A região do Pacífico tem uma das maiores taxas de violência baseada em gênero do mundo. Pesquisas nacionais mostram que 72% das mulheres de Fiji sofrem violência de gênero, em comparação com a média global de 35%. As mulheres da região também têm baixa representação em posições de liderança—dos 560 parlamentares do Pacífico, 48 são mulheres, e apenas 10 são mulheres Fijianas.
Para além desses impactos socioculturais está a emergência climática. Em resposta, as mulheres do Pacífico estão exigindo mais envolvimento na tomada de decisões relacionadas ao clima e se engajando totalmente nas respostas climáticas.
Komal Narayan, ativista da justiça climática de Fiji, ficou fascinada durante seu programa de pós-graduação em estudos de desenvolvimento, sobre como as mudanças climáticas se sobrepunham à ética e à política. “Os efeitos das mudanças climáticas são sentidos de maneira mais aguda pelas pessoas menos responsáveis por causar o problema”, explicou. Isso a motivou a ser mais ativa e a falar sobre o assunto, o que levou à sua participação, juntamente com outros jovens delegados de Fiji, na 23ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em Bonn, Alemanha, em 2017.
“Meu objetivo na vida é fazer parte de uma sociedade focada em abordar as questões de justiça climática, incentivar e motivar os jovens a se envolverem mais nesse espaço, pois acredito que esse assunto não é apenas seu ou meu, mas uma questão que está no coração de todo o Pacífico ”, disse Narayan.
Narayan também foi uma das pessoas que recebeu o Green Ticket para a Cúpula da Juventude pelo Clima das Nações Unidas, que aconteceu em setembro de 2019. Ela esteve envolvida em um diálogo liderado por jovens com o Secretário-Geral das Nações Unidas.
“Como doadoras da vida, mães dedicadas, irmãs atenciosas, influenciadoras domésticas e contribuintes ativas para o desenvolvimento socioeconômico, nós mulheres temos o poder de dar impulso ao movimento climático global”, disse Narayan. “Já era hora de mulheres e meninas terem oportunidades iguais e acesso igual a recursos e tecnologia para poder lidar com a justiça climática. Os países, especificamente o governo e a sociedade civil, devem desempenhar um papel fundamental nisso. ”
AnnMary Raduva, uma estudante de 11 anos da Escola Secundária Saint Joseph em Suva, Fiji, acredita que a justiça climática deve reconhecer a conexão entre os seres humanos e o meio ambiente e quão vulneráveis somos se não fizermos algo hoje.
“Na região do Pacífico, nossas comunidades indígenas dependem intimamente da diversidade ecológica para subsistência, além de também depender economicamente. Essa dependência torna nosso povo sensível aos efeitos de eventos climáticos extremos, e não podemos ignorá-los. Temos um relacionamento próximo com o nosso entorno e somos profundamente espiritualizados e culturalmente conectados ao meio ambiente e ao oceano, e esse relacionamento nos coloca em posição de antecipar, preparar e responder aos impactos das mudanças climáticas ”, afirmou Raduva.
Em 2018, ela escreveu ao primeiro-ministro de Fiji pedindo que ele revisse a Lei de 2008 que trata do Lixo de Fiji para classificar o lançamento de balões como lixo. Raduva logo percebeu que falar sobre a liberação de balões não era suficiente e que ela precisava encontrar alternativas ecológicas para ampliar sua mensagem. Logo ela teve a idéia de plantar manguezais ao longo da costa de Suva.
Desde 2018, ela iniciou seis atividades de plantio e plantou mais de 18.000 mudas de mangue. Ela foi convidada para ir à Nova York, EUA, em setembro de 2019, para marchar pela justiça climática em um evento do United for Climate Justice (Unidos pela Justiça Climática), organizado pela Fundação para Estudos Progressivos Europeus. Ela se colocou em solidariedade com as comunidades indígenas que estão na vanguarda da mudança climática à medida que avança na região do Pacífico.
Raduva enfrentou discriminação como uma jovem ativista e foi ridicularizada por ser uma “menina ingênua”. Lhe disseram que não deveria falar sobre mudanças climáticas porque o ativismo é reservado para meninos e adultos. No entanto, ela acredita que garantir a participação de mulheres, crianças, pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais e outras minorias nas negociações sobre mudanças climáticas é uma prioridade para qualquer instituição ou organização que tenha como objetivo defender questões relacionadas às mudanças climáticas.
Varanisese Maisamoa é uma sobrevivente do ciclone Winston, que em 2016 foi um dos mais poderosos desastres naturais de Fiji. Em 2017, ela formou a Associação de Feirantes de Rakiraki, trabalhando com o projeto Markets for Change da ONU Mullheres—”Queremos capacitar nossas vendedoras a serem resilientes ao clima”, disse ela. Por meio do treinamento de liderança da ONU Mulheres, ela aprendeu a ter confiança ao falar sobre os problemas que afetam às feirantes e a negociar com a gerência do conselho de mercado.
Maisamoa representou sua associação no projeto da reconstrução do mercado de Rakiraki, que agora apresenta infraestrutura resiliente a um ciclone de categoria 5, um sistema de captação de águas pluviais, drenagem resistente a inundações e um design sensível ao gênero.
Narayan, Raduva e Maisamoa estão entre as mulheres do Pacífico que buscam mais voz e inclusão para mulheres e meninas na ação climática. Seu ativismo está trabalhando para reduzir a discriminação contra mulheres e meninas, o que resulta em desigualdades que as tornam mais propensas a serem expostas a riscos e perdas induzidas por desastres em seus meios de subsistência, e a criar resiliência para as mulheres se adaptarem às mudanças no clima.
*A história de Maisamoa foi republicada com a permissão do projeto Markets for Change da ONU Mulheres, que é uma iniciativa multinacional para mercados seguros, inclusivos e não discriminatórios nas áreas rurais e urbanas de Fiji, Ilhas Salomão e Vanuatu. Ela promove a igualdade de gênero e o empoderamento econômico das mulheres. Implementado pela ONU Mulheres, o Markets for Change é financiado principalmente pelo governo da Austrália e, desde 2018, a parceria do projeto se expandiu para incluir apoio financeiro do governo do Canadá. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é um parceiro do projeto.