Aos 43 anos, Ariadne Ribeiro Ferreira, mulher trans que trabalha para o UNAIDS no Brasil, dialoga com lideranças e com a mídia ao redor do mundo. Como ela é uma inspiração para colegas, há mais para saber sobre sua história.
Desde jovem, Ariadne sentia que era diferente das pessoas do seu convívio. “Quando minha irmã nasceu, eu entendi, ainda criança, que eu era como ela”, lembra Ariadne.
O contexto de Ariadne, já desafiadora, tornou-se perigosa quando sua mãe se casou novamente. “Meu padrasto me batia quase todos os dias, me repreendendo pela forma como eu vivia”, ela recorda.
Aos 13 anos, Ariadne foi forçada a sair de casa. “Eu não tive escolha”, ela lembra. Apesar dessas dificuldades, ela teve a sorte de ter uma avó que a acolheu e lhe deu apoio. “Minha avó era diferente do resto da família. Ela era como uma professora para mim”, reflete Ariadne. Sua avó tinha uma amiga trans chamada Zezé, uma ativista que também inspirou Ariadne.
Aos dezoito anos, enquanto morava com sua avó, a vida de Ariadne mudou quando ela ouviu no rádio que um hospital local começaria a oferecer cirurgias de redesignação com apoio do estado. “Minha avó ficou radiante com a notícia. Celebramos dançando juntas”, lembra Ariadne com um sorriso. Pouco tempo depois, Ariadne começou a ser acompanhada por equipe de saúde para a cirurgia.
No entanto, naquele mesmo ano, ela passou por um evento traumático quando testou positivo para o HIV após ser vítima de estupro. apesar da violência sofrida, ela se recusou a desistir. Ela começou o tratamento e continuou sua vida com determinação e resiliência.
Aos 24 anos, ela havia completado todas as suas cirurgias e foi legalmente registrada como mulher. Ariadne mudou oficialmente seu nome em todos os seus documentos.
Ela buscou a educação para abrir oportunidades. “Tive a chance de me especializar na UNIFESP, uma das melhores universidades do Brasil. Desde então, continuei minha trajetória acadêmica, cursando uma especialização, um mestrado e, recentemente, um doutorado.”
Ariadne começou sua carreira na área da saúde em Itanhaém (SP), onde trabalhou em um programa de educação entre pares em uma unidade de saúde e contribuiu para um acordo de cooperação com o Governo do Estado. “Eu me concentrei em programas de prevenção ao HIV, ganhando visibilidade como uma das poucas profissionais trans na época”, explica. “Esse reconhecimento abriu novas oportunidades para mim.”
Refletindo sobre suas maiores conquistas, Ariadne destaca seu trabalho com pessoas em situação de rua em São Paulo, e seu papel na integração dos serviços de saúde com o primeiro centro de acolhimento para pessoas trans em situação de rua, que possibilitou que uma linha de cuidado integral pudesse ser criada para atender essas pessoas. Após essas realizações, ela se juntou ao UNAIDS em 2019, onde continua na defesa dos direitos das pessoas trans e apoia pessoas impactadas e vivendo com HIV, usando sua voz para elevar e capacitar as outras pessoas.
Ariadne usa sua vasta experiência para defender os direitos e o bem-estar de todas as pessoas que vivem com HIV, incluindo profissionais da ONU.
Trabalhando com a UN Plus, ela torna pioneiras as estratégias inovadoras para manter a dignidade em todos os locais de trabalho. “Construir um futuro livre de estigma e discriminação é como permitir que todas as pessoas desempenhem seu melhor e prosperem” dizem Ariadne e a UN Plus.