Dezoito anos atrás, aos 19 anos, Florence Anam engravidou. Quando adolescente, ela se encantou por um homem mais velho que lhe dava bastante atenção. Uma boa aluna na escola e prestes a começar a universidade, seus pais lhe disseram que ficaram desapontados com ela, mas nunca voltaram a falar sobre o assunto.
“Quando eu estava grávida, nunca houve perguntas sobre como eu acabei nessa situação ou quem era o responsável”, disse Florence. “O sexo era um tema tabu e não uma discussão que os pais tinham com seus filhos.”
Florence não conhecia seu estado sorológico para o HIV até 2006. Durante uma campanha nacional de prevenção do HIV no Quênia, ela e outros quatro amigos foram testados. Quando os testes de HIV confirmaram que ela estava vivendo com o vírus, Florence ficou sem chão.
O choque de realidade veio quando, um ano depois, Florence foi demitida de seu emprego por ser HIV-positivo. “Naquela época, não havia redes de HIV para jovens, nem havia tanta informação disponível, então entrei em contato com uma mulher que tinha sido exibida em um jornal e a abordei perguntando: ‘por que não tenho permissão para ser produtiva se ainda não estou doente?’, explicou Florence.
Essa mulher, Asunta Wagura, era a Diretora da Rede Queniana de Mulheres com AIDS. Asunta pediu a Florence para visitar e conhecer a organização, na qual ela começou a trabalhar como voluntária. Ela descreve a experiência como um choque de realidade. Ela ouviu histórias de outras mulheres, de quantas delas viviam na pobreza e lidavam com violência. “Era como mergulhar nesse mundo que, como uma criança protegida, eu nunca soube que existia; de repente, meus problemas se tornaram triviais e eu sabia que eu precisava contar para outras pessoas o que eu estava vendo todos os dias.”
Florence começou então a falar mais sobre o HIV, atraindo muita atenção para si e para seu estado sorológico. “Eu cansei de ter pessoas me dizendo quais eram suas opiniões sobre minha vida, eu senti falta da garota que eu era e eu precisava desesperadamente sair desse buraco”, conta.
Parte do trabalho de advocacy e comunicação de Florence com a Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV/AIDS envolve encontros mensais de mentoria com meninas e mulheres jovens que vivem com HIV. “Eu quero aumentar a conscientização delas em relação à vida que terão 20 anos adiante”, diz.
Florence considera que sua vida está completa. Seu filho, de 17 anos, e sua filha, adotada há 11 anos, censuram-na de forma carinhosa quando ela fala sobre sexo e outros assuntos “estranhos” na mesa de jantar.
“Eu sou a mãe estranha falando sobre sexo e comportamento sexual responsável nos lugares mais insanos”, comenta Florence. “Eu continuo repetindo para eles que as decisões que você toma agora, por mais imaturas que sejam, terão um impacto a longo prazo.”
ODS 5: Alcançar igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas
A desigualdade de gênero, a discriminação e as práticas prejudiciais criam uma cultura que impacta negativamente mulheres, meninas, homens e meninos. Meninas e mulheres são desproporcionalmente vulneráveis e impactadas pela infecção do HIV. Frequentemente, elas não têm a capacidade de controlar ou determinar suas próprias escolhas de vida, como ir à escola, com quem se casam ou fazem sexo, o número de filhos que têm, os serviços de saúde que elas acessam, suas opções de emprego ou sua capacidade de expressar uma opinião e ser respeitada.
Os programas projetados para educar e informar meninas e mulheres sobre os riscos do HIV e fornecer alguns meios para que elas se protejam são elementos essenciais para a resposta à AIDS. No entanto, ainda que necessários, eles são insuficientes. O acesso a uma educação abrangente sobre sexualidade e serviços de saúde sexual e reprodutiva só poderá será parcialmente bem-sucedido na proteção de meninas e mulheres jovens contra o HIV se seus potenciais parceiros do sexo masculino continuarem inconscientes ou não quiserem mudar seu comportamento. Aumentar a conscientização masculina dos riscos do HIV, proporcionar aos homens e aos meninos os meios de prevenção e capacitá-los para que mudem o seu próprio comportamento e vejam os benefícios de um relacionamento equilibrado e respeitoso, são essenciais para diminuir o número de novas infecções por HIV e aumentar a igualdade de gênero.
Como muitas mulheres jovens, Florence cresceu sem educação sexual abrangente ou acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva. Ela fez disso o trabalho de sua vida: expandir os serviços de HIV e de saúde amigáveis aos jovens e orientar mulheres jovens que vivem com o HIV, dando-lhes esperança para o futuro. A história de Florence resume o quão é importante é o progresso no ODS 5— alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as meninas e mulheres— na capacitação de mulheres e homens jovens para que tomem decisões informadas sobre como se proteger da infecção pelo HIV.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável amplia em grande escala o que a resposta à AIDS tem feito há 30 anos—uma abordagem multissetorial baseada em direitos e centrada nas pessoas que aborda os determinantes da saúde e do bem-estar. Esta é mais uma história de uma série que o UNAIDS produziu destacando os vínculos entre o HIV e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A série busca mostrar uma imagem de como o HIV está interconectado com os ODS e quão interdependentes os ODS são uns dos outros. Mais importante ainda, as histórias nos mostram o progresso alcançado com a resposta à AIDS e o caminho que ainda nos falta percorrer com os ODS.
Conheça a história do brasileiro Welber—traduzida para o português—e como o acesso universal aos serviços de HIV mudou a vida dela e de sua namorada. As demais histórias bem como o relatório estão disponíveis apenas em inglês.