Em artigo editorial publicado na edição francesa do Huffpost, dia 20 de julho de 2017, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o Diretor Executivo do UNAIDS, Michel Sidibé, falam sobre os avanços e desafios da resposta ao HIV. Confira abaixo a tradução livre para o português, feita pela equipe do UNAIDS no Brasil:
“Tentar o impossível. Torná-lo uma realidade. Essa é a história da luta contra a AIDS.
O que parecia impossível há apenas uma década é agora um fato comprovado: as pessoas HIV-positivas em tratamento podem viver muito tempo, de forma saudável, e não transmitir o vírus a seus parceiros. Se todas as pessoas que vivem com HIV no mundo fossem diagnosticados, recebessem um tratamento, tivessem condições de vida aceitáveis, que lhes permitissem receber um acompanhamento médico regular, o vírus responsável pela AIDS seria cada vez menos transmitido até alcançarmos zero nova infecção.
Para conseguir isso, respostas locais, sendo mais próximas das pessoas e das comunidades em necessidade, devem ser criadas. É que a epidemia de HIV afeta de maneira desproporcional algumas populações e alguns territórios, especialmente as grandes cidades, onde vive a maioria das pessoas infectadas. Paris sozinha responde por 20% das novas infecções pelo HIV na França a cada ano (e representa apenas 3% da população nacional); 90% desses novos diagnósticos são entre homens que fazem sexo com homens ou entre pessoas nascidas em um país de alta prevalência, principalmente da África ou do Caribe, mas que acabam se infectando na França, na proporção de um terço a até metade dos casos.
Cidade emblemática da luta contra a AIDS, Paris é precursora do movimento internacional das cidades para acabar com a epidemia até 2030, alcançando as metas 90-90-90 do UNAIDS que combinam um objetivo de diagnóstico, um objetivo de acesso ao tratamento e um objetivo de qualidade do tratamento.
No momento em que a capital francesa acolhe a conferência mundial sobre a AIDS, comemoramos o fato de que Paris está prestes a alcançar esses objetivos. Mais de 90% das pessoas que sabem que são HIV-positivas têm acesso ao tratamento e 94% das que receberam tratamento por mais de seis meses têm uma carga viral indetectável.
A que são devidos esses progressos notáveis? A uma vontade política e a uma determinação infalível de todos os atores.
Os dados mais recentes do UNAIDS, de fato, mostram uma aceleração acentuada do progresso realizado. Desde 2006, as mortes relacionadas à AIDS caíram 47% e o número de novas infecções por HIV diminuiu 16% entre 2010 e 2016. Durante o mesmo período, o número de pessoas com acesso à terapia antirretroviral mais do que dobrou: até o momento, metade das pessoas que vivem com HIV no mundo tem acesso ao tratamento. Esses progressos devem ser elogiados e apoiados.
Mas se a resposta à epidemia da AIDS demonstra uma força inegável, suas fraquezas também são reais. Devemos incansavelmente lutar por uma maior inclusão, para comunidades mais fortes, para financiamentos sustentáveis, e para que tenhamos sempre a coragem de uma ambição à altura da necessidade.
Hoje a maioria dos cuidados de saúde de rotina podem ser fornecidos por agentes comunitários de saúde bem formados. É por isso que o UNAIDS aplaude a decisão da União Africana para recrutar e formar 2 milhões de agentes comunitários de saúde remunerados na África.
Para acabar com a AIDS, falta 7 bilhões de dólares por ano, dos 26 bilhões necessários, até 2020. Novos métodos de financiamento são necessários e devem ser melhor orientados. O imposto sobre as transações financeiras comporta um potencial amplamente inexplorado. Além de seu compromisso local, a Prefeitura de Paris gasta, cada ano, 1,8 milhão de euros para a luta contra a AIDS na África através do apoio a organizações da sociedade civil. Outras cidades deveriam seguir essa via.
“Juntos, devemos nos mobilizar incansavelmente
para assegurar que, em cada cidade, em cada bairro,
em cada comunidade, ninguém seja deixado de fora.
Acabar com a epidemia de AIDS é possível.”
Hoje, 19,5 milhões de pessoas que vivem com HIV em todo o mundo têm acesso à terapia antirretroviral, mas um número quase equivalente é privado deste acesso. Na África Ocidental, apenas uma pessoa entre três que vivem com HIV recebe tratamento. Isto é inaceitável, daí o plano de aceleração inspirado pelo UNAIDS e a ONG Médicos sem Fronteiras e desenvolvido por países da região para mudar isso. Da mesma forma, enquanto o número de novas infecções caiu 16% em todo o mundo desde 2010, aumentou 60% na Europa Oriental e na Ásia Central, onde apenas 28% das pessoas que vivem com HIV têm acesso aos tratamentos.
Em países onde as populações-chave são deixados para trás, onde todas as ferramentas de testagem, redução de danos e prevenção não estão disponíveis, as cidades e seus eleitos locais devem assumir a liderança para uma resposta corajosa.
Juntos, devemos nos mobilizar incansavelmente para assegurar que, em cada cidade, em cada bairro, em cada comunidade, ninguém seja deixado de fora. Acabar com a epidemia de AIDS é possível.”
Artigo editorial escrito por Anne Hidalgo (Prefeita de Paris) e Michel Sidibé (Diretor Executivo do UNAIDS), publicada no dia 20/7/2017, na edição francesa do HuffPost.