No dia 18 de maio, o Grupo Temático Ampliado das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (GT UNAIDS) realizou sua primeira reunião de 2022. Realizado de forma híbrida, presencial e virtual, o encontro reuniu 47 pessoas, entre representantes de governo, embaixadas, agências, fundos e programas da ONU e organizações da sociedade civil que atuam com HIV/AIDS. As apresentações e intervenções giraram em torno do tema central do encontro: “Uma resposta conjunta ao HIV para não deixar ninguém para trás”.
Em sua fala de abertura e boas-vindas, o Dr. Miguel Aragón, representando a OPAS/OMS, que preside o GT UNAIDS, destacou o desafio representado pela combinação de duas pandemias, HIV e COVID-19, especialmente sobre as populações mais vulneráveis, e reconheceu a decisão do Ministério da Saúde de ampliar a dispensação de antirretrovirais para 90 dias. “A sociedade civil também teve um papel fundamental durante a pandemia, o que demonstra a importância de termos ações conjuntas para fazer frente ao estigma e à discriminação”, destacou.
Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS no Brasil, reforçou a importância do trabalho em parceria com as agências, fundos e programas da ONU que compõem o Joint Team do UNAIDS e com as diversas instâncias de governo, especialmente com o Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) do Ministério da Saúde. “Procuramos também desenvolver e implementar nossas ações com a constante participação e apoio da sociedade civil, que teve – e tem – um papel crucial na resposta à epidemia de AIDS – e esse papel segue sendo fundamental na resposta ao HIV”, destacou.
O Dr. Gerson Fernando Mendes Pereira, diretor do DCCI, chamou a atenção para a complexidade de dar uma resposta eficiente ao HIV em meio aos desafios representados pela pandemia de COVID-19. “Nesse período não houve falta de insumos e medicamentos para o HIV e o Brasil chegou a fazer doações humanitárias para outros países”, recorda. O Dr. Gerson terminou sua fala apresentando a proposta do DCCI de um conjunto de ações alusivas aos 40 anos de enfrentamento da pandemia de HIV no Brasil.
As agências, fundos e programas que formam o Joint Team do UNAIDS no Brasil apresentaram as ações desenvolvidas na resposta ao HIV. Antes de sua fala, Ariadne Ribeiro Ferreira, oficial para Comunidade, Gênero e Direitos Humanos do UNAIDS, apresentou um vídeo com o resumo das ações da organização no período entre 2021 e abril de 2022.
Em sua fala, Ariadne ressaltou como a combinação das pandemias de COVID-19 e HIV amplia o impacto das desigualdades sobre a população em situação de maior vulnerabilidade. “Alcançar as pessoas em vulnerabilidade nos faz chegar perto de alcançar as metas de acabar com a AIDS como ameaça à saúde pública até 2030. A atuação do Joint Team mostra que estamos conseguindo chegar nas pessoas, ampliar redes de cuidado, levar autoestima para pessoas trans, fomentar produção científica. Nada disso seria possível sem as parcerias e um trabalho conjunto”, destacou.
As apresentações do Joint Team cobriram uma multiplicidade de ações de resposta ao HIV que incluíram o trabalho com migrantes da Venezuela e população indígena, desenvolvido pela UNESCO, o reforço de capacidades locais e de atenção direta em Roraima, Acre e Rondônia, pela OMS/OPAS, atividades formativas sobre HIV/AIDS para representantes do Poder Judiciário, implementadas pela UNODC, articulação com governos locais e organizações da sociedade civil na atuação com jovens, realizada pela UNFPA.
A OIT destacou os estudos e ações de capacitação de populações vulneráveis para ingresso no mercado do trabalho, enquanto a ONU Mulheres registrou a entrega de fundos para apoiar a ação de coletivos de trabalhadoras do sexo. O PNUD apresentou as parcerias para viabilizar a entrega de 140 mil testes para HIV e a implementação do Estigma Index, entre outras atividades.
As representações da sociedade civil no GT UNAIDS chamaram a atenção para alguns dos principais desafios na resposta ao HIV, que incluem o envelhecimento da população que vive com HIV, o tema de sustentabilidade das organizações que atuam no setor, a falta de insumos e de acesso ao mercado de trabalho para a população trans, a importância de envolver a juventude, especialmente a que vive em situação de maior vulnerabilidade, no desenvolvimento das estratégias e programas para o HIV/AIDS e o impacto da pandemia de HIV na saúde mental.
“Sou uma mulher que vive com HIV. Quando eu ouço sobre envelhecimento me sinto contemplada. Nossa pandemia tem uma cara preta pobre e invisível”, disse Renata Souza, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP).
Cleonice Araúdo, da Rede Nacional de Pessoas Trans e Travestis Vivendo com HIV/AIDS reforçou: “Estamos falando de uma luta pela sobrevivência, de uma epidemia que nasceu há muitos anos. Estamos aqui produzindo coletivamente uma resposta. Eu fui muito discriminada quando assumi a minha sorologia, mas posso afirmar que sozinha ando bem, mas acompanhada ando melhor.”
Em sua fala de encerramento do GT UNAIDS, a Dra. Socorro Gross, representante da OMS/OPAS no Brasil, reconheceu o esforço coletivo feito por governos, sociedade civil e agências, fundos e programas da ONU. “O Brasil segue sendo uma referência na resposta ao HIV, especialmente quando vemos os retrocessos ocorridos em muitos outros países. Temos de continuar lutando para que todas as pessoas possam viver plenamente, e não apenas sobreviver”.