As líderes mulheres têm fornecido uma luz orientadora para o mundo na resposta à crise de COVID-19, desde chefes de governo a coordenadoras de movimentos sociais de base. Elas recordaram ao mundo o quão crucial é ter um número crítico de mulheres em posições de liderança, em toda a sua diversidade.
Mas a crise de COVID-19 tem visto o progresso no sentido da igualdade ser adiado. Aumentou a lacuna entre mulheres e homens na riqueza, no rendimento, no acesso aos serviços, no trabalho de cuidados não remunerados, no status e no poder.
Até mais 20 milhões de meninas e mulheres jovens em idade escolar podem deixar a escola após a crise. Muitas podem nunca voltar à escola ou ter acesso a competências e oportunidades econômicas, e correrão maiores riscos de violência, saúde precária, pobreza e muito mais.
Mais dois milhões e meio de meninas estão agora em risco de casamento infantil nos próximos cinco anos. Tem acontecido um aumento dramático da violência contra as mulheres.
Pandemias como a de COVID-19 e o HIV ampliam as falhas na sociedade e aprofundam as vulnerabilidades. As desigualdades e a violência baseadas em gênero e intersecções da desigualdade retêm as vidas de mulheres e meninas em todo o mundo.
A pandemia destacou, de forma dolorosa, que mesmo antes da COVID-19, estimava-se que 34 milhões de meninas entre os 12 e os 14 anos de idade estavam fora da escola, uma em cada três mulheres no mundo inteiro relatou ter sofrido violência física ou sexual e as mulheres no mundo inteiro trabalharam mais horas por menos ou nenhum salário.
As mulheres que já foram estigmatizadas estão entre as que estão a ser mais duramente atingidas pelos impactos da pandemia. A súbita perda da renda das trabalhadoras do sexo e a sua falta de acesso aos cuidados de saúde e à proteção social intensificaram as suas vulnerabilidades, especialmente para as que vivem com o HIV. Muitas mulheres migrantes e trabalhadoras precárias afetadas adversamente pela pandemia são excluídas dos programas governamentais de ajuda e proteção, bem como dos serviços de saúde. O estigma, a discriminação e a criminalização colocam as mulheres trans e as mulheres que usam drogas, em risco acrescido de infecção por HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, e impedem-nas de acessar os serviços de prevenção, tratamento e cuidados de saúde contra o HIV.
As estratégias de recuperação não podem ser ignoradas ou neutras do ponto de vista do gênero: devem inverter as desigualdades que impedem as mulheres de acessar os serviços de prevenção, tratamento e cuidados.
Juntos, o UNAIDS, a ONU Mulheres, o UNICEF, a UNESCO e o UNFPA convocaram um amplo movimento, Education Plus (Mais Educação, na tradução livre para o português), para trabalhar com os governos no sentido de assegurar as mudanças transformadoras que permitirão que todas as adolescentes africanas estejam na escola, seguras e fortes. Isto inclui todas as meninas que foram expulsas da escola durante a crise de COVID-19 e as que foram excluídas da escola mesmo antes de a crise ter sido atingida.
Acabar com as novas infecções por HIV e mortes relacionadas com a AIDS e superar a crise de COVID-19 exigem que nos aproximemos das desigualdades que conduzem às vulnerabilidades. A nova estratégia global para a AIDS 2021-2026 coloca os direitos e as múltiplas e diversas necessidades das mulheres e meninas ao longo do seu ciclo de vida no centro da resposta: desde a prevenção da transmissão vertical até o acesso a uma educação de qualidade em ambientes seguros e de apoio, passando pela garantia de uma educação sexual abrangente e serviços holísticos de saúde sexual e reprodutiva.
A desigualdade de gênero não é apenas errada. É perigosa. Enfraquece a todos e todas nós. Um mundo mais igualitário será mais capaz de responder melhor a pandemias e outros momentos de crise; isso nos deixará mais saudáveis, mais seguros e mais prósperos.
O progresso na igualdade entre gêneros nunca foi automático. Nunca foi dado, sempre foi ganho.
Estamos inspirados e inspiradas pelos movimentos de mulheres que lideram a luta pela igualdade. As Nações Unidas estão ao seu lado para fazer avançar um mundo onde mulheres e meninas em toda a sua diversidade prosperarão e ocuparão os seus devidos lugares como iguais.
Neste Dia Internacional da Mulher, vamos apoiar e celebrar a liderança das mulheres.
Winnie Byanyima
Diretora executiva do UNAIDS
Subsecretária-Geral das Nações Unidas
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