Um novo relatório da Kaiser Family Foundation, (Fundação da Família Kaiser, na tradução livre para o português) e UNAIDS conclui que as despesas de governos doadores para combater o HIV em países de baixa e média renda totalizaram 7,8 bilhões de dólares em 2019, uma redução significativa em relação aos 8 bilhões de dólares em 2018 e quase o mesmo que os níveis de financiamento de uma década atrás.
Metade dos 14 governos doadores analisados no estudo diminuíram seus gastos em esforços globais de HIV de 2018 a 2019; seis aumentaram; e um manteve o investimento. O financiamento dos governos doadores apoia os cuidados e tratamento do HIV, prevenção e outros serviços em países de baixa e média renda.
A redução no orçamento foi impulsionada principalmente por uma diminuição no financiamento bilateral dos Estados Unidos, devido ao financiamento estável do congresso por vários anos e um encolhimento do funil de financiamento para programas, bem como o cronograma de desembolsos. A redução também pode ser atribuída à diminuição do financiamento de outros doadores, embora em menor grau. Mesmo que os doadores tenham aumentado as contribuições multilaterais para UNAIDS, UNITAID e Fundo Global contra a AIDS, Tuberculose e Malária, em mais de US$ 100 milhões, esses ganhos não foram suficientes para compensar a redução no financiamento bilateral. Desde 2010, o financiamento de governos doadores, exceto os EUA, diminuiu em mais de US$ 1 bilhão, em grande parte devido à redução do apoio bilateral ao HIV.
Mesmo com sua redução de financiamento, os Estados Unidos continuam sendo o maior governo doador mundial para o HIV, desembolsando 5,7 bilhões de dólares em 2019 e ocupando o primeiro lugar em financiamento em relação ao tamanho de sua economia. O segundo maior doador é o Reino Unido (646 milhões de dólares), seguido pela França (287 milhões de dólares), Holanda (213 milhões de dólares) e Alemanha (180 milhões de dólares).
Esses dados alimentam o relatório global do UNAIDS, que examina todas as fontes de financiamento para o alívio do HIV. A análise compara os recursos necessários para atingir as metas relacionadas a testagem e tratamento e inclui governos locais, organizações não governamentais e o setor privado. O UNAIDS estima que os recursos necessários até o final de 2020 são de 26,2 bilhões de dólares, em comparação com 19,8 bilhões de dólares atualmente disponíveis, deixando uma lacuna de bilhões de dólares. Essa lacuna aumentou nos últimos anos, à medida que o número de pessoas vivendo com HIV em países de baixa e média renda aumentou 25% na última década e o número de novas infecções por HIV continua alto.
“Cada dólar não investido hoje contribui para mortes relacionadas à AIDS e novas infecções por HIV”, disse Winnie Byanyima, diretora-executiva do UNAIDS. “Em um mundo caracterizado por enormes desigualdades, devemos aumentar os investimentos para a concretização do direito à saúde. É uma responsabilidade compartilhada, exigindo mais financiamento de doadores e recursos internos, incluindo a liberação de espaço fiscal por meio do cancelamento da dívida.”
“Os governos doadores continuam se afastando do financiamento de programas de HIV em países de baixa e média renda, enquanto o número de pessoas vivendo com HIV continua a crescer”, disse o vice-presidente sênior da KFF, Jen Kates. “É provável que esta situação se torne mais precária em 2020 e além, à medida que os efeitos da COVID-19 impactem os orçamentos dos doadores governamentais e afetem cada vez mais a saúde e as economias em todo o mundo”.
O novo relatório, produzido como uma parceria de longa data entre o KFF e o UNAIDS, fornece os dados mais recentes disponíveis sobre o financiamento de governos doadores baseado em dados fornecidos pelos governos. O documento inclui assistência bilateral a países de baixa e média renda e contribuições para o Fundo Global, UNAIDS e UNITAID. “Financiamento do governo doador” refere-se a desembolsos ou pagamentos feitos por doadores.