“Pessoas subnutridas vivendo com o HIV têm duas a seis vezes mais chances de morrer nos primeiros seis meses de tratamento, e a fome é uma das barreiras à adesão no longo prazo.” O alerta foi feito por Martin Bloem, Consultor Sênior de Nutrição e Coordenador Global do UNAIDS no Programa Mundial de Alimentos (PMA), durante consulta recente sobre nutrição e HIV, realizada em Genebra, na Suíça.
“Acredito que podemos alcançar os três zeros, mas a falta de alimentos e de apoio nutricional ainda é um obstáculo. É hora de priorizar a alimentação e a nutrição na abordagem de Aceleração da Resposta à AIDS (Fast-Track), proposta pelo UNAIDS”, disse Bloem.
O evento, organizado pelo UNAIDS e pelo PMA, abordou a importância crítica de alimentos e apoio nutricional tanto para as Metas de Tratamento 90-90-90 como também para a prevenção de novas infecções pelo HIV, especialmente entre as adolescentes e as mulheres jovens.
“Somente colocando as pessoas no centro de nossa atenção é que poderemos chegar ao fim da epidemia da AIDS. A alimentação e a nutrição são essenciais para alcançarmos as Metas de Aceleração da Resposta (Fast-Track). Precisamos urgentemente da sistematização eficaz e da comunicação das evidências sobre alimentação e nutrição para informar as políticas e programas de HIV”, afirmou Luiz Loures, Diretor Executivo Adjunto do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).
Os participantes do evento compartilharam evidências e experiências sobre os impactos da desnutrição e da insegurança alimentar no tratamento do HIV e sobre como a segurança alimentar e a proteção social contribuem para a prevenção de novas infecções pelo vírus da AIDS. Além disso, os participantes debateram sobre estratégias para melhorar a adesão entre os adolescentes. As discussões destacaram também que a realização de testes de HIV, junto com o acompanhamento do crescimento infantil, pode permitir um diagnóstico e um tratamento mais oportunos de crianças subnutridas vivendo com HIV.
Lucie Cluver, Professora Associada da Universidade de Oxford, observou que, na África do Sul, as adolescentes que receberam alimentos na escola tiveram uma redução de 40% nas relações sexuais desprotegidas ou casuais do que aquelas que não receberam comida na escola. E adolescentes em tratamento de HIV que receberam comida suficiente tiveram duas vezes e meia mais chances de aderir ao tratamento do HIV do que seus pares que não receberam alimento.
“Nutrição e apoio alimentar para pessoas vivendo com HIV é um dos cinco elementos incluídos no Orçamento do Congresso dos Estados Unidos para Cuidado e Tratamento de apoio bilateral do PEPFAR (Plano de Emergência para o Combate à AIDS)”, lembrou Amie Heap, Consultora Sênior de Nutrição da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
Segundo os participantes, a nova Estratégia do UNAIDS para 2016-2021 deve centrar-se na melhoria da qualidade dos serviços prestados às pessoas vivendo com HIV e às mais afetadas pelo vírus. Deve contar também com abordagens multissetoriais que permitam a entrega de conjuntos integrados de apoio, incluindo alimentação e nutrição, proteção social, apoio à subsistência e à educação.