Senhoras e senhores, boa noite.
Hoje estou aqui representando o Sr Michel Sidibé, Diretor Executivo do UNAIDS e suas agências co-patrocinadoras.
O 10º Congresso de AIDS e 3º Congresso de Hepatites Virais acontece em um momento oportuno.
O mundo acaba de adotar os Objetivos Globais para o Desenvolvimento Sustentável e as nações signatárias se comprometeram, coletivamente, a Acelerar a Resposta para chegarmos ao fim da epidemia de AIDS até 2030.
Vislumbrar o fim da epidemia não é mais utopia – é um compromisso.
Alcançamos este ano as metas para AIDS previstas no Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 6 (ODM 6), de parar e reverter o curso da epidemia de AIDS.
Pela primeira vez na história das Nações Unidas, conseguimos alcançar uma meta antes do prazo originalmente definido e colocar 15 milhões de pessoas em tratamento. Essa meta, aliás, era considerada inatingível por muitos, quando no ano 2000 tínhamos apenas 1 milhão de pessoas em tratamento.
Esse êxito se deve a um compromisso sem precedentes de governos, organismos internacionais, cientistas, setor privado, pessoas vivendo com HIV e a sociedade civil.
Mas nosso desafio ainda é grande.
O fim da epidemia requer ainda mais investimento, compromisso, engajamento e inovação.
Os últimos quilômetros de uma maratona são sempre os mais difíceis. É a hora do sprint final, de buscarmos fôlego onde já não achávamos que seria possível.
Imbuída desse espírito, duas semanas atrás, a Junta Coordenadora do UNAIDS aprovou a nova estratégia para o Programa Conjunto da ONU sobre HIV/AIDS, para o período de 2016 a 2021.
E a estratégia propõe novas metas:
A nova estratégia também estipula:
Estas metas demonstram bem que, para acabar com a AIDS, não é suficiente apenas o tratamento – é necessário reinventar a prevenção e promover a justiça social e os direitos humanos.
E estamos sedentos por mais justiça social e mais respeito aos direitos humanos.
Enquanto estamos aqui reunidos neste 10º Congresso de AIDS, vemos um recrudescimento global da intolerância e do extremismo.
Apenas no último mês vimos atentados covardes em Sharm El Sheik (no Egito), em Beirute (no Líbano) e em Paris (na França).
A intolerância que aparece de formas tão extremas, não foi criada da noite para o dia.
Aqui, bem mais perto de nós, também testemunhamos formas extremas de intolerância e de violência.
Um dos exemplos mais evidentes e tristes é a violência que sofrem nossas trans e travestis.
O Brasil hoje é o país onde mais se assassinam pessoas trans no mundo, segundo a organização Transgender Europe, que reuniu dados de janeiro de 2008 a dezembro de 2014.
De acordo com o levantamento, 40% dos assassinatos de pessoas trans na mundo aconteceram no Brasil.
Esse cenário traz consequências gravíssimas para a epidemia de AIDS. O UNAIDS estima que, mundialmente, cerca de 19% delas vivem com o vírus em todo o mundo.
A violência e discriminação que sofrem gays e outros homens que fazem sexo com homens também é inaceitável. Dados da Secretaria Nacional de Direitos Humanos mostram que em 2014, a cada hora, 1 gay sofreu violência no Brasil. E, como veremos em várias discussões do Congresso, essa população também é uma das mais vulneráveis à epidemia.
A violência contra mulheres também é alarmante: de acordo com o relatório conjunto da OPAS/ ONUMulheres/Secretaria Especial de Politica para Mulheres e da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), em 2013, 13 mulheres foram assassinadas por dia no Brasil. Um aumento de mais de 250% em relação a 1980. A maioria delas em casa, por seus companheiros ou pessoas da família.
Este também é mais um contexto de vulnerabilidade que traz números tristes sobre a epidemia. No mundo todo, AIDS continua sendo a maior causa de mortes de mulheres e meninas em idade reprodutiva.
Lembremo-nos também das diversas formas de violência e intolerância que atingem outras populações-chave: além das pessoas vivendo com HIV, as pessoas privadas de liberdade, os migrantes, as pessoas que injetam drogas e usuários de crack, profissionais do sexo, pessoas deslocadas, pessoas com deficiência e aquelas com 50 anos ou mais.
A violência e a intolerância ganham terreno porque há falta de educação e preparo dos nossos jovens – onde as questões de sexualidade e de gênero vêm sendo sistematicamente retiradas das escolas. E relatos de bullying e discriminação também seguem aumentando sistematicamente.
Intolerância que também vejo todos os dias, de forma muito próxima, quando recebo mensagens de jovens via Facebook, Whatsapp e e-mail. Denunciando violência, bullying, pedindo ajuda, pedindo que se respeitem seus direitos.
Direitos Humanos têm que ser parte central do nosso trabalho e estar no coração de nossas estratégias. São parte intrínseca do desenvolvimento de qualquer nação. Direitos humanos são universais e não podem ser plataforma de um ou outro partido. Precisam estar na agenda de todos os que acreditam no futuro do país.
A estratégia 2016-2021 do UNAIDS nos estimula a trabalhar para fortalecer os elos entre saúde e justiça, saúde e equidade, saúde a inclusão, saúde e bem estar, saúde a paz.
E estamos aqui para apoiá-los nesta empreitada.
Por isso, gostaria de concluir agradecendo o compromisso do governo brasileiro, governos estaduais e municipais, do Congresso e da Frente Parlamentar de Luta contra AIDS, da academia, do setor privado, da sociedade civil e de pessoas vivendo com HIV aqui no Brasil em relação ao avanço em direção as estas metas globais.
O Brasil tem sido um aliado de peso, e colocou em campo um arsenal muito importante contra a epidemia: sua estrutura governamental, novas tecnologias e sua ampla rede de saúde, além, é claro, de muita força de vontade e engajamento.
Meu agradecimento especial ao Dr Fábio Mesquita, que tem feito a diferença desde sua chegada ao Departamento em 2013.
Desde o inicio da epidemia, 76 milhões de pessoas se infectaram pelo HIV no mundo todo. Hoje são quase 37 milhões de pessoas vivendo com o vírus.
Nós temos o dever, em relação a essas pessoas, em relação aos nossos jovens e também às gerações futuras, de preparar um mundo – e um Brasil – com zero nova infecção, zero discriminação discriminação e zero morte relacionada à AIDS.
Aproveito para saudar a juventude aqui representada de diversas formas, em especial, ao pessoal do Curso de formação de Jovens Lideranças. É um prazer enorme vê-los aqui, participando deste momento tão importante.
O fim da epidemia de AIDS deve ser o nosso legado – e nós acreditamos firmemente que isso é possível.
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