Por Tom Rosshirt – Publicado originalmente no Creators Syndicate em 20 de junho de 2012
Meu irmão Matt morreu por complicações da AIDS há 26 anos, em sua cama, na casa dos meus pais em Houston.
Foi um tempo sombrio para pessoas com AIDS. Não havia antirretrovirais. Não havia muito o que fazer para um paciente de AIDS, além de segurar sua mão. E muitas pessoas ainda achavam que você poderia contrair AIDS pelo toque. Meus pais conheciam indivíduos que haviam sido demitidos de seus empregos por se tornarem voluntários para organizações de AIDS. O medo era louco assim.
Enquanto Matt estava morrendo, fomos ajudados por um homem chamado Lou Tesconi, um voluntário da organização local de AIDS. Lou veio visitar Matt e oferecer qualquer serviço e gentileza que pudesse para minha mãe e meu pai.
Pouco depois de Matt morrer, Lou começou os estudos para se tornar um padre católico. Em um ano, ele foi diagnosticado com AIDS e expulso do seminário. Lou era um advogado de formação e temperamento. Ele recorreu do julgamento a um bispo católico, que então pediu a Lou para fundar e liderar um ministério para pessoas com AIDS. Chamava-se Damien Ministries e foi estabelecido em uma parte pobre de Washington, D.C.
No início de 1989, quando o país ainda era muito ignorante e tinha medo da AIDS, Lou recebeu um telefonema da Casa Branca. A primeira-dama, Barbara Bush, estava planejando visitar a Casa da Vovó, uma casa para crianças com AIDS. Foi um dos primeiros passeios em sua gestão como primeira-dama e Lou foi convidado a se juntar a uma equipe de pessoas para informá-la em particular antes do evento.
Durante as instruções, Lou disse: “Sra. Bush, é fantástico que você está segurando esses bebês com AIDS. Mas o país os vê como inocentes e o resto de nós com AIDS como culpados. Toda a comunidade que sofre com a AIDS precisa do seu abraço coletivo hoje”, contou-me depois.
Lou pensou que estava falando metaforicamente. Aparentemente, a sra. Bush não usa metáforas. Ela se levantou, caminhou até ele e deu-lhe um grande abraço.
Após as instruções, a sra. Bush fez um tour pelas instalações enquanto conversava com a imprensa. Ela abraçou, beijou e brincou com três meninas e depois cravou a mensagem: “Você pode abraçar e pegar bebês e pessoas que tenham… HIV. Há uma necessidade de compaixão.”
Na coletiva de imprensa mais tarde, Lou reafirmou sua opinião sobre a visita da sra. Bush: “Temo que isso possa enviar uma mensagem de que bebês são inocentes e podem ser ajudados”, disse ele, “mas que o resto de nós não é”. Ele acrescentou: “Eu disse a ela que, certamente, obter um abraço coletivo da primeira-dama ajudaria”.
Então, novamente, desta vez em frente às câmeras, a sra. Bush envolveu Lou em um grande abraço.
A sra. Bush escreveu sobre essa visita em suas memórias. Ela observou que “mesmo assim, as pessoas ainda achavam que tocar uma pessoa com o vírus era perigoso”. Mas ela não se deu nenhum crédito por ter dado um golpe contra o estigma ao abraçar um homem gay com AIDS em 1989.
Lou sentiu uma inquietação com aquele abraço que nunca foi embora.
No outono de 1991, perto do Dia de Ação de Graças, recebi uma ligação de um amigo dizendo que Lou estava no hospital novamente. Ele não precisou me dizer que era pela última vez. Liguei para a Casa Branca e perguntei se poderia falar com o escritório da primeira-dama. Eu não era da imprensa e nem ninguém do topo. Eu não esperava que ninguém da Casa Branca falasse comigo. De repente, eu estava conversando com a secretária de imprensa da primeira-dama, Anna Perez, que acompanhou a sra. Bush até a Casa da Vovó naquele dia. Comecei a contar os acontecimentos de dois anos antes e ela poupou meu tempo: “Lembro-me do senhor Tesconi”, disse ela. Expliquei a condição de Lou e disse: “Seria muito reconfortante para ele receber uma carta da sra. Bush”.
Alguns dias depois, fui ver Lou no hospital. Assim que ele me viu, esticou sua mão lenta e trêmula e tirou uma carta: “Olha o que eu ganhei”, disse ele.
A carta era inabalável e cheia de amor. Ela não se esquivou da questão de que Lou estava morrendo. Ela usou isso como um pivô para dizer: “Bom trabalho.” Ao final, do próprio punho, ela escreveu para Lou que sua vida importava, que ele tinha causado um impacto.
Isso foi há muito tempo atrás. Mas algumas coisas que você não esquece—e não deveria. Em um momento de ignorância, seu toque sábio aliviou a dor da exclusão do meu amigo e de muitos outros.
Obrigado, sra. Bush.
Tom Rosshirt era redator de discursos de segurança nacional do presidente Bill Clinton e porta-voz de relações exteriores do vice-presidente Al Gore.