Um novo relatório do UNAIDS revela tendências relacionadas a novas infecções pelo HIV entre adultos. O relatório Lacuna na Prevenção (Prevention Gap em inglês) mostra que, enquanto progressos significativos têm sido feitos para eliminar novas infecções pelo HIV entre crianças (as novas infecções entre crianças diminuíram em mais de 70% desde 2001 e continuam a cair), o declínio nas novas infecções pelo HIV entre adultos mantém-se estável. O relatório mostra que a prevenção do HIV precisa ser expandida urgentemente nesta faixa etária.
A lacuna da prevenção do HIV entre adultos
O relatório Lacuna na Prevenção estima que 1,9 milhão de adultos foram infectados pelo HIV a cada ano nos últimos cinco anos pelo menos, e que as novas infecções pelo HIV têm aumentando em algumas regiões. Segundo o relatório, os esforços para a prevenção devem ser intensificados para que o mundo continue acelerando a resposta e alcance o fim da AIDS até 2030.
“Estamos soando o alarme”, disse Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS. “O poder da prevenção não está sendo concretizado. Se ocorrer uma ressurgência no número de novas infecções pelo HIV agora, a epidemia se tornará incontrolável. O mundo precisa tomar medidas urgentes e imediatas para fechar a lacuna da prevenção”
A epidemia de AIDS teve um impacto enorme nos últimos 35 anos. Desde seu início, 35 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS e cerca de 78 milhões foram infectadas pelo HIV.
Equidade e acesso para populações-chave
Em 2014, as populações-chave, incluindo gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e seus clientes, pessoas trans, pessoas que usam drogas injetáveis e pessoas em situação de prisão representaram 35% das novas infecções pelo HIV em todo o mundo.
Estima-se que os homens que fazem sexo com homens possuem 24 vezes mais probabilidade de serem infectados pelo HIV que a população geral, enquanto profissionais do sexo são 10 vezes mais propensas e pessoas que usam drogas injetáveis têm 24 vezes mais probabilidade de serem infectadas do que a população em geral. Além disso, pessoas trans são 49 vezes mais propensas a estarem vivendo com HIV e pessoas em situação de prisão têm cinco vezes mais probabilidade do que os adultos da população em geral.
É essencial que as populações-chave tenham acesso a toda a gama de opções de prevenção do HIV, a fim de se protegerem e protegerem seus parceiros sexuais. “Atualmente, temos múltiplas opções de prevenção”, disse Sidibé. “A questão é acesso: se as pessoas não se sentem seguras ou não possuem os meios para acessar os serviços de prevenção combinada, não vamos conseguir acabar com esta epidemia.”
Os benefícios do tratamento do HIV para a prevenção ainda a serem alcançados
O relatório destaca que as principais expectativas de impacto da terapia antirretroviral na prevenção de novas infecções pelo HIV estão começando a ser alcançadas, embora nem todos os os seus benefícios poderão ser vistos nos próximos anos.
O relatório Lacuna na Prevenção estima que mais de metade de todas as pessoas vivendo com HIV (57%) agora conhecem sua sorologia, que 46% das pessoas vivendo com HIV têm acesso ao tratamento antirretroviral e que 38% de todas as pessoas que vivem com HIV atingiram a supressão viral, mantendo-se saudáveis e prevenindo a transmissão do vírus. Isso ressalta a necessidade urgente do cumprimento das metas do UNAIDS 90-90-90, para que o pleno potencial da terapia antirretroviral seja concretizado.
As metas 90-90-90 do UNAIDS prevêm que, até 2020: 90% das pessoas vivendo com HIV estejam diagnosticadas; que 90% deste grupo esteja retido em tratamento; e que 90% das pessoas em tratamento alcancem o nível indetectável para sua carga viral.
“Se ocorrer uma ressurgência no número de novas infecções pelo HIV agora, a epidemia se tornará incontrolável. O mundo precisa tomar medidas urgentes e imediatas para fechar a lacuna da prevenção”
Lacuna de financiamento da prevenção do HIV
Os relatórios de aumento do número de novas infecções pelo HIV são acompanhados de dados que revelam que o financiamento dos doadores caiu para o nível mais baixo desde 2010. As contribuições de doadores internacionais diminuíram de um pico de 9,7 bilhões de dólares em 2013 para 8,1 bilhões de dólares em 2015. Países de renda baixa e média estão intensificando os esforços para fechar esta lacuna através de recursos domésticos – que agora representam 57% do financiamento total de 19,2 bilhões de dólares em 2015.
O relatório mostra que, embora o financiamento internacional – a principal fonte para a prevenção do HIV em populações de maior risco – tenha diminuido, alguns importantes doadores estão fazendo compromissos corajosos para garantir que o financiamento alcance as populações mais afetadas pelo HIV. Em junho de 2016, os Estados Unidos anunciou o lançamento de um novo Fundo de Investimento para Populações-chave de 100 milhões de dólares para expandir o acesso aos serviços relacionados HIV entre essas populações.
A atual alocação de recursos para a prevenção do HIV está muito aquém do necessário. Atualmente, 20% dos recursos globais para o HIV são gastos em prevenção. O relatório indica que, para alcançar o maior impacto, o financiamento deve utilizar uma abordagem de local e população, com vistas a alcançar as pessoas em situações de maior risco com opções de prevenção combinada nos locais em que vivem e trabalham.
Lacunas regionais de prevenção do HIV
O relatório detalha a trajetória de novas infecções pelo HIV e observa quais as populações e locais têm sido mais afetados. Além diso, também descreve onde os países precisam fazer investimentos em prevenção mais adaptados.
Na África Oriental e Austral, por exemplo, três quartos de todas as novas infecções pelo HIV entre adolescentes com idade entre 10 e 19 anos ocorrem entre as meninas. As adolescentes são muitas vezes impedidas de acessarem serviços de HIV devido à desigualdade de gênero, a falta de serviços apropriados para a idade, o estigma, a falta de poder de decisão e a violência de gênero. Em 2014, apenas 57% dos países a nível mundial (de 104 países que forneceram dados) tinham uma estratégia de HIV com orçamento específico para as mulheres. Estima-se que, em todo o mundo, apenas três em cada 10 meninas adolescentes e mulheres jovens entre 15 e 24 anos possuem conhecimento abrangente e correto sobre o HIV. Alcançar meninas adolescentes e mulheres jovens, especialmente na África subsaariana, será essencial para o fim da epidemia de AIDS.
Na Europa Oriental e na Ásia Central, 51% das novas infecções por HIV estão entre pessoas que usam drogas injetáveis. Em 2015, mais de 80% das novas infecções por HIV da região ocorreram na Federação Russa. A epidemia está concentrada predominantemente entre as populações-chave e seus parceiros sexuais, em particular entre as pessoas que usam drogas injetáveis, que responderam por mais da metade das novas infecções por HIV em 2015. No entanto, a cobertura dos programas de prevenção é muito baixa, especialmente as intervenções de redução de danos entre pessoas que usam drogas injetáveis.
No Oriente Médio e Norte da África, 96% das novas infecções por HIV ocorrem entre populações-chave, predominantemente entre pessoas que usam drogas injetáveis, homens que fazem sexo com homens, mulheres profissionais do sexo e seus parceiros sexuais. No entanto, os programas de prevenção para homens que fazem sexo com homens e profissionais do sexo raramente recebem apoio de recursos internos ou de serviços públicos.
No oeste e centro da Europa e América do Norte, cerca de metade de todas as novas infecções por HIV ocorrem entre homens gays e e outros homens que fazem sexo com homens e, enquanto uma parte significativa dos recursos estão sendo investidos neste grupo-chave da população, os esforços de prevenção não estão sendo impactantes. Entre 2010 e 2014, novos casos diagnosticados de HIV entre homens que fazem sexo com homens aumentaram 17% na Europa Ocidental e Central e 8% na América do Norte.
O relatório mostra a complexidade da epidemia de AIDS e como as populações e os locais mais afetados mudam drasticamente em cada país e região. Ele também mostra que os investimentos precisam ser feitos em programas eficazes de HIV que comprovadamente fazem um diferença significativa na redução do número de novas infecções.
Prevenção combinada do HIV: lacunas e oportunidades
Em comparação a 20 anos atrás, quando as opções de prevenção do HIV eram limitadas, existe agora uma gama de opções disponíveis que podem atender as necessidades das pessoas ao longo da vida, protegendo-as do HIV.
O UNAIDS convoca os países a adotarem uma abordagem que considere o local e as populações nos esforços de enfrentamento ao HIV, considerando os cinco pilares de prevenção, que devem ser oferecidos de maneira abrangente e combinada:
“Ciência, inovação e pesquisa têm proporcionado novas e eficazes opções de prevenção, diagnóstico rápido e melhor tratamento do HIV”, disse Sidibé. “Investir em inovação é a única maneira de garantir o próximo grande avanço – uma cura ou uma vacina.”
Os dados do relatório, colhidos em mais de 160 países, demonstram que enormes ganhos podem ser alcançados se esforços articulados são realizados . Estima-se que, até 2015, cerca de 17 milhões de pessoas tiveram acesso à terapia antirretroviral – o dobro do número em 2010 e 22 vezes o número em 2000.
O UNAIDS convocará implementadores, inovadores, comunidades, cientistas, doadores e outros parceiros durante a Conferência Internacional de AIDS de 2016, que acontecerá entre 18 a 22 de julho, em Durban, na África do Sul, para eliminar a lacuna na prevenção.