O anúncio da aprovação do casamento gay nos Estados Unidos deixou mais coloridos os dias que antecederam aquele histórico 28 de junho no Brasil.
À medida que as milhares de pessoas se acumulavam diante do gramado do Congresso Nacional, as cores também se espalhavam com a missão de celebrar a coragem e o amor de dez casais homoafetivos, prontos para dizer o grande “SIM” diante de uma multidão e, principalmente, diante de um dos maiores símbolos da democracia brasileira.
O casamento coletivo entre casais do mesmo sexo, que marcou o início das celebrações da 18ª Parada do Orgulho LGBTI+ de Brasília, esteve repleto de histórias de vidas marcadas pela luta contra a discriminação. Como no caso de Ana Flávia Teixeira e Mariléia da Rocha, que dividiram alguns destes relatos conosco.
Há 7 anos, uma amiga em comum costumava dizer a Mariléia que ela só conseguiria se casar se fosse com uma pessoa: a prima que morava no Rio de Janeiro. Depois de meses ouvindo essa provocação, Mariléia, em tom irônico, mandou o recado: ‘Então diga a sua prima que eu estou noiva dela e que coloquei um anel no dedo’, alfinetava Mariléia. E não é que isso deu resultado!
As primeiras conversas aconteceram pelas redes sociais até o dia em que Ana Flávia viajou a Brasília para conhecer Mariléia pessoalmente. A sintonia entre elas foi tão forte que se conheceram na segunda-feira e, “na quinta-feira, ela já havia me pedido em casamento!” comentou Mariléia. E em três dias realizaram uma cerimônia simbólica em uma cachoeira de Pirenópolis, cidadezinha histórica do interior de Goiás.
Pouco tempo depois de sua volta ao Rio de Janeiro, veio o convite e a grande decisão de morarem juntas. “E eu fui! Larguei tudo, larguei emprego, família, peguei minha mochila e vim! E hoje nós vamos fazer 7 anos!” relembra Ana Flávia. “E aqui estamos nós até hoje! E antes de chegarmos ao momento de união de fato, a gente viveu junto aqui em Brasília”, continua. “Passamos e superamos os nossos problemas e dificuldades. Rompemos barreiras juntas! Para aquelas pessoas que não acreditaram no nosso amor, ele é vivo! E ele está aqui até hoje e nós estamos juntas e assim vamos continuar!”
Para Mariléia, as dificuldades e alegrias de um casal gay são muito parecidas com as de uma relação heterossexual. “Nós somos um casal que também deseja ter família e debater questões que todos os casais defendem independente da sexualidade”, explica. “O que a gente faz entre quatro paredes, só a nós nos interessa e a mais ninguém”, concluiu.
Para todos os casais presentes diante do Congresso naquele domingo de junho, assim como para Mariléia e Ana Flávia, aquele era um momento especial não só pela realização do casamento em si, mas também pela simbologia do um ato, celebrando o amor e fortalecendo luta contra a discriminação e a homo-lesbo-transfobia.
“Essas conquistas, elas são realmente ‘passo a passo’. Nenhuma revolução, guerra ou paz é conquistada de uma hora para outra, tudo são passos. E, hoje, estar casando em frente ao Congresso é um grande passo para o nosso reconhecimento, para a sociedade e para os políticos para provar que existimos.”
Veja fotos do casamento igualitário coletivo: