Após recente identificação de uma nova variante do HIV, falamos com Lycias Zembe, virologista e oficial técnico do UNAIDS, sobre o possível impacto na resposta global ao HIV.
O que há de diferente nesta nova variante do HIV?
O HIV é um dos vírus de mutação mais rápida já estudados—as versões do vírus podem variar de pessoa para pessoa e às vezes até mesmo em uma única pessoa. Sua capacidade de sofrer mutações rápidas e evoluir entre e dentro das pessoas é um grande obstáculo ao desenvolvimento de uma vacina contra o HIV— ainda não há vacina para o HIV disponível e não há cura.
Até agora, as mutações do HIV não têm sido amplamente divulgadas na mídia devido à eficácia e disponibilidade da terapia antirretroviral em responder a elas. A variante recentemente relatada do HIV, subtipo B, pode causar uma infecção mais grave.
De acordo com um estudo de Chris Wymant e equipe, as pessoas infectadas com a variante têm uma carga viral média que é cerca de quatro vezes maior do que é normal para a infecção pelo HIV, e seu sistema imunológico é enfraquecido duas vezes mais rápido, colocando-as em risco de desenvolver a AIDS mais rapidamente.
Felizmente, como com outras mutações do HIV descobertas até hoje, ela é prontamente passível de tratamento com todos os medicamentos antirretrovirais disponíveis atualmente.
Portanto, a mensagem principal é que não há necessidade de pânico, a mutação é uma atividade natural dos vírus, e, felizmente, para o HIV, os tratamentos atuais ainda funcionam para a variante do subtipo B do HIV.
Entretanto, 10 milhões de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo ainda não estão em terapia antirretroviral, então são necessários imensos esforços para alcançar essas pessoas, que muitas vezes são marginalizadas e estigmatizadas, para garantir que elas tenham acesso ao tratamento capaz de salvar vidas, o que também impede a transmissão do HIV.
Como deve ser a reação da resposta global ao HIV?
É importante identificar as pessoas que podem ser infectadas pelo HIV e iniciar o tratamento rapidamente, pois os tratamentos funcionam bem, mesmo contra esta variante. É igualmente importante garantir que as pessoas em tratamento se mantenham com supressão viral, reforçando e apoiando a adesão ao tratamento antirretroviral. Além disso, as descobertas ressaltam a necessidade de preparação e vigilância para detectar, caracterizar e responder rapidamente a novas versões de patógenos.
Que lições podem ser aprendidas com a descoberta da nova variante?
A resposta ao HIV não deve perder o foco na prevenção de um ressurgimento do HIV—especialmente durante um período em que muita atenção tem sido colocada na pandemia de COVID-19 e enormes recursos e infraestrutura para o HIV têm sido reorientados para responder à COVID-19.
O HIV é a pandemia mais mortal dos últimos tempos e continua sendo uma séria preocupação de saúde pública. Em 2020, cerca de 680 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS e 1,5 milhão foram infectadas recentemente com o HIV.
Durante a pandemia de COVID-19, os esforços de prevenção do HIV foram interrompidos e menos pessoas iniciaram o tratamento. Os esforços devem ser intensamente intensificados nestas áreas, bem como os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para encontrar uma vacina e uma cura, a fim de garantir que possamos acabar com a pandemia de AIDS até 2030 como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.