Na cidade de Recife (PE), uma bicicleta especialmente adaptada leva produtos feitos por pessoas vivendo com HIV para serem vendidos diretamente às pessoas. É a “Diversibike”, uma das estratégias de geração de renda implementadas no contexto do projeto Cozinha Solidária, desenvolvido pelo Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+). A ONG foi beneficiada com recursos do Fundo Solidário, criado para apoiar atividades de empreendedorismo lideradas por pessoas vivendo com HIV e de populações-chave.
O GTP+, criado há 21 anos, foi a primeira ONG na região nordeste do Brasil a ser liderada exclusivamente por pessoas vivendo com HIV. Entre os projetos desenvolvidos pela organização, além da Cozinha Solidária, estão o Espaço Posithivo, que faz o acolhimento às pessoas vivendo com HIV que procuram o apoio da instituição, e Mercadores de Ilusões, que faz um trabalho de redução de danos e de apoio ao exercício da cidadania de profissionais do sexo.
O projeto surgiu em 2005 inicialmente para produzir refeições de valor nutritivo balanceado para as pessoas vivendo com HIV que procuravam o apoio do GTP+. Em 2019, teve início o projeto da Confeitaria Escola para prover a profissionais do sexo, pessoas saídas de situação de cárcere e outras populações vulneráveis um caminho para geração de renda por meio da culinária. Com os recursos recebidos do Fundo Solidário, o GTP+ conseguiu dinamizar as iniciativas de comercialização de produtos desenvolvidos na Cozinha Solidária e capacitar as pessoas participantes em diferentes aspectos do empreendedorismo.
“O projeto contribuiu na transformação da vida de pessoas que vivem com HIV/AIDS em situação de vulnerabilidade. A partir do projeto, elas encontraram uma oportunidade de geração de renda por meio de atividades empreendedoras e desenvolveram suas capacidades na área de gastronomia, aprendendo receitas e técnicas de como melhorar seus produtos”
Wladimir Reis, coordenador geral do GTP+
Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS no Brasil, concorda e destaca que o apoio do Fundo Solidário ao GTP+ demonstra a importância de se garantir a geração de recursos por parte das populações-chave, especialmente as que estão em situação de maior vulnerabilidade, por meio das organizações lideradas pela comunidade. “É uma ação estratégica, que gera uma proteção social para essas pessoas, permitindo-lhes o acesso a recursos básicos para cuidar de suas saúdes, o que acaba estimulando a adoção de comportamento favorável à prevenção e tratamento do HIV”, diz.
Sérgio Pereira, um dos fundadores do GTP+ e coordenador da Cozinha Solidária, complementa: “O mercado de trabalho, quando sabe que a gente vive com HIV, não nos aceita. A Cozinha Solidária traz para os participantes a possibilidade de sustentabilidade e abre portas para que consigam ingressar no mercado de trabalho.”
Karen Silva, uma das beneficiárias da Confeitaria Escola da Cozinha Solidária, acrescenta: “Fui acolhida no GTP+ com bastante atenção e carinho. Primeiro, participei do Espaço Posithivo, depois aos poucos comecei a ajudar na cozinha e aqui estou. Participar da Cozinha Solidária mudou a minha vida e minha autoestima também”. No total, 20 pessoas foram diretamente beneficiadas pela Cozinha Solidária, a partir do apoio do Fundo Solidário.
Como o foco do projeto estava em encontrar e promover as melhores condições de comercialização dos produtos feitos na Cozinha Solidária, a equipe fazia encontros semanais de planejamento, organização e produção. Também foi feita uma pesquisa de mercado para identificar os gostos e interesses da clientela potencial, o que foi especialmente importante, por exemplo, para entender onde a Diversibike teria maior aceitação e consumo dos produtos.
Segundo Wladimir, uma parte importante do processo de fortalecimento de capacidades e de conhecimento do grupo de participantes do projeto foram as formações virtuais em gastronomia e administração oferecidas a partir de uma parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco. Duas bolsistas da universidade apoiaram o grupo nos encontros e produzindo materiais didáticos de apoio.
Um ponto para o qual Wladimir Reis chama a atenção é o fato de o projeto ter nascido em um cenário de extrema desigualdade social. “Por este motivo, é essencial fortalecermos ainda mais ações como esta, para que outras pessoas em situação de vulnerabilidade possam ter as mesmas oportunidades de desenvolvimento. Com o projeto, pudemos observar o impacto da geração de recursos financeiros para as pessoas participantes, além do fortalecimento de seus conhecimentos para implementar seus empreendimentos e garantir a sua sustentabilidade em tempos de pandemia do COVID-19”, finaliza.