Dados do último Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS do Ministério da Saúde (2015) apontam que 57,2% dos óbitos em decorrência da AIDS registrados em 2014 ocorreram entre entre pretos e pardos. O mesmo documento constata igualmente um aumento da epidemia entre as faixas etárias mais jovens de brasileiros. A taxa de detecção entre os de 15 a 19 anos aumentou mais de 300% de 2005 a 2014, passando de 2,1 para 6,7 casos de AIDS por 100 mil habitantes. Entre os jovens de 20 a 24 anos, a taxa de detecção quase dobrou (de 16 para 30,3 casos por 100 mil habitantes).
Para debater este cenário e seus desafios, diversos parceiros na resposta ao HIV/AIDS se uniram para a realização da Oficina do Grupo de Trabalho de Jovens Lideranças sobre Gênero, Raça e Vulnerabilidades ao HIV. Realizado no dia 14 de junho no Departamento de DST/AIDS e Hepatites Virais (DDAHV) do Ministério da Saúde, em Brasília, o encontro foi resultado da articulação e engajamento da juventude de diversos movimentos sociais organizados a partir da Força Tarefa Jovens Lideranças. O grupo é um desdobramento das atividades referentes às três edições do Curso de Formação de Jovens Lideranças para o Controle Social do SUS no mbito do HIV, realizadas pelo UNAIDS em parceria com o DDAHV, UNICEF, UNESCO e UNFPA.
A oficina também contou com o apoio do Grupo Temático Intersetorial de Gênero, Raça e Etnia das Nações Unidas no Brasil e participação especial do Geledés-Instituto da Mulher Negra e da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO). O encontro foi construído tendo como marcos de referência a Política Nacional de Saúde da População Negra e a Década Internacional dos Afrodescentes (2015-2025).
O objetivo do encontro foi propor um espaço plural para construção de um plano conjunto de enfrentamento ao racismo, tendo como foco questões ligadas a gênero, identidade de gênero e diversidade sexual, genocídio negro e saúde da população negra no âmbito do HIV/AIDS, com o objetivo de promover o fortalecimento e empoderamento da juventude negra brasileira.
Entre os diversos temas abordados durante a oficina estiveram: estratégias e ações identificadas para resposta à vulnerabilidade ao HIV com foco na juventude negra; racismo institucional; prevenção combinada; tratamento e cuidados relacionados ao HIV; participação da juventude negra na resposta à epidemia.
O recorte racial para enfrentamento do HIV/AIDS
Para Tamyllis Lírio, integrante do GT de Juventude Negra e presidente da Organização Não Governamental Nação Basquete de Rua, o combate à epidemia precisa promover um olhar diferenciado para as populações mais vulneráveis.
“Esse encontro foi uma grande conquista. Fruto de uma construção diária de jovens como nós, que moram distantes dos grandes centros e que enfrentam dificuldades de viver em uma sociedade racista, machista, LGBTfóbica e discriminatória”, ressaltou Tamyllis, que foi uma das participantes do Curso de Jovens Lideranças. “Nossa luta é diária, já que a população negra e jovem está no topo dos índices de vulnerabilidade. É um grande orgulho poder construir políticas públicas que irão atingir milhares de outros jovens que não tiveram as mesmas chances que nós.”
A técnica da Coordenadoria de Prevenção e Articulação Social do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais (DDAHV) do Ministério da Saúde, Damiana de Oliveira, mostrou dados que expressam os enfrentamentos da população negra quanto aos casos e mortes provocadas pelo HIV/AIDS.
“Quando você faz um recorte racial no número de pessoas que estão afetadas pela epidemia, observa-se que o maior número de infectados está na população negra. Em números de óbitos por AIDS no Brasil, a maioria está entre pretos e pardos”, apontou Damiana. “Quando você diferencia por gênero entre homens e mulheres, verifica que a população mais afetada é a de mulheres. Então, a mulher negra sempre tem os piores índices em relação ao HIV, tanto em número de infecções como em óbitos. É preciso, portanto, pensar em ações voltadas para a questão racial.”