A estratégia Voluntariado pelas Américas, lançada pelo Movimento Latinoamericano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+) e coordenada pelo Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) no Brasil, divulgou um primeiro balanço desde o lançamento do projeto, no dia 1º de abril, para as ações no país: até o final de junho, foram atentidos 90% (418) dos 465 pedidos recebidos por meio de campanhas de mobilização realizadas principalmente nas redes sociais.
No Brasil, do total de pedidos recebidos neste período, quase 76% foram para assistência alimentar, cerca de 15% para apoio psicológico e pouco mais de 6% por falta de medicamentos. Jacqueline Côrtes, coordenadora executiva do projeto no país, explica que a campanha irá divulgar o perfil completo das pessoas atentidas pelo projeto no final de seu ciclo, em meados de setembro.
“Em geral, as pessoas que buscaram ajuda estão, em sua maioria, necessitando comer, entre elas pessoas pobres, pessoas vivendo com HIV e que não tinham trabalho formal e, dependendo da informalidade, não conseguiram continuar trabalhando durante a pandemia”, explica Jacqueline. “Há muitos homens, mas as mulheres são maioria, e a maioria delas está angustiada. Ou seja, os casos vão muito além da falta de alimentos, muitas demonstram necessidade de serem ouvidas, mesmo que o pedido não tenha sido especificamente de apoio psicológico. Elas têm medo de pegar a doença e não ter um leito no hospital. Algumas têm até a ideação suicida por não terem conseguido resolver sua questão com a sorologia positiva para o HIV.”
Além de oferecer apoio com a visibilidade da iniciativa e a mobilização de recursos junto entre as agências copatrocinadoras do Programa Conjunto, como a UNESCO – que apoia financeiramente o projeto no Brasil -, o UNAIDS também oferece capacitação de voluntários para os serviços de apoio psicológico e emocional a estas pessoas que se cadastram solicitando ajuda. Segundo o MNCP, até 30 de junho, o projeto já tinha capacitado quase 100 voluntários e voluntárias, sendo que cerca de 60 continuam na ativa.
“Entre as pessoas que soliticam ajuda, existe uma parcela significativa que não participa de movimentos sociais, e que nunca participou. É grande o número das que nem sabem da existência destes movimentos como o MNCP e outras redes de pessoas vivendo com HIV”, conta Jaqueline. “Isso demonstra que não estamos acessando apenas ativistas e que algumas destas pessoas desconhecem seus direitos.”
“A pesquisa feita pelo UNAIDS no final de março com pessoas vivendo com HIV no Brasil mostrou claramente que uma parcela significativa delas já tinha necessidade de alimentos e insumos básicos de proteção, higiene e limpeza”, conta Cleiton Euzébio de Lima, diretor interino do UNAIDS no Brasil. “Outro ponto que apareceu de forma evidente foi a necessidade de apoio psicológico, completando os principais eixos de atuação do projeto que conta com nosso apoio desde o início.”
Para Jaqueline, este movimento de solidariedade tem ensinado muitas coisas importantes ao próprio MNCP e a outras organizações da sociedade civil: de que este contexto atual nos oferece a oportunidade e a necessidade de colaboração entre todos.
“Esta iniciativa tem fortalecido de maneira importante os movimentos de mulheres positivas tanto no Brasil quanto na região, trazendo um impulso e uma visibilidade para a nossa capacidade de entrega dos pedidos e serviços. Tem sido um grande aprendizado, especialmente para nós, da equipe, que trabalhamos juntas há muito tempo. As lições das conexões com os movimentos de AIDS também vão ficar marcadas par sempre”, diz a ativista, mulher trans que vive com HIV.
No Brasil, o MNCP buscou mapear uma ‘rede de amigos e amigas’ da campanha, construindo uma matriz com cerca de quase 60 apoiadores entre instituições, iniciativas, projetos não governamentais da sociedade civil, programas de governos locais, iniciativas religiosas, pastorais, de LGBT – em geral, iniciativas que trabalham com questões como distribuição de cestas básicas, apoio psicológico e reposição de medicamentos antirretrovirais.
A estimativa é de que o Voluntariado pelas América abra uma ou duas outras chamadas para pedido de ajuda no Brasil antes da conclusão desta parte do projeto, prevista para o dia 28 de agosto. Quatro chamadas já foram feitas desde o lançamento da inciativa no Brasil, no início de abril. Segundo Jacqueline, os trabalhos internos do projeto continuam até 18 de setembro, quando o grupo espera apresentar uma balanço quantitativo e qualitativo, acompanhado de uma avaliação sobre as ações e seus impactos.