“Sem a nossa voz, você está agindo por você, não por nós”, disse Winny Obure, líder juvenil e defensora dos direitos das mulheres do Quênia, nas Nações Unidas em Nova York.
Juntaram-se a Winny outras jovens que exigem o fim dos obstáculos aos direitos sexuais e reprodutivos e pedem pelo empoderamento das adolescentes. O evento Step It Up! foi um chamado à ação para as meninas adolescentes que são deixadas para trás e foi convocado por UNAIDS, Rede ATHENA, governos da Austrália e da Namíbia e ONU Mulheres, com 25 parceiros das Nações Unidas e da sociedade civil.
Meninas adolescentes e mulheres jovens ainda são afetadas desproporcionalmente pelo HIV. Um milhão de meninas adolescentes vivem com HIV em todo o mundo e, a cada semana, 7 mil meninas adolescentes e mulheres jovens são infectadas pelo vírus. A educação abrangente sobre sexualidade é tão limitada que os níveis de conhecimento sobre prevenção do HIV entre os jovens permaneceram inalterados nos últimos 20 anos.
“Não alcançaremos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável se as vozes e aspirações das meninas adolescentes forem oprimidas”, disse Gunilla Carlsson, Diretora Executiva Adjunta do UNAIDS. “Onde está a responsabilização pelos milhões de meninas adolescentes sendo deixadas para trás?”
Com frequência, as adolescentes permanecem invisíveis para os tomadores de decisão, especialmente se pertencem a grupos discriminados, criminalizados ou estigmatizados. Como muitas das participantes apontaram, elas estão sujeitas a violações de direitos humanos, incluindo violência e práticas danosas, e a negação de sua saúde e direitos sexuais e reprodutivos.
“Precisamos nos afastar das salas de reunião e ir às comunidades para conversar com meninas adolescentes e mulheres jovens. Precisamos abordar a singularidade dos grupos específicos, de suas necessidades únicas. Temos as soluções, é apenas uma questão de nos incluir na discussão”, disse Maximina Jokonya, uma jovem do Zimbábue.
“As garotas adolescentes costumam ficar fora da vista e do pensamento e não estão onde está o poder, que ainda fica com os homens”, disse Sharman Stone, Embaixadora para Mulheres e Meninas da Austrália. Ela destacou as barreiras que as meninas enfrentam no Pacífico, onde têm os métodos contraceptivos negados e são submetidas a altos níveis de violência. Ela disse que uma das prioridades da Austrália durante as crises humanitárias é garantir o acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva.
A Ministra para Igualdade de Gênero e Bem-Estar da Criança da Namíbia, Doreen Sioka, falou sobre defender os direitos de meninas adolescentes e mulheres jovens, educação sexual abrangente e serviços integrados de saúde sexual e reprodutiva e de HIV. Ela descreveu as principais realizações no cumprimento das metas internacionais para o HIV. Uma nova lei na Namíbia garante o direito de todas as crianças a acessar serviços essenciais—agora, com 14 anos, as crianças podem fazer o teste de HIV sem necessidade de permissão de seus pais ou responsáveis.
As jovens do evento destacaram suas realidades e oportunidades restritas, assim como o que funciona para melhorar suas vidas. Deneka Thomas, de Trinidade e Tobago, descreveu como usa a arte nas escolas para interagir com jovens lésbicas, gays, bissexuais e transexuais e meninas traumatizadas por bullying, estupro e outras formas de violência.
Raouf Kamel, da AIDS Argélia, falou sobre a iniciativa inédita no Oriente Médio e no Norte da África de ouvir as vozes e as experiências de grupos de mulheres especialmente marginalizadas. Todos as mulheres ouvidas já passaram por situações de violência, apontando para a adolescência como um ponto crucial, quando os riscos para saúde e segurança e infecção por HIV são especialmente marcantes.
As participantes concluíram que muito mais precisa ser feito para atender às necessidades e direitos das adolescentes. Investir em educação inclusiva e de qualidade, em serviços de HIV e saúde sexual e reprodutiva e em saúde mental é fundamental. Outras ações importantes incluem prevenção e resposta à violência baseada em gênero, promoção dos direitos das mulheres, engajamento de meninos, investimento em organizações juvenis e em iniciativas baseadas na comunidade lideradas por mulheres jovens.
O evento foi realizado em 13 de março, em paralelo à 63ª Sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres.
CITAÇÕES
“Eu não aprendo nada porque os professores não conseguem se comunicar comigo. Onde uma pessoa com deficiência e vivendo com HIV deve ir para ter acesso a serviços?”
Agness Chindimba, #Whatwomenwant, Fundadora do Fundo de Mídia para Surdos de Zimbabwe, Participante do Programa Mandela Washington para Jovens Líderes Africanos, Universidade De Delaware
“Agora podemos falar livremente sem sermos julgadas… temos transformação para as meninas, que agora estão reivindicando seus direitos.”
Nirmala Gurung, Coordenadora da Associação Cristã de Mulheres Jovens do Nepal e membro do Comitê Executivo da Conferência Cristã da Ásia
“Por cada jovem que vive com HIV porque nossas políticas, governos e agências não estavam dispostas a reconhecer que havia jovens vulneráveis que precisavam desesperadamente de apoio. Por isso, somos culpados… Esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são sobre elas. Elas precisarão viver com o que fazemos ou o que não fazemos hoje.”
Gita Sem, Membro do Painel de Responsabilização Independente do Secretário-Geral para a Iniciativa Cada Mulher, Cada Criança, Cada Adolescente e Professora na Fundação de Saúde Pública da Índia