O HIV é alimentado pelas desigualdades. O painel “Abordando as Desigualdades para Acabar com a AIDS: 10 Anos para 2030”, realizado em paralelo à Reunião de Alto Nível das Nações Unidas sobre AIDS em 9 de junho, reuniu diferentes lideranças que misturaram a paixão pelo ativismo e experiência de base, sabedoria acadêmica, orientação estratégica baseada em evidências e experiência dos Estados Membros das Nações Unidas e do UNAIDS para discutir esta questão urgente.
Todas as pessoas do painel detacaram a necessidade de ações urgentes, baseadas em evidências e transformadoras para acabar com as barreiras sociais, econômicas, raciais e de gênero — que incluem leis punitivas, políticas e práticas, estigma e discriminação com base na sorologia para o HIV, orientação sexual e identidade de gênero, e outras violações dos direitos humanos — que criam e aprofundam as desigualdades que colaboram com a pandemia de HIV. As pessoas painelistas compartilharam estratégias e ações para acabar com a epidemia do HIV com base na experiência vivida e apoiada por lições de quatro décadas de resposta ao HIV.
Além disso, também destacaram as lições do HIV e da COVID-19 que mostraram ao mundo que, a menos que todos os países, comunidades e pessoas tenham acesso aos benefícios da ciência e da tecnologia sem estigma e discriminação, se beneficiem de uma tributação justa e distribuição equitativa da riqueza e sejam respeitados e respeitadas em toda a sua diversidade, as epidemias continuarão a existir.
Assista este painel aqui.
“Seis a cada sete novos diagósticos positivos para HIV em adolescentes na África subsaariana estão entre as meninas”, disse Winnie Byanyima, Diretora Executiva do UNAIDS, que observou que isto se acontece devido às desigualdades de poder. As pessoas que participaram também ouviram que, em Eswatini, um forte compromisso político para garantir que os serviços de prevenção estivessem disponíveis em nível comunitário, com um foco especial em alcançar meninas adolescentes e mulheres jovens e seus parceiros, resultou no alcançe com sucesso dassmetas de prevenção do HIV.
Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos da América, lembrou aos e às participantes que as metas bem definidas e os planos com prazos e informações comprovadas devem ser acompanhados de um financiamento adequado, sem o qual as nações mais pobres e as comunidades mais pobres, mesmo dentro das nações ricas, não desfrutarão de boa saúde e bem-estar.
O poderoso testemunho de Abhina Aher, uma ativista trans da Índia, ressaltou as desigualdades múltiplas, interseccionais e dinâmicas enfrentadas por uma pessoa que não está em conformidade com as normas sociais da sociedade asiática dominante.
As pessoas que participaram destacaram a centralidade de possibilitar leis e políticas e a necessidade de uma educação sexual abrangente para capacitar jovens a tomar decisões informadas sobre relacionamentos e sexualidade e navegar por um mundo onde a violência de gênero, a desigualdade de gênero, a gravidez precoce e involuntária, o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis ainda representam sérios riscos à sua saúde e bem-estar.
Intervenções de representantes das Bahamas, Alemanha, México, Espanha e Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte sublinharam a urgência de uma resposta ao HIV que enfrente as desigualdades de gênero e proteja e viabilize os direitos humanos.
Em resumo, concluiu-se que as desigualdades tanto alimentam e impulsionam a epidemia do HIV quanto outras doenças, mas que as desigualdades devem ser combatidas com as políticas, estratégias e legislação corretas para acabar com a AIDS até 2030 e, ao mesmo tempo, fortalecer a preparação para a pandemia.
DESTAQUES
“A cobertura universal da saúde não será alcançada sem saúde e direitos sexuais e reprodutivos”. Precisamos garantir intervenções que resguardem o direito das mulheres e meninas a seu próprio corpo e vida, o que inclui o acesso a contraceptivos seguros e eficazes e testes de HIV sem o consentimento de outras pessoas”.
PER OHLSSON FRIDH MINISTRO DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO, SUÉCIA
“Dar às comunidades informações precisas sobre HIV, encorajando relacionamentos que capacitam mulheres e homens a tomar decisões saudáveis e abordar algumas das normas sociais que discriminam mulheres e meninas pode finalmente pôr um fim ao estigma e à discriminação relacionada ao HIV”.
SIMON ZWANE SECRETÁRIO PRINCIPAL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, ESWATINI
“Temos as ferramentas e os serviços que podem evitar que as pessoas sejam estigmatizadas e discriminadas”. O que precisamos não é de novos conhecimentos, o que precisamos desesperadamente é de uma política diferente para garantir que todas as pessoas, em qualquer lugar, tenham um direito igual e apropriado à saúde e à dignidade. Sou uma mulher trans, não-branca, cega de um olho, uma mulher sem ventre ou vagina, asiática, e também uma ex-trabalhadora do sexo. Você retira uma camada e há mais camadas de discriminação com base em meu gênero, sexualidade, orientação sexual e profissão – desigualdades que podem impactar minha vida e meu acesso aos serviços de HIV.”
ABHINA AHER MULHER TRANS, ATIVISTA PARA O HIV E ESPECIALISTA TÉCNICO DA I-TECH INDIA
“Em uma pandemia — AIDS, COVID-19 e outras que possam surgir — os vírus se alimentam de desigualdades. Quando ignoramos as desigualdades, o vírus se espalha nas sombras e temos surtos. Então, temos que perguntar: as mulheres jovens estão vendo as mesmas reduções em novas infecções que as outras? As comunidades gays e trans têm a mesma supressão viral? As pessoas pobres têm acesso às mesmas tecnologias de HIV e acesso fácil aos cuidados? As Nações Unidas não se concentraram o suficiente, no passado, nas desigualdades. Nós estamos mudando. De agora em diante, vamos medir o sucesso pela rapidez com que as lacunas de desigualdade estão diminuindo. As lideranças não têm realmente muita escolha: você pode combater as desigualdades ou fracassar sobre acabar com a AIDS”.
WINNIE BYANYIMA DIRETORA EXECUTIVA, UNAIDS