Um apanhado de três décadas de história do HIV e da AIDS no Brasil estará nos cinemas de todas as capitais do país entre os meses de setembro e outubro. O documentário Carta para Além dos Muros, dirigido por André Canto, teve sua estreia nacional no dia 26/9. O filme mostra a cronologia da epidemia de HIV no país por meio de relatos de especialistas e ativistas de diversas gerações e é conduzido por uma narrativa inspirada no trabalho de Caio Fernando de Abreu, que deu nome ao filme.
Através da costura desta complexa colcha de retalhos, o filme investiga e expõe o estigma e a discriminação como produtos de uma sociedade que insiste em manter marginalizadas as pessoas que vivem com HIV, mesmo 30 anos depois do início da epidemia.
Confira fotos da estreia:
O longa tem cerca de uma hora e meia de duração e reúne depoimentos de mais de 30 pessoas que fazem parte dessa história, como o médico e escritor Drauzio Varella, a mãe do cantor Cazuza, Lucinha Araújo, os ex-ministros da Saúde José Serra e José Gomes Temporão, além de pessoas que vivem com HIV e trabalham para acabar com o estigma, como Gabriel Estrela e Gabriel Comicholi, youtubers e participantes dos projetos do UNAIDS “Deu Positivo, e Agora?” (2018) e “#DesafioUNAIDS” (2017). O filme também conta com o depoimento da médica que identificou o primeiro caso de AIDS no Brasil, a dermatologista Valéria Petri.
Confira cenas do filme Carta para Além dos Muros:
“Ao olhar para o passado, a gente consegue entender esse processo. Tudo foi tratado com tanto sensacionalismo pela imprensa e pela sociedade em geral, que essas imagens ficaram impregnadas nas nossas lembranças”, conta o diretor André Canto. “É uma construção social muito difícil de quebrar, mas o objetivo é colaborar com todas as ações realizadas nessa tentativa de enfrentar o estigma e o preconceito.”
O UNAIDS é parceiro institucional na produção do filme e também ofereceu apoio técnico na fase de produção do documentário. Para o diretor interino do UNAIDS no Brasil, Cleiton Euzebio de Lima, o apoio a produções culturais que abordam o HIV é importante para estimular uma conversa aberta, em toda a sociedade.
“Temos vivido, nos últimos anos, uma revolução no campo da medicina, da ciência e das tecnologias. Hoje a gente precisa que essa revolução se reflita também na área social e de direitos humanos”, destaca. “E esses avanços na área social não dependem de uma pílula ou tecnologia, mas especialmente de que todas as pessoas, em todos os lugares, falem mais sobre o HIV e se disponham a aprender mais sobre o tema, sem tabus, sem estigma e ou discriminação. Isso pode ser feito por diversas frentes, e a cultura é uma área que possibilita que esse diálogo alcance um público que muitas vezes não participa da discussão do HIV.”
Precisamos falar sobre isso
O documentário é o primeiro do gênero a refazer a cronologia do HIV e da AIDS no país e encabeça o projeto #PrecisamosFalarSobreIsso, que também conta com uma série documental para a TV e um livro-reportagem, que relatará todo o processo de pesquisa e realização.
Como parte desta iniciativa mais ampla e com objetivo de contribuir com a conscientização sobre a importância da testagem para HIV, a semana de lançamento de Carta para Além dos Muros contou com ações de testagem rápida para HIV, sífilis e hepatite B nas salas do circuito Itaú Cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Salvador. A ação foi realizada em parceria com a empresa Hi Technologies, que conta com um dispositivo que realiza exames de sangue a distância, através da Internet. Profissionais do sistema público de saúde e voluntários de ONGs especialistas no tema fizeram o acompanhamento, aconselhamento e acolhimento das pessoas interessadas na testagem ou que desejassem mais informações.
Confira fotos da testagem na sessão especial de Brasília:
Caio Fernando de Abreu
O documentário é uma homenagem ao renomado escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, que vivia com HIV e, em 1994, revelou publicamente sua sorologia. Ele falou sobre o HIV em uma série de crônicas para sua coluna no jornal “O Estado de S. Paulo”, chamada Carta para Além dos Muros. O autor escreveu abertamente sobre o assunto quando foi internado em decorrência de complicações da AIDS. “O nosso filme é uma nova carta, em 2019, porque acredito que esse muro ainda está de pé e a gente precisa atravessá-lo”, afirma André Canto.
O escritor brasileiro Caio Fernando Abreu morreu em 1996 por complicações decorrentes da AIDS.
“Olha, estou escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem sempre que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa”, trecho da primeira crônica Carta para Além dos Muros, de Caio Fernando Abreu, em 1994.
Assista ao trailer do documentário
Confira a programação até 9 de outubro:
São Paulo – Espaço Itaú Augusta – 21h30
Rio de Janeiro – Espaço Itaú Botafogo – 18h
Brasília – Espaço Itaú Casa Park – 13h20
Salvador – Espaço Itaú Glauber Rocha – 14h50
Belo Horizonte – Cine Belas Artes – 14h
Aracaju – Cine Vitória – Segunda – 14h
Vitória – Cine Metrópolis – Domingo – 14h30, Quarta – 16h
As próximas cidades a receber o filme serão Palmas, Manaus, Belém, Rio Branco, Goiânia, Fortaleza, Recife, Maceió e João Pessoa.