Enquanto o mundo enfrenta as pandemias de COVID-19, HIV, tuberculose e malária, o UNAIDS faz um chamado para apoio bipartidário dos Estados Unidos aos esforços globais contra esses desafios de saúde simultâneos.
Os Estados Unidos lideram o mundo em sua resposta a pandemias infecciosas. Como maior doador bilateral à resposta global ao HIV desde 2003, investindo mais de 85 bilhões de dólares no Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS (PEPFAR) o país, trabalhando com organizações multilaterais, Nações Unidas, sociedade civil e nações afetadas, tem desempenhado um papel fundamental na redução de novas infecções por HIV e mortes relacionadas à AIDS. Os Estados Unidos contribuíram generosamente para o Fundo Global contra a AIDS, Tuberculose e Malária, investindo US$ 16,7 bilhões desde 2002.
Coletivamente, esses investimentos salvaram milhões de vidas, principalmente no continente africano. No entanto, como mostra o último relatório global do UNAIDS, ainda resta muito trabalho. Das 38 milhões de pessoas vivendo com HIV, 12,6 milhões não estão conseguindo ter acesso ao tratamento que é capaz de salvar vidas. Antes da COVID-19, já estávamos fora do caminho para alcançar nosso objetivo de menos de 500.000 novas infecções por HIV até 2020; em 2019, 1,7 milhão de pessoas foram infectadas pelo HIV. O impacto inicial da COVID-19 no continente africano prevê um grande desastre para a saúde que, se não for mitigado, terá efeitos residuais imediatos e de longo prazo.
No período em que muitos governos e economias, particularmente na África, estão se recuperando da COVID-19 e se esforçando para manter os serviços sociais e de saúde, a liderança contínua dos Estados Unidos na saúde global é essencial—poderia fazer a diferença entre um desafio de saúde e uma catástrofe de saúde.
Agora que o mundo enfrenta pandemias em colisão, afastar-se de qualquer uma delas para se concentrar apenas em uma traz o risco de aumento de novas infecções e mortes. O dano exponencial de várias pandemias simultâneas trará sofrimento sem precedentes e consequências econômicas. O efeito do coronavírus nos programas de AIDS, tuberculose e malária será devastador se não forem atenuados. Em junho, o Fundo Global informou que 85% dos programas que apoia em 106 países enfrentam dificuldades para a prestação de serviços, sendo que 18% deles apresentam interrupções altas ou muito altas.
O UNAIDS estima que uma interrupção completa de seis meses no tratamento possa causar mais de 500.000 mortes adicionais na África Subsaariana no próximo ano, trazendo a região de volta aos níveis de mortalidade por AIDS de 2008. Mesmo uma interrupção de 20% pode causar 110.000 mortes adicionais. Tal resultado representaria danos colaterais inaceitáveis e evitáveis da pandemia de COVID-19, anulando quase duas décadas de progresso.
A Coalizão Global de Liderança dos Estados Unidos está pedindo ao Congresso que aloque 20 bilhões de dólares na próxima lei de financiamento suplementar de emergência para a COVID-19. A comunidade global de saúde apoia essa solicitação e pede a inclusão explícita de 700 milhões de dólares por um ano, ou 1,4 bilhão de dólares em dois anos, para programas bilaterais globais de HIV e tuberculose no âmbito do PEPFAR e 4 bilhões de dólares em dois anos para o mecanismo de resposta à COVID-19 do Fundo Global. Esses fundos compensarão o impacto da COVID-19 nos programas PEPFAR e Fundo Global, ao mesmo tempo em que apoiam o trabalho do PEPFAR e do Fundo Global no combate à COVID-19, inclusive por meio do aumento de testagem e cuidados. Os recursos atualmente disponíveis para a COVID-19 do Fundo Global estarão totalmente esgotados em semanas. A necessidade é urgente.
A disseminação da COVID-19 está se acelerando em toda a África; seu impacto é cada vez mais preocupante. O aumento no número de pacientes está sobrecarregando cuidadores e hospitais. Relatórios recentes sugerem que mais de 10.000 profissionais de saúde foram infectados. Embora o relato preciso de casos de COVID-19 seja desafiador devido a testes limitados, a África do Sul tem mais de 452.000 casos confirmados, tornando-a o país com o quinto maior número de casos no mundo.
Isso colocou uma pressão adicional enorme nas capacidades de pacientes internados e ambulatoriais, já sobrecarregados com o HIV, tuberculose, doenças não transmissíveis, problemas de saúde materna e infantil, além de traumas. Os sistemas de saúde, hospitais e profissionais de saúde estão lutando para lidar com isso.
