Já faz mais de meio século que as Nações Unidas proclamaram o 21 de março como o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. Nesse dia, em 1960, a polícia abriu fogo sobre uma multidão de manifestantes pacíficos que se levantavam e se manifestavam contra o apartheid na África do Sul.
Dezenas de pessoas foram mortas naquele dia. Foram necessários mais 30 anos de esforços para que a legislação do apartheid fosse revogada, durante os quais milhões de pessoas negras do continente africanos foram removidas de suas casas e forçadas a viver em bairros segregados. O mundo disse: “Nunca mais…”.
No entanto, hoje o racismo continua a prosperar, aprofundando desigualdades, segregando sociedades e negando às pessoas seus direitos humanos básicos, sendo a saúde um destes direitos.
O racismo é uma questão de saúde pública e de direitos humanos de preocupação global. O racismo acaba sendo um determinante-chave de muitas doenças e definindo quem tem acesso à prevenção, tratamento, cuidados de saúde com qualidade e bem-estar geral que salvam vidas.
As grandes disparidades raciais e étnicas no acesso aos serviços de HIV são evidentes. Embora a população negra seja a grande maioria na África do Sul, e também a grande maioria das pessoas vivendo com HIV, os serviços do setor público dos quais dependem são tipicamente de menor qualidade do que os serviços do setor privado disponíveis para as pessoas brancas. Nos Estados Unidos, a população afro-americana é 12% da total nacional, mas representa 41% dos novos diagnósticos de HIV e mortes relacionadas à AIDS. Para acabar com a AIDS, é imperativo acabar com as desigualdades que a impulsionam e isso inclui o enfrentamento das desigualdades raciais.
No Brasil, segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, os números de casos de AIDS, entre 2010 e 2020, caíram 9,8 pontos percentuais entre pessoas brancas, mas no mesmo período houve um aumento de 12,9 pontos percentuais na proporção de casos entre as pessoas negras.
A história deveria ter nos ensinado as consequências mais terríveis do racismo e da iniquidade, mas o racismo continua a existir em todos os países. A pandemia da COVID-19 e o consequente apartheid de vacinas é um forte lembrete disso, e têm custado a cada um de nós o caminho de saída mais rápido e menos prejudicial da crise.
A incapacidade de combater o racismo continuará a custar milhões de vidas e meios de subsistência em todo o mundo, seguirá impedindo o progresso no combate à pobreza, além de bloquear os esforços de desenvolvimento e ameaçar a saúde pública global e a segurança econômica. Não nos enganemos: os custos da desigualdade não estão confinados aos que vivem nos países mais pobres.
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. No Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial devemos traçar um novo caminho para assegurar os direitos de todas as pessoas em todas as nações e levantar nossa voz para agir contra o racismo.