O Diretor do Escritório Regional do UNAIDS para América Latina e o Caribe, César Nuñez, encerrou sua visita de quatro dias ao Brasil, no dia 29 de setembro, com a participação no painel Desafios para acabar com a epidemia de AIDS até 2030 no Brasil e na América Latina: a Declaração Política de 2016 e a Reunião de Alto Nível do Fórum Político de 2017. A mesa de debates fez parte da programação do 11º Congresso AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais (HepAIDS 2017), realizado em Curitiba, de 26 a 29 de setembro.
“Quando perguntei ao senhor César Nuñez como gostaria de ter sua biografia apresentada ao público presente, ele me pediu que fosse apenas apresentado com ‘um amigo do Brasil’”, revelou a moderadora da mesa, Juliana Givisiez, Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde. Durante o encontro, Nuñez falou sobre o tema Avanços e desafios para o fim dia epidemia de AIDS na América Latina até 2030.
“É necessário acelerar a resposta à epidemia, pois precisamos de resultados mais rápidos, disse Nuñez no início de sua apresentação. “Saúde é desenvolvimento, e a união dos líderes é chave. Cada vez que não vinculamos uma pessoa ao tratamento, perdemos oportunidade de promover a saúde.”
Também participaram da mesa Marise Ribeiro Nogueira , Chefe da Divisão de Temas Sociais do Ministério das Relações Exteriores—com o tema Ministério das Relações Exteriores na articulação internacional da agenda do HIV—a ativista Alessandra Nilo, coordenadora do Programa de Relações e Fortalecimento Institucional da ONG Gestos e atualmente uma das representantes da sociedade civil da América Latina na Junta de Coordenação do Programa (conhecido pela sigla em inglês PCB) do UNAIDS—com o tema Importância das OSC (Organizações da Sociedade Civil) na implementação da Declaração Política sobre HIV e AIDS e na construção dos encaminhamentos da Reunião de Alto Nível do Fórum Político de 2017.
Durante o debate, Nuñez falou sobre temas como a importância dos direitos humanos, da inovação na prevenção combinada e dos investimentos, entre outros. “A resposta à AIDS precisa de recursos. Há dinheiro no mundo, mas muitas vezes está nos lugares errados”, ressaltou. E encerrou sua fala em tom de esperança: “A AIDS ainda não acabou, mas pode acabar!”
No mesmo dia, Nuñez teve a oportunidade de saudar o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, logo após sua rápida visita ao Congresso. Além de Barros, o Diretor do UNAIDS para América Latina e o Caribe também teve uma agenda de encontros com representantes de diversos setores durante o HepAIDS 2017 para articular parcerias e conhecer de perto contextos específicos da resposta ao HIV no Brasil.
Na véspera (28/9), Nuñez participou de um almoço com a Diretora do DIAHV, Dra. Adele Benzaken e visitou as ONGs Grupo Dignidade e Transgrupo Marcela Prado, ambos em Curitiba.
“Congratulo o país pelo tema escolhido para o Congresso. Quando o Brasil demonstra o compromisso no mais alto nível em relação à prevenção combinada, isso certamente acarretará um movimento positivo em outro países da América Latina e do Caribe” afirmou Dr Nuñez em reunião com Dra Benzaken.
Toni Reis, Diretor-Executivo do Grupo Dignidade, e Rafaelly Weist, Presidente do Transgrupo Marcela Prado, reuniram diversos voluntários e funcionários das duas organizações para um bate-papo descontraído de apresentação das atividades, estratégias e potenciais parcerias com o UNAIDS no Brasil e na América Latina.
“Estas duas organizações são um exemplo concreto que como a sociedade civil tem se organizado para a defesa e promoção dos direitos humanos, em especial os direitos das pessoas LGBTI+”, explica Georgiana Braga-Orillard. “São parceiros importantes do UNAIDS no Brasil e esse encontro com o Diretor Regional do UNAIDS serviu para estreitarmos os laços e traçarmos um panorama para a continuidade dessas parcerias não só no Brasil, mas no contexto ainda mais amplo da América Latina.”
Em cada cinco pessoas vivendo com HIV na América Latina no final de 2016, quatro estavam cientes de seu estado sorológico positivo para o HIV—81% [58-> 89%]. Dessas pessoas diagnosticadas, 72% [52-> 89%] tinham acesso à terapia antirretroviral—o equivalente a 58% [42-72%] de todas as pessoas vivendo com HIV na região. Entre essas pessoas em tratamento, 79% [57-> 89%] tinham carga viral suprimida—o que se traduz em 46% [33-57%] de todas as pessoas vivendo com HIV na região. A região está no caminho para alcançar as metas 90-90-90, em que, até 2020: 90% das pessoas vivendo com HIV estarão diagnosticadas; 90% destas estarão em tratamento; e 90% das pessoas em tratamento terão carga viral indetectável—o que representará 73% de todas as pessoas vivendo com HIV na América Latina e o Caribe.
HepAIDS 2017
Nuñez foi uma das autoridades convidadas pelo Ministro da Saúde do Brasil e pela Diretora do DIAHV para participar da solenidade de abertura do HepAIDS 2017, encontro que reuniu cerca de 4 mil pessoas em Curitiba (PR) para debater questões de ponta sobre HIV/AIDS e Hepatities Virais. A edição deste ano teve como tema Prevenção combinada: multiplicando escolhas.
“Não podemos falar de prevenção, tratamento e nem de fim da AIDS sem direitos humanos. Não podemos alcançar as metas com o retorno de discussões sobre a cura gay, com projetos de lei que criminalizem a transmissão do HIV ou com qualquer outra forma de discriminação”, disse o Diretor Regional do UNAIDS para a América Latina e o Caribe em seu discurso na solenidade de abertura do evento.
Em seu discurso, Nuñez traçou também um panorama dos avanços na resposta à epidemia de AIDS na América Latina nos campos da prevenção, testagem, tratamento e direitos humanos, tendo como referência os compromissos e metas assumidos na Declaração Política.
“O tema deste congresso—prevenção combinada—, é essencial. Precisamos reconhecer que estamos falhando em relação à prevenção com várias populações e é vital rever esse fato”, disse Nuñez. “Precisamos ser capazes de falar a linguagem do jovem de hoje, capazes de engajar os homens, capazes de quebrar tabus. Apesar de estar presente de forma mais contundente em algumas populações-chave, o HIV é uma questão de todos.”
Foto de capa: DIAHV/SVS/Ministério da Saúde