UNAIDS Brasil se une às vozes da diversidade para celebrar a saúde e o bem-estar das mulheres lésbicas neste dia 29 de agosto, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. O estigma e a discriminação—e até mesmo a violência sexual—vividos por essas mulheres em decorrência de sua orientação sexual dificultam o acesso a serviços de saúde relacionados ao HIV e a saúde sexual e reprodutiva.
De acordo com o relatório Community Innovation: Achieving sexual and reproductive health and rights for women and girls through the HIV response (Inovação comunitária: alcançando saúde e direitos sexuais reprodutivos para mulheres e meninas através da resposta ao HIV), produzido pelo UNAIDS em parceria com a Athena Network, em geral, as políticas públicas de saúde voltadas ao cuidado do HIV e de outras ISTs tendem a negligenciar a documentação disponível sobre violência de gênero e discriminação contra mulheres que se identificam como lésbicas ou bissexuais.
Em entrevista ao UNAIDS Brasil, Fernanda Soares, ativista lésbica, influenciadora digital e criadora de conteúdo do Canal das Bee, relatou que percebe um despreparo por parte de profissionais da saúde no trato com mulheres lésbicas. “Como a transmissão do HIV e outras ISTs é mais difícil, existe essa lenda de que mulheres lésbicas não tem risco. Isso vem também pela falta de informação sobre formas se sexo seguro entre duas mulheres”, conta. “Tudo que aprendi sobre saúde sexual lésbica foi por meio da internet, com textos e vídeos, na maioria das vezes estrangeiros. Essas informações infelizmente não estão tão acessíveis para mulheres em geral. Logo acho que as mulheres lésbicas e bissexuais são mal informadas. Sabemos apenas como prevenir gravidez e ISTs com camisinha. E só!”. Fernanda relata que também já ouviu muitas mulheres lésbicas dizerem que não se relacionam com mulheres bissexuais por medo de trazerem ISTs.
Embora os métodos de prevenção sejam escassos, a Avert, renomada organização internacional de caridade para o HIV e a AIDS, elenca algumas condutas preventivas, como manter-se sempre atualizada sobre seu estado sorológico para ISTs e saber que o sexo é mais seguro quando nenhum fluido corpóreo externo entra em seu corpo (como secreções vaginais, leite materno e sangue, inclusive o menstrual).
“No cotidiano do atendimento, escuto sobre a dificuldade de utilizar métodos de barreira nas práticas sexuais com mulher e a vontade de conhecer ou de esclarecer dúvidas sobre os riscos de adquirir ISTs,” conta Dra. Andrea Rufino, médica ginecologista especialista em saúde sexual de mulheres lésbicas e bissexuais e professora da Universidade Estadual do Piauí. “O desconhecimento médico do risco de transmissão do HPV na prática sexual entre mulheres pode influenciar na falta de solicitação do exame de Papanicolaou, uma atitude muito comum nesta população”.
Visibilidade bissexual
É importante dar visibilidade e endereçar questões de saúde para mulheres bissexuais, que também sofrem com a falta de informação e principalmente com a invisibilidade. A educadora Renata Schiavone se identifica como mulher bissexual e relata ter tido boas experiências em serviços de saúde sexual desde adolescente, inclusive quando se tornou mãe em seu primeiro casamento com um homem. No entanto, ela afirma saber que isso não é a realidade para todas as mulheres que se relacionam com outras mulheres.
“Eu acho que tive muita sorte com os profissionais de saúde com quem me tratei, mas, no geral, o que a gente ouve é que o profissional não considera uma relação lésbica uma relação de risco”, conta. “Às vezes, acham que porque você namora com uma mulher você nem precisa fazer exame.”
Ainda existem obstáculos para mulheres lésbicas e bissexuais encontrarem informações sobre prevenção de ISTs, além do despreparo, falta de conhecimento específico por parte dos profissionais da saúde. Todos esses fatores contribuem para um cenário de estigma, discriminação e invisibilidade dessa população.
A Agenda para Zero Discriminação nos Serviços de Saúde do UNAIDS busca alcançar uma visão comum de que todas as pessoas, em toda parte, usufruam de serviços de saúde sem discriminação, ao reunir as principais partes interessadas para ações conjuntas.