Celulares oferecem imenso potencial de avanço para os sistemas de e-Saúde

Shiv Kumar, da Swasti Health Catalyst, na Índia, decidiu construir um aplicativo mobile e web chamado Taaras (progresso acelerado). Ele observou educadores de pares trabalhando com profissionais do sexo em Bangalore, na Índia, e percebeu que poderia tornar o trabalho muito mais simples e eficiente. A cidade do sudeste da Índia tornou-se um grande centro e, como resultado, a população cresceu, assim como a quantidade de profissionais do sexo.

Depois de ver funcionários de campo, principalmente ex-profissionais do sexo, carregando cadernos, anotando informações e lembrando de compromissos e atendimentos, Kumar criou um aplicativo que ajuda na coleta de dados. “Ícones e swipes permitem que os agentes em campo registrem todos os tipos de informações e depois continuem de onde pararam”, disse Kumar. Através do aplicativo, também é possível que enviem mensagens de texto com convites e lembretes para vários destinatários.

“A proximidade não pode mais ser uma via de mão única. Você tem que envolver o paciente”, disse ele.

O aplicativo foi lançado em cinco estados indianos em inglês, além de quatro idiomas regionais. Desde a sua estreia em março de 2016, são mais de 400 usuários acompanhando cerca de 120 mil profissionais do sexo.

Natranity, funcionária de apoio de Bangalore, disse que tem muito menos papel para lidar. “Todos os dados estão agora em um único lugar, ao invés de cinco ou seis registros que eu tive que consultar”, disse ela. Seu colega, Abdul, concordou: “Eu vejo cerca de 10 a 15 pessoas por dia e não fazer perguntas repetidas me poupa muito tempo, porque posso simplesmente o perfil delas.”

Os telefones tinham seus limites, eles explicaram. “Na fase inicial, é importante criar confiança para evitar qualquer desconforto, caso eles pensem que estamos tirando fotos ou gravando”, disse Natranity.

Prachi Patel, uma desenvolvedora de tecnologia da Swasti, vê o Taaras como uma ponte para uma solução geral. “O aplicativo é um auxiliar; os trabalhadores em campo ainda fazem toda a conversa”, disse ela. Um subproduto do aplicativo tem sido um engajamento maior com profissionais do sexo e um aumento no relato de incidentes de violência. Para garantir a confidencialidade, o aplicativo tem uma senha especial que embaralha os dados caso alguém tente acessar as informações.

O Assessor Sênior do UNAIDS, Philippe Lepère, elogia esses esforços e acredita que a e-saúde tem um potencial enorme, pois pode fortalecer os sistemas de saúde e capacitar as pessoas para que gerenciem seus próprios cuidados. Referindo-se às Diretrizes da Organização Mundial da Saúde sobre o uso de medicamentos antirretrovirais para tratar e prevenir a infecção pelo HIV: recomendações para uma abordagem de saúde pública, ele disse que defende o uso de mensagens de texto para lembrar as pessoas de fazerem o tratamento e encorajar pessoas recém-diagnosticadas a procurar os serviços.

Para que isso funcione, no entanto, ele ressaltou a importância da confidencialidade e do respeito do usuário. “Receber um SMS relacionado ao HIV pode ter consequências drásticas em algumas comunidades”, explicou. É por isso que, segundo ele, o conteúdo e a frequência precisam ser decididos previamente. “Mais importante ainda, é urgente avançar de estudos-piloto para uma implementação maior de programas em uma escala grande o suficiente para ser integrada aos sistemas de saúde”, disse Lepère.

“Em certos países, os aplicativos digitais inundaram o mercado e o governo não tem como acessar os dados ou fazer qualquer controle de qualidade”, disse ele.

Hani Eskandar, da União Internacional de Telecomunicações, considera definitivamente que os telefones celulares podem abrir o caminho para a cobertura universal de saúde.

Mas, na sua opinião, os sistemas de e-saúde estão longe de ser uma realidade. “Os países ainda não entenderam os benefícios porque estão focados em vacinas e na construção de hospitais, em vez da divulgação”, disse ele. Eskandar está pressionando governos para que reconstruam infraestruturas que integrem plataformas digitais.

“É simples”, disse ele. “Precisamos que as mentalidades mudem em todos os níveis e parem de pensar que o telefone é apenas um dispositivo.”

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