Kimi Avalos é uma jovem trans que mora em Buenos Aires, na Argentina. Por causa do estigma e da discriminação, ela não pôde continuar seus estudos e concluir o ensino médio. Ela diz que sofreu bullying e assédio; seus colegas de classe a insultaram e agrediram fisicamente, sob o olhar indiferente de seus professores. “Eu realmente queria aprender, mas tive que abandonar a escola. Agora, graças à Casa Trans, meu sonho de terminar o ensino médio logo se tornará realidade”, disse Avalos.
Kimi Avalos é uma das 30 alunas trans que iniciaram recentemente um novo programa educacional, através do qual podem estudar para conseguir diplomas de escolas primárias e secundárias, participando de uma combinação de aulas presenciais e virtuais. Este projeto inovador é implementado na Casa Trans, um centro comunitário para treinamento e capacitação de pessoas trans fundado em Buenos Aires em junho de 2017 por Marcela Romero, Coordenadora da ATTTA (Associação de Travestis, Transsexuais e Transgêneros da Argentina) em colaboração com a Câmara Municipal de Buenos Aires.
“Para as pessoas trans, ter essa casa significa que podemos sair da escuridão. O centro está em um espaço visível, em uma das principais ruas de Buenos Aires, no bairro de San Cristóbal. Essa é a nossa conquista, mostra que temos uma comunidade e que temos direito a um espaço como qualquer outra organização”, explica Romero.
Na Argentina, assim como no resto da América Latina e do Caribe, o estigma e a discriminação prejudicam as oportunidades de aprendizagem e de educação das pessoas trans, afetando suas perspectivas de emprego. A discriminação e o estigma também impedem o acesso de pessoas trans aos serviços de saúde apropriados, incluindo serviços de prevenção ao HIV, proteção social e justiça.
Na região, as pessoas trans experimentam frequentes violências físicas e sexuais e crimes de ódio. Segundo dados da ATTTA, 20 pessoas trans foram mortas na Argentina desde o início de 2018 e a violência baseada em gênero está aumentando.
Discriminação, violência baseada em gênero e exclusão também contribuem para aumentar a vulnerabilidade das pessoas trans ao HIV. As mulheres trans ainda são fortemente afetadas pelo HIV.
A Casa Trans foi criada com o objetivo de proporcionar um espaço seguro onde as pessoas trans possam se capacitar e adquirir conhecimento e habilidades sem medo de serem discriminadas, rejeitadas ou atacadas. A iniciativa trabalha em parceria com agências governamentais, sociedade civil e setor privado para fornecer uma ampla gama de serviços e programas baseados nas necessidades específicas das pessoas trans.
Entre outras iniciativas, a Casa Trans estabeleceu serviços integrados de aconselhamento e orientação profissional para a busca por emprego, bem como assessoria jurídica de advogados, que estão disponíveis 24 horas por dia. Em colaboração com o Ministério da Educação, a Casa Trans iniciou recentemente projetos educacionais que vão desde a implementação do ensino primário e secundário até a formação profissional, como a prestação de cuidados aos idosos.
Outras atividades importantes incluem a promoção da prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, testes de HIV e campanhas de vacinação. A Casa Trans também oferece assistência psicológica contínua e, por meio de uma parceria com o Hospital Fernandez, serviços de aconselhamento sobre hormonioterapia. Além disso, a Casa é engajada em um trabalho de extensão com uma equipe de agentes comunitários de saúde que visitam profissionais do sexo em seus locais de trabalho à noite, distribuindo preservativos e material informativo sobre a prevenção do HIV.
A Casa Trans é atualmente um projeto de sucesso, um ponto de referência para pessoas trans em Buenos Aires e tem várias parcerias na cidade, mas não foi fácil chegar a este ponto. Marcela Romero diz que se aproximou pela primeira vez da Prefeitura de Buenos Aires há oito anos, defendendo um espaço onde as pessoas trans pudessem se encontrar. Finalmente, há dois anos, a prefeitura aprovou a reforma de um de seus prédios e, com a ajuda de um arquiteto e a visão da coordenadora da ATTTA, a Casa Trans tornou-se uma realidade.
“A Casa Trans é boa prática de prestação de serviços à comunidade que está contribuindo para a aceleração da resposta, sem deixar ninguém para trás”, disse Carlos Passarelli, Diretor do UNAIDS para Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai.
Cerca de 400 pessoas visitam a Casa Trans todos os meses para receber aconselhamento e informações, e aproximadamente 600 pessoas participam regularmente de workshops, reuniões de grupos e cursos. “Eu não poderia estar mais feliz e grata pela oportunidade que recebi na Casa Trans. Espero que este modelo de respeito e promoção dos direitos humanos sirva de exemplo para transformar a sociedade para que todos possamos viver com dignidade”, afirmou Kimi Avalos.