As novas infecções por HIV no Brasil aumentaram mais de 20% entre 2010 e 2018. Por isso, é essencial que os jovens brasileiros sejam capazes de conversar sobre o HIV e aprendam a se proteger. Esse é o objetivo de um projeto liderado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Em uma de suas contas nas redes sociais, o jovem Jonas da Silva confere as últimas festas e eventos públicos em Salvador. Ele também está conversando com outros jovens pela internet. Eles falam sobre sexo, como e se usam preservativos com seus parceiros, conhecimentos sobre a prevenção do HIV e se fizeram o teste para o HIV.
“O que é legal nesse projeto é que temos jovens conversando com jovens. Usamos nossa linguagem e gírias para abordar o HIV”, ele diz. “Essa conexão é fundamental. Podemos ver que eles confiam em nós, e assim que sabemos que eles foram sensibilizamos com as informações necessárias”.
Ele e outros 30 jovens foram treinados para trabalhar como voluntários no projeto Viva Melhor Sabendo Jovem (VMSJ) em Salvador. O objetivo é aumentar a conscientização sobre a importância do teste e prevenção do HIV. Para isso, eles precisam estar onde estão seus pares— na internet e nas ruas.
O projeto segue o calendário de festas e festivais de rua tradicionais, especialmente aqueles que atraem grande concentração de jovens. Também responde a demandas específicas de populações-chave por meio do mapeamento de reuniões públicas onde jovens lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais se encontram. Com um pequeno e colorido caminhão — o Caminhão de Testagem—, Silva e seus voluntários podem oferecer privacidade para pessoas que desejam aconselhamento e testagem de HIV.
Desde o lançamento do projeto, em agosto de 2018, mais de mil jovens com idades entre 16 e 29 anos foram testados para o HIV, em cerca de 30 ações com o caminhão. Como parte de uma estratégia para promover a testagem entre adolescentes e jovens, os voluntários também facilitam oficinas sobre HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, e realizam palestras sobre sexualidade e saúde sexual nas escolas. Esses eventos alcançaram mais de 400 alunos nos primeiros seis meses do projeto.
“A metodologia de educação entre pares do VMSJ Salvador consegue envolver mais jovens nessas atividades. Também os ajuda a tomar consciência da importância da prevenção e cuidados com o HIV”, disse Cristina Albuquerque, chefe de Saúde e HIV/AIDS do UNICEF no Brasil. “Os jovens testados durante nossas atividades agradecem pela iniciativa e reclamam que têm poucas oportunidades como essas pela cidade.”
Em 2018, segundo estimativas do Ministério da Saúde, jovens com idades entre 15 e 24 anos representavam quase 15% de todos os novos diagnósticos de HIV em Salvador.
“Para nós, também voluntários, essa experiência é importante porque também começamos a cuidar melhor de nós mesmos, a aplicar esses métodos de prevenção em nossas vidas e a transmitir a mensagem para aqueles que estão próximos de nós, nossos amigos e familiares”, disse Silva.
O projeto é implementado em parceria com o Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS da Bahia — GAPA Bahia —uma das mais antigas organizações não-governamentais que lidam com questões de HIV no país, e conta com o apoio do escritório do UNAIDS no Brasil. Os jovens voluntários passaram por um rigoroso processo de seleção antes de iniciar um programa de treinamento, que incluía tópicos como direitos humanos, aconselhamento e informações sobre HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. Eles também foram treinados em programas comunitários, como o funcionamento do sistema público de saúde e serviços de HIV disponíveis em Salvador. A iniciativa inclui uma estratégia de treinamento contínuo sobre assuntos relacionados.
“Uma das coisas mais importantes que aprendi é que precisamos respeitar as escolhas uns dos outros e estar aqui apenas para ajudar, com informações e sugestões que consideramos mais apropriadas à história e ao comportamento dessa pessoa”, disse Islan Barbosa, um dos voluntários.
“O projeto representa uma resposta importante às demandas de testagem de HIV na cidade, especialmente entre as populações-chave, que muitas vezes evitam o uso de unidades de saúde públicas para este fim. Estamos levando o teste de HIV para onde essas pessoas estão”, disse Albuquerque.
Fotos: Genilson Coutinho