Hoje, 29 de outubro, em um evento especial paralelo à Reunião de Ministros de Saúde e de Finanças do G20, o governo brasileiro e especialistas do Conselho Global sobre Desigualdade, AIDS e Pandemias fortaleceram os esforços para interromper o “ciclo desigualdade-pandemia”, que impulsiona frequentes emergências de saúde. Duas medidas cruciais podem permitir que o mundo consiga responder rapidamente pandemias atuais e futuras.
Especialistas pediram às lideranças que reconheçam, pela primeira vez na história do G20, a desigualdade como um fator de pandemias – exigindo a sua mensuração, assim como ações decisivas. Também defenderam o fortalecimento do desenvolvimento, produção e fornecimento de insumos essenciais à saúde em todas as regiões do mundo.
Evidências coletadas pelo Conselho Global sobre Desigualdade demonstram de forma nítida o ciclo desigualdade-pandemias. Desigualdades dentro e entre países aumentam a interrupção e a perda de vidas nas pandemias atuais e recentes, desde a AIDS até a COVID-19, Mpox e Ebola.
A falta de respostas efetivas para essas desigualdades deixa comunidades vulneráveis e expostas a futuras emergências de saúde. Isso representa uma oportunidade importante para o G20, que define a agenda de financiamento internacional, para direcionar o foco e ação nos determinantes sociais das pandemias.
A dependência de países do Sul Global em relação à produção de medicamentos no Norte Global também compromete as respostas a pandemias, deixando-os consistentemente em desvantagem para receber vacinas e medicamentos vitais, apesar de abrigarem em seus territórios grande parte da carga de doenças no mundo.
Nísia Trindade, ministra da Saúde do Brasil e membro do Conselho Global sobre Desigualdade, AIDS e Pandemias, declarou: “Ao construir capacidade de produção em todas as regiões, podemos aprender com os erros do passado, garantindo que medicamentos para doenças negligenciadas e socialmente determinadas sejam produzidos em todo o mundo, e que haja capacidade disponível para responder rapidamente a futuras emergências de saúde.”
Joseph E. Stiglitz, economista vencedor do Prêmio Nobel e copresidente do Conselho Global sobre Desigualdade, AIDS e Pandemias, explicou: “Reformas tanto nos países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento e nos acordos e instituições internacionais, além de investimentos que ampliem a produção de insumos médicos e reduzam preços, são essenciais para abordar lacunas de mercado e acelerar o acesso a medicamentos para as pessoas que mais precisam.”
Sir Michael Marmot, professor de Epidemiologia e diretor do Instituto de Equidade em Saúde da University College London, copresidente do Conselho Global sobre Desigualdade, AIDS e Pandemias, observou: “As evidências são explícitas: determinantes sociais aumentam a intensidade das pandemias. Quanto maior a desigualdade na sociedade, pior é a pandemia. Mas também sabemos que podemos intervir contra esses fatores com educação, medidas de proteção social e tornando as sociedades mais justas. Reinvestir no bem público e defender os direitos humanos tornarão as sociedades menos vulneráveis a pandemias.”
Monica Geingos, ex-primeira-dama da Namíbia e copresidente do Conselho Global sobre Desigualdade, AIDS e Pandemias, afirmou: “Para acabar efetivamente a pandemia de AIDS e nos preparar para futuras emergências de saúde, devemos enfrentar a complexa rede de desigualdades que agravam esses desafios. Desigualdade envolve mais que disparidades de renda; inclui também desigualdades sociais, políticas e de saúde que se interseccionam de maneiras significativas. O cenário geopolítico complica ainda mais essas dinâmicas, pois nações caracterizadas por desigualdades são desproporcionalmente impactadas pelas respostas às pandemias. Essa desigualdade sistêmica é frequentemente reforçada por estruturas internacionais que perpetuam e aprofundam as disparidades existentes, ressaltando a necessidade urgente de abordagens abrangentes e equitativas para saúde e governança.”
As duas iniciativas — responder à desigualdade como um fator que impulsiona pandemias e promover a produção regional de insumos de saúde — oferecem uma oportunidade única para que as lideranças do G20 tomem ações transformadoras em prol da equidade em saúde e da segurança global em saúde, concordou o time de especialistas.
Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS e coordenadora do Conselho de Desigualdade, comentou: “O presidente Lula colocou a igualdade no centro da agenda do G20 do Brasil. Ele está certo. As desigualdades precisam ser abordadas urgentemente, e a produção de medicamentos e vacinas expandida em todo o mundo, ou a próxima pandemia nos atingirá ainda mais forte. As lideranças do G20 aqui no Rio de Janeiro têm a oportunidade de transformar a maneira como o mundo responde a emergências e pandemias, respondendo as desigualdades que os impulsionam. Contamos com as lideranças do G20 para aproveitar este momento para salvar vidas e proteger a saúde de todas as pessoas.”
Joe Phaahla, vice-ministro da Saúde da África do Sul, confirmou: “Ao assumirmos a presidência do G20 em 2025, a África do Sul continuará a liderar a agenda de cobertura universal de saúde por meio de equidade, solidariedade e inovação.”
Homenagens foram prestadas ao Ministério da Saúde do Brasil por sua liderança na promoção dessas questões críticas no G20, incluindo a proposta de uma nova Aliança Global para a Produção Local e Regional e Inovação e a inclusão dos determinantes sociais das pandemias no trabalho da força-tarefa conjunta de Saúde e Finanças do G20.
Para acessar o comunicado à imprensa, em inglês, clique aqui. Abaixo, está o vídeo da reunião.
O Brasil propõe o estabelecimento de uma Aliança Global para a Produção Local e Regional e Inovação e Acesso Equitativo, reunindo uma rede de atores-chave, incluindo países, academia, setor privado e organizações internacionais, para pesquisa, desenvolvimento e produção de vacinas, medicamentos, diagnósticos e suprimentos estratégicos para combater doenças com fortes determinantes sociais e que afetam principalmente populações vulneráveis. Para mais informações sobre o Grupo de Trabalho em Saúde do G20, consulte o site do G20.
O Conselho foi estabelecido pelo UNAIDS em 2023 e é composto por especialistas da academia, governo, sociedade civil e atores de desenvolvimento internacional comprometidos em implementar soluções baseadas em evidências para abordar as desigualdades que alimentam a AIDS e outras pandemias. É presidido pelo Laureado Nobel Professor Joseph Stiglitz, pela Ex-Primeira Dama da Namíbia Monica Geingos e pelo Professor Sir Michael Marmot, que presidiu a Comissão sobre os Determinantes Sociais da Saúde. Saiba mais em inequalitycouncil.org.
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) lidera e inspira o mundo a alcançar a visão compartilhada de zero novas infecções por HIV, zero discriminação e zero mortes relacionadas à AIDS. O UNAIDS une os esforços de 11 organizações da ONU — ACNUR, UNICEF, PMA, PNUD, UNFPA, UNODC, ONU Mulheres, OIT, UNESCO, OMS e o Banco Mundial — e trabalha em estreita colaboração com parcerias globais e nacionais para acabar com a epidemia de AIDS até 2030 como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Saiba mais em unaids.org e conecte-se conosco no Facebook, X (Antigo Twitter), Instagram e YouTube.