Os 17.000 óbitos estimados em excesso por causas naturais de 6 de maio a 14 de julho de 2020 indicam o impacto do ônus acumulado. Províncias e distritos que enfrentavam problemas pré-existentes no sistema de saúde são os mais atingidos; eles não têm capacidade funcional de leitos e fornecimento adequado de oxigênio.
A África do Sul não está sozinha. Na segunda semana de julho, os novos casos de COVID-19 no Quênia aumentaram 31% e as taxas ficaram ainda maiores em Madagascar, Zâmbia e Namíbia, com 50%, 57% e 69% de alta, respectivamente. Muitos países de baixa renda e com alta carga de HIV estão fazendo sacrifícios na luta contra a COVID-19, mas estão perdendo a batalha.
Muitas de suas economias são prejudicadas pela COVID-19. As receitas do governo foram reduzidas e muitas delas também enfrentam encargos consideráveis no serviço da dívida. Em quatro dos cinco países com maior prevalência de HIV (Suazilândia, Lesoto, Namíbia e África do Sul), a relação dívida por produto interno bruto é superior a 40%, prevendo-se que a África do Sul atinja um recorde de 80% em 2020 devido ao declínio do consumo e dos investimentos durante a crise gerada pela COVID-19.
As solicitações da comunidade global de saúde para financiamento adicional refletem as necessidades em três áreas:
A COVID-19 apresenta não apenas desafios, mas também oportunidades de progresso ainda maior contra o HIV, tuberculose e malária, três das doenças mais fatais do mundo. Por exemplo, como a COVID-19 impede que as pessoas que vivem com HIV acessem com segurança as clínicas de HIV, relatórios de 87 países nos quais o UNAIDS opera indicam que 44 deles implementaram políticas para permitir a distribuição de medicamentos antirretrovirais para múltiplos meses, uma inovação necessária que garante a continuidade do tratamento, essencial para a supressão da carga viral e economia de custos para o HIV.
Da mesma forma, a COVID-19 interrompeu os serviços clínicos para as pessoas que usam drogas, catalisando modelos inovadores e eficazes de prestação de serviços que consideram, entre outras coisas, que os usuários e usuárias levem para casa a terapia de substituição de opióides, exemplo de abordagem que deve se tornar o novo normal.
O PEPFAR, o Fundo Global e o UNAIDS estão ajudando a utilizar a infraestrutura desenvolvida através da resposta ao HIV para contribuir com os esforços efetivos da COVID-19. Por exemplo, as pessoas recém-credenciadas—incluindo mais de 280.000 novos profissionais de saúde treinados pelo PEPFAR—agora respondem pela primeira vez à COVID-19.
Relatórios de países tão diversos como Índia, Senegal e Uganda ilustram o apoio essencial prestado por trabalhadores comunitários do HIV, que vão de porta em porta durante o lockdown, distribuindo materiais de prevenção ao HIV, tratamento e informação sobre como as pessoas podem se proteger da COVID-19 e ter acesso à testagem. As respostas da COVID-19 em muitos países também estão se beneficiando de sistemas laboratoriais que foram amplamente aprimorados e expandidos como resultado dos investimentos em HIV.
O trabalho do PEPFAR, do Fundo Global e do UNAIDS é interdependente e fortemente coordenado; as três entidades reforçam o sucesso das outras em todos os países em que operamos. Trabalhando em conjunto, temos sido altamente eficazes em ajudar o governo dos Estados Unidos a alcançar seu objetivo de salvar o maior número de vidas no menor espaço de tempo. Agora é a hora de proteger os investimentos passados, exercendo a liderança global na luta contra a COVID-19. Essa ação terá os benefícios adicionais de proteger os norte-americanos em casa.
“O UNAIDS reconhece que a COVID-19 está tendo um impacto desproporcional no povo norte-americano. No entanto, como aprendemos com o HIV, ninguém está a salvo de um vírus que não conhece fronteiras ou divisas políticas, até que todas as pessoas estejam seguras”, disse Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS. “Nenhuma pandemia pode ser parada sem solidariedade global. Trabalhar em conjunto ajudará a acelerar a segurança de todo o mundo. Contamos com os Estados Unidos para construir décadas de liderança na saúde global, maximizando e protegendo os impactos causados até o momento no HIV, tuberculose e malária, apoiando fortemente os esforços contra a COVID-19.”