Apresentada neste dia 1º de Dezembro, Dia Mundial de Luta contra a Aids, a análise em profundidade do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids da cidade do Recife/PE mostrou como ainda é difícil para as pessoas vivendo com HIV e Aids externarem sua condição na sociedade e como o preconceito e o estigma ainda afetam diretamente a possibilidade de uma vida plena de direitos para estas pessoas. Para 87% das pessoas entrevistadas no Recife é difícil contar para a família que vive com HIV e Aids.
Entre as pessoas vivendo com HIV e Aids no Recife entrevistadas, a forma mais experienciada foi saber de outras pessoas que não são membros da família fazendo comentários discriminatórios ou fofocando porque se é soropositiva(o) para o HIV (44,7%).
Mesmo entre membros da família essa forma de discriminação foi bastante relatada (42,9%), não ficando restrita a fofocas ou comentários discriminatórios, pois também foram relatados assédios verbais (19,3%), agressões físicas (4,3%) e até mesmo perda de fonte de renda ou emprego por ser soropositivo para o HIV (8,7%).
A discriminação provoca uma atitude de isolamento das pessoas soropositivas para o HIV. Isolamento da família ou dos amigos e não fazer sexo por ser soropositivo para o HIV são relatados por pouco menos de 30% dos participantes.
As pessoas entrevistadas no Recife também relataram violações de direitos e agressões por viverem com HIV/Aids. Das pessoas entrevistadas que sofreram violações de direitos, 28% não sabiam a quem recorrer para fazer uma denúncia e 20% se sentiram intimidados/as e assustados/as para denunciar.
Um dado que chamou atenção nos resultados do Índice de Estigma e Discriminação em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Recife foi que 34,3% evitaram iniciar o tratamento, após se saberem soropositivos para o HIV, por não se sentirem preparados para lidar com o fato de ser soropositivo; e 28% se preocuparam de que ao iniciar o tratamento, familiares e pessoas conhecidas descobrissem a sorologia para o HIV. Outros 24,7% tiveram medo de que profissionais de saúde e médicos revelassem para conhecidos que ela vivia com HIV/Aids.
Os resultados indicam que existe uma insegurança sobre a confidencialidade dos prontuários médicos e sobre o sigilo da sorologia. Somadas as proporções de participantes que indicaram não saber se seus prontuários são confidenciais (45,6%) com a proporção de participantes para quem está claro que seu prontuário não está sendo mantido em sigilo (5,2%), chega-se à proporção de 50,8% dos participantes que não sabem ou não têm certeza que seus prontuários estão sendo violados. Evidencia-se assim uma falha na explicitação e manutenção da confidencialidade dos prontuários das pessoas soropositivas que deve ser alvo de intervenções nos serviços de saúde.
“Acreditamos que esses dados podem aclarar ainda mais o caminho de luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV contra todo o tipo de discriminação e estigma. Que as pessoas que vivem com HIV e AIDS tenham suas vozes ouvidas”, afirmou Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS.
Para Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, os seminários são importantes por levarem as informações sobre estigma e preconceito para as cidades onde a pesquisa foi realizada. “Os seminários possibilitam um diálogo sobre os dados do Índice de Estigma e podem dar visibilidade a essas informações com um recorte local. O mais importante é que estão sendo pensadas formas para enfrentar o estigma e o preconceito em cada contexto e em cada território onde a pesquisa foi realizada”.
O Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil é promovida pelas Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+); Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP); Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV e AIDS (RNAJVHA); Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans vivendo e convivendo com HIV/AIDS (RNTTHP). A pesquisa foi apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (UNAIDS), pela Gestos — Soropositividade, Comunicação e Gênero, e pela PUC do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Foi realizada em sete capitais: Manaus-AM; São Paulo-SP; Recife-PE; Rio de Janeiro-RJ; Brasília-DF; Salvador-BA; e Porto Alegre-RS.
Os dados completos da análise em profundidade de Recife encontram-se neste link.
Confira outras informações sobre os seminários locais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.
Acesse o Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.
Divulgação dos resultados regionais continua neste mês de dezembro
A divulgação dos dados regionais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids está sendo feita através de seminários online para as sete capitais brasileiras onde a pesquisa foi realizada. O levantamento, feito pela primeira vez no Brasil, é um espelho do que acontece na vida das pessoas vivendo com HIV e Aids mesmo depois de 40 anos do início da epidemia e mostra como essa população ainda é discriminada e sofre com o preconceito e a desinformação.
Os seminários são direcionados para movimentos sociais e pessoas que atuam em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids; para profissionais de saúde; para parlamentares e profissionais que trabalham nos Poderes Legislativo e Judiciário. A série de eventos começou em Manaus, em 03 de novembro, em São Paulo, no dia 06 de novembro, e aconteceu neste 1º de Dezembro com foco no Recife-PE. Os próximos seminários serão: Rio de Janeiro-RJ (04/12), Brasília (07/12), Salvador-BA (08/12); Porto Alegre-RS (11/12).
Os eventos acontecerão sempre das 14h às 17h (horário local), através da Plataforma Zoom. Para participar é preciso fazer a inscrição através do link. São 50 vagas por seminário.