Foi um dia de orgulho para Stacy Velasquez, diretora executiva da OTRANS Reinas de la Noche (Rainhas da Noite, em tradução livre para o português), em junho, ao abrir as portas da clínica comunitária que acabava de ser oficialmente aprovada como posto de saúde pelo Ministério da Saúde Pública e Assistência Social. Isso significava que haveria, em tempo integral, profissionais de medicina.
Cerca de 40 mulheres trans e profissionais do sexo vieram à clínica desde a chegada do médico. A clínica existe há vários anos, mas com a aprovação do Ministério da Saúde e apoio financeiro do Fundo Global e da OXFAM, as pessoas atendidas agora têm acesso a cuidados integrais: prevenção e diagnóstico do HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis; aconselhamento psicossocial; consultas médicas incluindo terapia hormonal; um serviço de laboratório para testes de saúde sexual e uma farmácia.
A clínica oferece a profilaxia pré-exposição (PrEP), uma intervenção biomédica inserida na abordagem de prevenção combinada, que se refere ao uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas com sorologia negativa para HIV para reduzir o risco de contrair o vírus.
“Em 2016, foi aprovada uma estratégia abrangente de saúde para pessoas trans com apoio técnico do UNAIDS. [Essa estratégia] inclui um manual de diretrizes para a atenção à saúde de pessoas trans”, disse Stacy, que trabalha há quase 18 anos como advocacia pela comunidade trans.”
OTRANS contribui com o CEDOSTALC, Centro de Documentação e Situação Trans da América Latina e o Caribe, um sistema comunitário para coletar informações, monitorar e responder às barreiras relacionadas aos direitos humanos enfrentadas pela população trans em 26 países da América Latina e o Caribe.
Na Guatemala, as mulheres trans ainda enfrentam exclusão, discriminação, estigma, violências verbal e física, criminalização, marginalização e falta de reconhecimento de seus direitos, resultando em uma expectativa de vida de apenas 35 a 40 anos, sendo que a expectativa média de vida no país é de 74 anos.
Durante uma visita à clínica, a diretora nacional do UNAIDS, Marie Engel, elogiou o trabalho local e prestou homenagem a Andrea Gonzalez, representante legal da OTRANS, assassinada em 2021.
“Na Guatemala, a taxa de prevalência de HIV é de 22,2% entre a população trans, em comparação com 0,2% para a população geral”, disse Marie Engel. “E embora as novas infecções por HIV tenham diminuído 23% entre todas as mulheres entre 2010 e 2019 em todo o mundo, elas não diminuíram entre mulheres trans. No entanto, as pessoas trans têm menos acesso aos serviços de HIV do que o resto da população.”
O estigma e a discriminação têm um efeito negativo profundo na saúde mental das pessoas trans, o que, por sua vez, pode influenciar sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Dados reportados ao UNAIDS nos últimos anos mostram que a porcentagem de pessoas trans que evitam fazer o teste de HIV devido ao estigma e à discriminação varia de 47% a 73%.
O arquivo “HIV e Pessoas Trans e Outras Pessoas de Gênero Diverso” pode ser acessado aqui, em português.
O texto original, em inglês, pode ser conferido aqui.