“Neste Dia da Visibilidade Trans poder contar a minha história é muito importante pra mim. Chega de nos silenciar. Merecemos respeito”

“Conheci uma travesti que tinha acabado de chegar de São Paulo e foi ela que me ensinou a jogar vôlei. Depois desse momento comecei a disputar campeonatos de vôlei e no ano de 2004 fui campeã amazonense, joguei por muitos anos campeonatos LGBT que acontecem na cidade de Manaus como a Liga Gay e Grand Prix, que todo ano reúne vários atletas LGBT”, conta Bruna Assipal, educadora social na ONG CasaMiga – Acolhimento LGBT.

A jornada de autoconhecimento de Bruna foi como o saque inicial em uma competição de vôlei, pois é este movimento que marca o ritmo da partida. O estigma e discriminação vividos por Bruna são violências que os sets de cada partida não conseguiram evitar que ela os vivenciasse.

Em 2024, Bruna trabalhou em conjunto com as ONGs Gestos e as cinco organizações que fazem parte do Consórcio Nacional de Pessoas Vivendo com HIV no Brasil para ser uma das pessoas entrevistadoras do Índice de Estigma em Manaus. A pesquisa mede o nível de estigma e discriminação em relação às pessoas que vivem com HIV, que UNAIDS apoia a implementação no Brasil.

Foi no Bairro São José, Zona Leste de Manaus, que a manauara Bruna viveu toda a infância e adolescência. E foram nesses momentos da vida que ela, uma mulher trans, teve muitas descobertas e enfrentamentos e teve que lidar diretamente com estigma e discriminação.

Durante a adolescência, iniciou na prática de esportes e se aventurou no vôlei, basquete, handebol e queimada. Começou a participar de disputas locais até que, em 2004, se tornou campeã amazonense de vôlei.

As descobertas e conquistas no esporte, mesmo positivas, não conseguiram blindar Bruna de uma infância em um ambiente de violência doméstica.

O estudo foi outro obstáculo para Bruna, pois foi difícil se estabelecer na educação formal, uma vez que, neste espaço, “também tinha muito preconceito”. Porém, mesmo com todas as dificuldades, Bruna conseguiu terminar o ensino médio — realidade que, segundo dados do Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024: da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira, da Rede Trans Brasil, 63,9% das mulheres trans não finalizam o ensino médio e 34,7% não chegam a concluir o ensino fundamental.

Bruna conseguiu entrar na faculdade, mas devido à escassez de recursos, não foi possível continuar na educação superior. “Não tive oportunidade de emprego, e só o que tinha na época para pessoas travestis era a esquina. E foi assim durante sete anos da minha vida.”

Nesse período, Bruna foi expulsa de casa. Durante um mês em que viveu nas ruas de Manaus Bruna conheceu a organização CasaMiga de acolhimento LGBT, local onde recebeu moradia, acolhimento e apoio psicológico.

Depois do período de nove meses, Bruna passou a trabalhar como educadora social, atuando no acolhimento de novas pessoas que chegavam à CasaMiga e realizando palestras sobre prevenção combinada.

Na ONG CasaMiga, Bruna teve seu segundo contato com o UNAIDS, pois, em 2024, o projeto CasaMiga na Rua – Caminhando para as Metas 95-95-95 foi contemplado com recursos da Iniciativa Fast-Track Cities. Este projeto ajudou outros e outras jovens da comunidade Terra Nova, em Manaus, a ter acesso a informações sobre prevenção e tratamento ao HIV.

“Neste Dia da Visibilidade Trans poder contar a minha história é muito importante pra mim. Chega de nos silenciar. Merecemos respeito”, finaliza Bruna.

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