre questões de saúde. No Senegal e no Togo, acontecem debates abertos sobre os temas abordados pela série nas praças das cidades após a transmissão.

Rideau disse que quer lançar a série em mais seis países em 2018. Um spin-off para rádio na língua Hausa está sendo transmitido no Níger.

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